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 As cisternas rotas da Patrística

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MensagemAssunto: A Patrística   As cisternas rotas da Patrística Empty19/4/2008, 5:42 pm

Pablo e os Padres de la iglesia primitiva.

Estava lendo um artigo muito longo no link acima, sobre Paulo e os pais da igreja primitiva. É muito interessante, para voce ler é só clicar no artigo que diz:

O artigo esta em formato PDF e será necessário baixar o programa Adobe Acrobat Reader. Caso você já tenha o programa é ó clicar no link e fazer o download, está em espanhol. Por esse motivo pediria ao Professor para traduzi­-lo, se possí­vel. Aqui esta uma pequena parte que copiei do texto:

Houve um tempo em que homens como Inacio usurparam a autoridade da Torah em suas igrejas, perdendo toda esperanca do cumprimento da Torah em suas congregacoes. Ao julgar pelos escritos da Ignacio (107EC) esta claro que o modelo para o governo da igreja era um reflexo fiel do governo romano. A autoridade emanada de Jesus Cristo ao bispo, a continuacao aos ancioes e diacanos. Posto que o bispo ao parecer falava em lugar de Cristo, que eh o Filho de D’us, e opor-se ao bispo era opor-se a D’us mesmo. A Eucaristia, o batismo, e a assembleia comum deveriam levar-se ao cabo tao somente quando e onde o bispo ordenasse e posto que Inacio indica claramente que cada um destes costumes eram necessarios para salvacao, as pessoas estavam obrigadas a obedecerem os mandamentos dos bispos, ou do contario se arriscavam a perder sua alma . Tendo em conta que os bispos haviam ordenado que o domingo era o dia apropiado para a assembleia comum e que somente em este dia deviam ser os sacramentos ordenados de maneira efectiva, a pessoa so podia ser salva adorando no Domindo. Mediante este ato os bispos estavam pisoteando baixo seus pes a Torah de D’us e seus Pactos.

http://www.torahresource.com/Spanish.html
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MensagemAssunto: Re: As cisternas rotas da Patrística   As cisternas rotas da Patrística Empty19/4/2008, 5:42 pm

A Conspiração de Inácio: A Origem do “Cristianismo”

Por James S. Trimm (Traduzido por Sha’ul Bentsion)

Muitos se enganam em pensar que Constantino foi o principal responsável pela corrupção e gentilização do Cristianismo. Apesar de Constantino ter certamente acrescentado e consolidado a apostasia do Cristianismo primitivo, ele não foi o primeiro. Foi na realidade Inácio de Antioquia que se rebelou contra o Concí­lio de Jerusalém, usurpou sua autoridade, segregou-se do Judaismo, declarou que a Torá havia sido abolida, substituiu o Shabat do sétimo dia pela adoração no domingo e fundou uma nova religião não-judaica, a qual ele chamou de “Cristianismo.”

O ALERTA DE PAULO ACERCA DOS BISPOS

Paulo disse aos efésios em sua última visita a eles:

“Cuidai pois de suas almas e de todo o rebanho sobre o qual a Ruach HaKodesh vos constituiu supervisores, para apascentardes a Kehilá de Elohim, que Ele adquiriu com seu próprio sangue. Eu sei que depois da minha partida entrarão no meio de vós lobos cruéis que não terão pena do rebanho, e que dentre vós mesmos se levantarão homens, falando coisas perversas para desviar os talmidim, para que os sigam.” (Atos 20:28-30)

Paulo parece indicar que após sua morte, lí­deres começariam a se levantar dentre os supervisores [bispos] em seu lugar, e levariam pessoas a os seguirem e a se afastarem da Torá. Na realidade, Paulo morreu em 66 DC e o primeiro supervisor (bispo) de Antioquia a tomar o cargo após a sua morte foi Inácio, em 98 DC. Inácio cumpriu com precisão as palavras de Paulo. Depois de tomar o cargo de bispo sobre Antioquia, Inácio enviou uma série de epí­stolas a outras congregações. Suas cartas aos efésios, magnésios, trálios, romanos, filadelfenos, e esmirneus, bem como sua carta pessoal a Policarpo, todas sobrevivem até hoje.

HEGÉSIPO RECONTA A APOSTASIA

O historiador e comentador nazareno antigo Hegésipo (cerca de 180DC) escreve acerca do tempo imediatamente após a morte de Shimon (Simão), o qual havia sucedido a Ya’akov HaTsadik (Tiago, o Justo) como Nassi (“Presidente”) do Sanhedrin Nazareno, e que morreu em 98 DC:

“Até aquele perí­odo (98 DC), a Assembléia havia permanecido como uma virgem pura e incorrompida: pois, se havia quaisquer pessoas dispostas a alterar a regra completa da proclamação da salvação, elas ainda vagavam em um lugar obscuro oculto ou outro. Mas, quando o bando sagrado de Emissários havia de várias formas findado suas vidas, e a geração dos homens havia sido confiado ouvir à Sabedoria inspirada com seus próprios ouvidos passou, então a confederação do erro da iniquidade tomou ascenção através da infidelidade dos falsos mestres que, vendo que nenhum dos emissários ainda sobrevivia, levantaram suas cabeças para se opor à proclamação da verdade, proclamando algo falsamente chamado de conhecimento.” (Hegésipo, o Nazareno; c. 98 DC; citado por Eusébio em Hist. Ecl. 3:32)

Hegésipo indica que a apostasia começou no mesmo ano que Inácio se tornou bispo de Antioquia!

INÁCIO SEPARA-SE DO CONCÍLIO DE JERUSALÉM

Até o tempo de Inácio, qualquer disputa que surgisse em Antioquia por fim era levada ao Concí­lio de Jerusalém (tal como em Atos 14:26-15:2). Inácio usurpou a autoridade do Concí­lio de Jerusalém, declarando a si mesmo, o bispo local, como sendo a autoridade final sobre a assembléia que o havia feito bispo, e semelhantemente declarando isto ser verdade acerca de todos os outros bispos e suas assembléias locais. Inácio escreve:

“...sujeitando-se ao seu bispo... ...andem juntos conforme a vontade de D-us. Jesus... é enviado pela vontade do Pai; Assim como os bispos... são [enviados] pela vontade de Jesus Cristo.”] (Carta de Inácio aos Ef. 1:9,11)

“...seu bispo... penso que felizes são vocês que se unem a ele, assim como a igreja o é a Jesus Cristo e Jesus Cristo o é ao Pai... Vamos portanto cuidar para que não nos coloquemos contra o bispo, para que nos sujeitemos a D-us. Devemos olhar para o bispo tal como olharí­amos para o próprio S-nhor.” (Carta de Inácio aos Ef. 2:1-4)

“...obedeça ao seu bispo...” (Carta de Inácio aos Mag. 1:7)

“Seu bispo está presidindo no lugar de D-us... ...unam-se ao seu bispo...” (Carta de Inácio aos Mag. 2:5,7)

“...aquele...que faz qualquer coisa sem o bispo... não é puro em sua consciência...” (Carta de Inácio aos Tral. 2:5)

“...Não faça nada sem o bispo.” (Carta de Inácio aos Fil. 2:14)

“Cuidem para que vocês sigam o seu bispo, Assim como Jesus Cristo ao Pai...” (Carta de Inácio aos Esm. 3:1)

Ao exaltar o poder do ofí­cio do bispo (supervisor) e exigir a absoluta autoridade do bispo sobre a assembléia, Inácio estava na realidade fazendo uma jogada para obter o poder, tomando a autoridade absoluta sobre a assembléia de Antioquia e encorajando outros supervisores não-judeus a fazerem o mesmo.

INÁCIO DECLARA QUE A TORÁ FOI ABOLIDA

Além disso, Inácio afastou os homens da Torá e declarou que a Torá havia sido abolida, não somente em Antioquia, mas em todas as assembléias de não-judeus para as quais escreveu:

“Não sejam enganados por doutrinas estranhas; nem por fábulas antigas sem valor. Pois se continuarmos a viver conforme a Lei Judaica, estamos confessando que não recebemos a graça...” (Carta de Inácio aos Mag. 3:1)

“Mas se alguém pregar a Lei Judaica a vocês, não lhe dêem ouvidos...” (Carta de Inácio aos Fil. 2:6)

INÁCIO SUBSTITUI O SHABAT PELA ADORAÇÃO DOMINICAL

Foi Inácio quem primeiro substituiu o Shabat do sétimo dia pela adoração dominical, escrevendo:

“...não mais observem os Shabatot, mas observem o dia do Senhor, no qual também a nossa vida floresce nEle, através da Sua morte...” (Carta de Inácio aos Mag. 3:3)

INÁCIO DÁ UM NOME À SUA NOVA RELIGIÃO

Tendo usurpado a autoridade de Jerusalém, declarado a Torá abolida, e substituí­do o Shabat pelo domingo, Inácio criou uma nova religião. Inácio então cunha um novo termo, nunca antes utilizado, para essa nova religião que ele chama de “Cristianismo”, a qual ele mesmo deixa claro que é distinta do Judaí­smo. Ele escreve:

“Vamos portanto aprender a viver conforme as regras do Cristianismo, pois quem quer que seja chamado por qualquer outro nome além desse, esse não é de D-us...

“É absurdo nomear Jesus Cristo e Judaizar. Pois a religião cristã não abraçou a judaica. Mas a judaica [abraçou] a cristã...” (Carta de Inácio aos Mag. 3:8,11)

CONCLUSÃO

Ao final do primeiro século, Inácio de Antioquia havia cumprido o alerta de Paulo. Ele abandonou o Judaismo e fundou uma nova religião a qual chamou de “Cristianismo” .Uma religião que rejeitou a Torá, e substituiu o Shabat do sétimo dia pela adoração dominical...

Fonte: http://accio.com.br/Nazare/1946/trindd04.htm
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MensagemAssunto: Re: As cisternas rotas da Patrística   As cisternas rotas da Patrística Empty19/4/2008, 5:43 pm

JUSTINO MÁRTIR


por SAMUELE BACCHIOCCHI


Filósofo e mártir cristão, de cultura e origem grega, Justino Martyr nos oferece o primeiro tratado amplo do sábado e a primeira descrição detalhada do culto dominical. A importância de seu testemunho deriva, acima de tudo, do fato de que nosso autor, um filósofo treinado e professor, no tratamento do problema do sábado, como observa F. Regan, “esforça-se, deveras, por uma conclusão perceptiva e equilibrada”.[30] E, mais ainda, como vivesse, ensinasse e escrevesse sua Apologia e Diálogo com Trifo em Roma, sob o reinado de Antonino Pius (138-161 A.D.) ele nos dá um vislumbre de como o problema do sábado e do domingo era sentido na cidade capital.[31] Sua contribuição de ambos é deveras valiosa à nossa investigação.

A atitude de Justino para com o sábado judaico aparece condicionada tanto por seu conceito da Lei Mosaica, como por seu sentimento para com os judeus--este possivelmente evidenciou aquele. Barnabé, de origem judaica, com seu método alegórico tentou esvaziar tais instituições judaicas como o sábado e a circuncisão de todo o seu valor temporal e histórico, atribuindo-lhes significado espiritual e escatológico exclusivos. Justino, pelo contrário, sendo de origem gentia, ignorava o valor moral e corporal da legislação mosaica, e considerava a lei, como James Parkes declara, “uma parte das Escrituras, sem importância, um acréscimo temporário a um livro doutro modo universal e eterno, acrescentado em virtude da especial impiedade dos judeus”.[32] Por exemplo, para Trifo, Justino explica: Nós também observarí­amos a circuncisão da carne, os dias de sábado, numa palavra, todas as suas festividades, se não soubéssemos a razão do porquê lhes foram impostas, a saber, por causa de seus pecados e dureza de coração.[33]
Conquanto Paulo reconheça o valor educativo da lei cerimonial, Justino considera-a “de um modo negativo, como a punição para os pecados de Israel”[34]. Ele confirma sua tese repetidamente. Após argumentar, por exemplo, que os homens santos anteriores a Moisés[35] não observaram nem o sábado nem a circuncisão, conclui: “Portanto, devemos concluir que Deus, que é imutável, ordenou estas coisas e outras similares, para serem feitas unicamente por causa dos homens pecaminosos”.[36] O sábado, então, segundo Justino, é uma ordenança temporária, originando-se em Moisés, imposta aos judeus por causa de sua infidelidade, por algum tempo, precisamente até a vinda de Cristo.[37]

A aceitação desta tese é indispensável para Justino, a fim de salvaguardar a imutabilidade e ocorrência de Deus. Ele explica: Se não aceitamos esta conclusão, então teremos idéias absurdas, como a insensatez de que nosso Deus não é o mesmo Deus que existiu nos dias de Enoque e todos os outros, que não eram circuncidados na carne, e não observavam os sábados e outros ritos, uma vez que Moisés somente mais tarde os instituiu; ou que Deus não deseja que cada geração que sucede da humanidade sempre execute os mesmos atos de justiça. Qualquer uma das suposições é ridí­cula e despropositada. Portanto, devemos concluir que Deus, que é imutável, ordenou que estas coisas e outras semelhantes fossem cumpridas apenas por causa de homens pecadores.[37]

A Igreja Cristã jamais aceitou tese tão falsa. Dizer, por exemplo que Deus ordenou a circuncisão e o sábado unicamente por causa da impiedade dos judeus “como marcos distintivos, para destacá-los de todas as outras nações e de nós, cristãos” para que os judeus somente sofressem aflição,”[38] torna a Deus culpado, para dizer o mí­nimo, de atos discriminatórios. Deixaria implí­cito que Deus deu ordenanças com o propósito primordialmente negativo de destacar judeus para a punição. Infelizmente, é com este pensamento que Justino argumenta pelo repúdio do sábado. O que segue, são os seus argumentos básicos:

(1º) Como, “antes de Moisés não havia necessidade de sábados e festivais, não são necessários agora, quando, segundo a vontade de Deus, Jesus Cristo, seu Filho, nasceu da virgem Maria, uma descendente de Abraão”.[39] O sábado é, portanto, considerado por Justino como uma ordenança temporária, procedente de Moisés, imposto aos judeus por causa de sua infidelidade, e designado a durar até a vinda de Cristo.

(2º) Deus não pretende que o sábado seja guardado, pois “os elementos não estão ociosos e não observam o sábado”,[40] e Ele mesmo “não pára de controlar o movimento do universo neste dia, mas continua dirigindo-o como o faz em todos os outros dias”.[41] Além do mais, o mandamento do sábado foi violado no Velho Testamento por muitos, tais como os principais sacerdotes que “foram ordenados por Deus a oferecer sacrifí­cios no sábado, bem como nos outros dias”.[42]

(3º) Na nova dispensação, os cristãos devem observar um sábado perpétuo, não ao ficarem ociosos durante um dia, mas ao absterem-se continuamente do pecado: A Nova Lei exige que observeis um sábado perpétuo, visto que vos considerais piedosos quando vos abstendes do trabalho em um dos dias da semana, e ao assim fazerdes, não compreendeis o real significado daquele preceito. Também achais ter feito a vontade de Deus quando comeis pão não levedado, porém tais práticas não dão prazer ao Senhor nosso Deus. Se houver um perjuro ou ladrão entre vós, que ele acerte seu caminho; se houver um adúltero, que se arrependa; assim estará guardando um sábado verdadeiro e pací­fico.[43]

(4º) O sábado e a circuncisão não devem ser observados, pois são os sinais da infidelidade dos judeus, impostos a eles por Deus, para distingui-los e separá-los de outras nações: O costume da circuncisão da carne, dado desde Abraão, foi dado a vós como uma marca distintiva, para separá-los de outras nações e de nós, cristãos. O propósito foi que vós, e somente vós, pudésseis sofrer as aflições que agora são vossas com justiça; que somente a vossa terra seja desolada, e vossas cidades arruinadas pelo fogo, e que os frutos de vossa terra sejam comidos pelos estrangeiros perante os vossos olhos; para que a nem um de vós se permita entrar em vossa cidade de Jerusalém. Vossa circuncisão da carne é o único sinal pelo qual podeis certamente ser distinguidos entre todos os outros homens. . . . Como declarei antes, foi por causa de vossos pecados e de vossos pais que, entre outros preceitos, Deus impôs sobre vós a observância do sábado como um sinal.[44]

Pode-se perguntar o que faria Justino atacar instituições tais como o sábado e a circuncisão, e fazer delas--sí­mbolos do orgulho nacional judeu--o sinal da reprovação divina da raça judia. É possí­vel que este autor estivesse influenciado pelas intensas hostilidades antijudaicas que achamos presentes particularmente em Roma? Uma leitura do Diálogo deixa-nos em dúvida. Embora Justino aparentemente busque dialogar desapaixonada e sinceramente com Trifo,[45] sua descrição superficial e avaliação negativa do judaí­smo, juntamente com seus veementes ataques contra os judeus, revela a profunda animosidade e ódio que nutria para com eles. Ele não hesita, por exemplo, de tornar os judeus responsáveis pela campanha difamatória lançada contra os cristãos: “Não tendes poupado esforço algum em disseminar, em toda terra, acusações amargas, obscuras e injustas contra a única luz sem culpa e justa, enviado aos homens por Deus. . . . As outras nações não trataram a Cristo e a nós, seus seguidores, tão injustamente como vós, judeus, que deveras sois os próprios instigadores da opinião maligna que têm do Justo e de nós, Seus discí­pulos. . . . Sois culpados, não somente de vossa própria impiedade, mas também daquela de todos os demais”.[46]

A maldição que era diariamente pronunciada pelos judeus na sinagoga contra os cristãos, aparentemente contribuiu para aumentar a tensão. Justino protesta repetidamente contra tal prática: “Com toda a vossa força desonrais e amaldiçoais em vossas sinagogas todos aqueles que crêem em Cristo. . . . Em vossas sinagogas amaldiçoai todos aqueles por cujo intermédio se tornaram cristãos, e os gentios realizam vossa maldição, ao matarem todos aqueles que meramente admitem que são cristãos.[47]

As hostilidades judaicas contra os cristãos parecem ter conhecido intensos graus de manifestação em certas épocas. Justino diz, por exemplo: “Fazeis tudo ao vosso alcance para forçar-nos a negar a Cristo”.[48] Isto provocou uma compreensiva resistência e ressentimento da parte dos cristãos. “Nós vos resistimos e preferimos suportar a morte,” Justino replica a Trifo “confiantes de que Deus nos dará todas as bênçãos que prometeu por Cristo”.[49] A presença de ressentimento tão profundo contra os judeus, particularmente sentido em Roma, naturalmente levaria cristãos como Justino a lutarem contra instituições judaicas fundamentais como o sábado, e fazer dele, como F. Regan assinala, “um sinal para destacá-los para a punição que eles bem merecem por suas infidelidades”.[50]

Este repúdio e degradação do sábado pressupõe a adoção de um novo dia de adoração. Que melhor modo de evidenciar a distinção cristã dos judeus, que adotar um diferente dia de adoração? É fato digno de nota que em sua exposição do culto cristãos ao imperador Antonino Pius, Justino duas vezes destaca que a assembléia dos cristãos ocorria “no dia do Sol”: “No dia que se chama dia do sol (τη τω ηλιου λεγομενη ημερα) temos um ajuntamento comum de todos os que vivem nas cidades ou nos distritos vizinhos, e são lidas as memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas, sempre que houver tempo.

“O dia do Sol é, deveras, o dia em que nós todos fazemos nossa reunião rotineira, porque é o primeiro dia no qual Deus, transformando as trevas em matéria prima, criou o mundo; e nosso Salvador Jesus Cristo ressurgiu dos mortos no mesmo dia. Pois eles o crucificaram no dia anterior àquele de Saturno, e no dia seguinte que é o Dia do Sol, ele apareceu aos seus apóstolos e discí­pulos, e ensinou-lhes as coisas que também vos passamos para consideração”.[51]

Por que Justino enfatiza que os cristãos adoram “no dia do Sol”? Em vista de seu ressentimento para com os judeus e seu sábado, não é plausí­vel admitir que ele o fez para tornar o imperador ciente de que os cristãos não eram rebeldes judeus mas cidadãos obedientes? Tendo em mente, como será visto no próximo capí­tulo, que os romanos já naquela época veneravam o dia do Sol, a referência explí­cita e repetida de Justino a tal dia bem poderia representar um esforço calculado para levar os cristãos para mais perto dos costumes romanos que dos judeus. Isto parece fundamentado pelas mesmas razões que ele concede para justificar a observância do domingo. Sintetizaremos as três razões básicas como segue: (1ª) Os cristãos se reúnem no dia do Sol para comemorarem o primeiro dia da Criação “no qual Deus, transformando as trevas em matéria prima, criou o mundo”. (67, 7) O ví­nculo entre o dia do Sol e a criação da luz no primeiro dia é mera coincidência? Assim não parece, especialmente porque Justino mesmo, em seu Diálogo com Trifo explicitamente compara a devoção que os pagãos rendem ao sol, com aquela que os cristãos oferecem a Cristo que é mais radiante que o sol: “Está escrito que Deus uma vez permitiu que o sol fosse adorado, e, contudo, não podeis descobrir alguém que jamais sofresse morte por causa de sua fé no sol. Mas podeis achar homens de toda nacionalidade, que pelo nome de Jesus sofreram e ainda sofrem toda espécie de tormento, ao invés de negarem sua fé Nele. Pois sua palavra de verdade e sabedoria é mais radiante e brilhante do que a força do sol, e penetra as próprias profundezas do coração e da mente”.[52]

Os cristãos aparentemente perceberam cedo a coincidência entre a criação da luz no primeiro dia e a veneração do sol que ocorria no mesmo dia. Como bem assinala J. Daniélou, descobriu-se que o dia consagrado ao sol coincidia com o primeiro dia da semana judaica e assim com o dia do Senhor cristão. . . . O domingo foi visto como uma renovação do primeiro dia de Criação”.[53] Perguntar-se-ia o que levou à associação dos dois temas. É possí­vel que os cristãos, em sua busca por um dia de adoração distinto do sábado judaico (o sinal da infidelidade judaica) percebessem no dia do sol, um substituto válido pois sua rica simbologia poderia eficazmente expressar a verdade cristã? Tal hipótese será examinada no capí­tulo seguinte.

(2º) Os cristãos adoram no dia do sol, porque é o dia em que “nosso Salvador Jesus Cristo ressurgiu dos mortos. . . . Pois eles o crucificaram no dia anterior àquele de Saturno, e no dia seguinte, que é domingo, apareceu aos seus apóstolos e discí­pulos” (67, 7). A ressurreição de Cristo já era sentida como motivo válido para reuniões no dia do sol para adorar a Deus. Contudo, como W. Rordorf admite, “na primeira Apologia de Justino (67, 7) o motivo primordial para a observância do domingo era comemorar o primeiro dia da Criação e somente secundariamente, também a ressurreição de Jesus”.54 A Ressurreição, apresentada tanto por Barnabé como por Justino como uma razão adicional para a guarda do domingo, tornar-se-á, entretanto, gradualmente o motivo fundamental para o culto no domingo.[55]

(3º) Os cristãos observam o domingo porque sendo o oitavo dia “possui uma certa importância misteriosa, que o sétimo dia não possuí­a”.[56] Por exemplo, Justino alega que a circuncisão era executada no oitavo dia porque era um “tipo de verdadeira circuncisão pela qual somos circuncidados do erro e da impiedade por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo que ressurgiu dos mortos no primeiro dia da semana”.[57] Além do mais, as oito pessoas salvas do dilúvio no tempo de Noé “eram figura daquele oitavo dia” (o qual, todavia, sempre primeiro em poder), em que nosso Senhor apareceu ressurreto dos mortos”.[58]

Notemos que enquanto em sua exposição do culto cristão ao imperador, Justino repetidamente enfatiza que os cristãos se reúnem no dia do Sol (possivelmente, como sugerimos, para aproximarem-se mais dos costumes romanos na mente do imperador), em sua polêmica com Trifo, o judeu, Justino denomina o domingo “oitavo dia”, como distinção e substituição do sábado do sétimo dia.[59] As duas diferentes designações bem poderiam sumariar dois significativos fatores que contribuí­ram para a mudança do sábado para o domingo, isto é, antijudaí­smo e paganismo, poderí­amos dizer que conquanto a aversão prevalecente para com o judaí­smo em geral e para com o sábado em particular ocasionaram o repúdio do sábado, a existente veneração pelo dia do sol orientou os cristãos em direção a esse dia, tanto para evidenciar sua incisiva distinção dos judeus como para facilitar a aceitação da fé cristã pelos pagãos. Esta conclusão se tornará cada vez mais clara nos dois próximos capí­tulos em que examinaremos a influência do culto do sol e a primitiva teologia do domingo.
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MensagemAssunto: Re: As cisternas rotas da Patrística   As cisternas rotas da Patrística Empty19/4/2008, 5:43 pm

[Conclusão do quadro anterior]


Referências

30. F. A. Regan, Dies Dominica, p. 26.

31. Eusebius, HE 4, 12, 1: “Ao imperador Tito Aelius Adrian Antoninus Pius Caesar Augustus. . . . Eu, Justino, filho de Prisco . . . apresento esta petição”; Johannes Quasten (nota 16), p. 199, com referência às duas Apologias, escreve: “Ambas as obras são endereçadas ao Imperador Antoninus Pius. Parece que S. Justino as compôs entre os anos 148-161, por que observa (Apology 1, 46): “Cristo nasceu há cento e cinqüenta anos sob o domí­nio de Quirinus”. O lugar de composição era Roma”. Com respeito ao Dialogue, Quasten observa: “O Dialogue deve ter sido composto depois das Apologias, por que há uma referência à primeira Apology no capí­tulo 120” (Ibid., p. 202). Ainda que Eusébio (HE 4, 18, 6) indique Éfeso como o lugar onde a conversação se deu, provavelmente na época da revolta Barkokeba, mencionada nos capí­tulos 1 e 9 do Dialogue, é evidente que o Dialogue não relata a controvérsia exata, ocorrida cerca de 20 anos antes. Pareceria razoável presumir que Justino faz de uma controvérsia real que teve meramente a estrutura de seu Dialogue, que, contudo, escreve à luz da situação em Roma naquela época. O fato de que escreve o Dialogue em Roma e não em Éfeso, vinte anos após sua ocorrência, indica a necessidade que Justino sentia de apanhar a pena e defender o Cristianismo das acusações judaicas em Roma.

32. James Parkes (nota 19), p. 101; cf. Dialogue 19 e 22.

33. Justin, Dialogue 18, 2, Falls, Justin’s Writings, p. 175.

34. W. Rordorf, Sabbat, p. 37, nota 1.

35. No capí­tulo 19 do Dialogue, Justino cita especificamente Adão, Abel, Noé, Ló e Melquisedeque. No capí­tulo 46 ele dá uma lista de nomes de certo modo diferente.

36. J. Daniélou, Bible and Liturgy, p. 234, comenta o raciocí­nio de Justino dizendo: “Podemos ver desde o princí­pio que Deus poderia suplantar o sábado sem contradizer-se de modo algum, pois foi levado a instituí­-lo apenas porque foi forçado a fazer assim por causa da perversidade do povo judeu, e em conseqüência, tinha o desejo de fazê-lo desaparecer tão logo realizasse seu propósito de educação”.

37. Justin, Dialogue 23, 1, 2, Falls, Justin’s Writings, p. 182.

38. Justin, Dialogue 16, 1, e 21, 1.

39. Justin, Dialogue 23, 3 Falls, Justin’s Writings, p. 182.

40. Loc. cit.

41. Justin, Dialogue 29, 3.

42. Justin, Dialogue 12, 3, Falls, Justin’s Writings, p. 166.

44. Justin, Dialogue 16, 1 e 21, 1, Falls, Justin’s Writings, pp. 172, 178. A menção da circuncisão e do sábado por Justino, como marcos distintivos com o propósito de proibir os judeus de “entrarem na vossa cidade de Jerusalém” (Dialogue 16), parece ser uma referência implí­cita ao decreto de Adriano que proibiu todo judeu de entrar na cidade, (cf. Dialogue 19, 2-6; 21, 1; 27, 2; 45, 3; 92, 4); no capí­tulo 92 do Dialogue, a referência ao edito de Adriano é muito mais explí­cita. Justino até diz de modo claro que a circuncisão e o sábado foram dados porque “Deus em sua presciência sabia que o povo (isto é, os judeus) mereceria ser expulso de Jerusalém para jamais ter permissão de entrar lá”. (Falls, Justin’s Writings, p. 294): Pierre Prigent também comenta que, segundo Justino, a circuncisão e o sábado foram dados a Abraão e a Moisés por que “Deus previu que Israel mereceria ser expulso de Jerusalém e não ser permitido que habitassem ali” (Justin et L’Ancien Testament, 1964, p. 265 e p. 251).

45. Alguém poderia argumentar que algumas das propostas amigáveis de Justino para os judeus são indí­cios não de tensão, mas de relacionamento amigável que existia entre os judeus e os cristãos. Justino não tece a possibilidade (que, entretanto, como ele admite, outros cristãos rejeitavam) de que os conversos judeus que continuavam observando a Lei Mosaica poderiam ser salvos, contanto que não persuadissem os gentios de fazer o mesmo? (Dialogue 47) Justino não chama aos judeus “irmãos” (Ibid., 96) e promete “remissão de pecados” àqueles que se arrependeram (Ibid., 94). Não diz Justino que a respeito do fato de que os judeus amaldiçoam os cristãos e os forçam a negar a Cristo, contudo “nós (isto é, os cristãos) oramos por vós para que possais experimentar a misericórdia de Cristo?” (Ibid., 96). Enquanto, por um lado, não pode ser negado que Justino orava pelos judeus e lhes apelava como indiví­duos a se arrependerem e a aceitarem a Cristo, por outro deve ser reconhecido que a preocupação de Justino para com a salvação de judeus sinceros não mudou seu status, como um povo, de inimigos a amigos. De fato, na próxima sentença do capí­tulo 96 do Dialogue, Justino explica a razão para a atitude do cristão: “Pois Ele (isto é, Cristo) instruiu-nos a orar a ti pelos nossos inimigos”. Não há dúvida quanto a serem os judeus os inimigos dos cristãos. Justino explica, contudo, que a atitude hostil dos judeus para com os cristãos não é outra senão a continuação de sua oposição histórica como a rejeição da verdade e dos mensageiros de Deus. No capí­tulo 133, por exemplo, após reiterar a atitude rebelde tradicional dos judeus para com os profetas, ele declara: “deveras, vossa mão está ainda erguida para fazer o mal, porque, embora haveis morto a Cristo, não vos arrependeis; ao contrário, odiais (sempre que o podeis) e nos matais . . . e não cessais de amaldiçoá-lo e àqueles que lhe pertencem, embora oremos por vós e por todos os homens, como fomos instruí­dos por Cristo, nosso Senhor, pois Ele ensinou-nos a orar até pelos nossos inimigos, e a amar aqueles que nos odeiam, e a abençoar aqueles que nos amaldiçoam”. (Falls, Justin’s Writings, pp. 354-355). Enquanto os cristãos oravam pela conversão dos judeus, reconheciam ao mesmo tempo, como Justino diz, que os judeus não se arrependeram e que, como um povo, eram “uma nação inútil, desobediente e infiel” (Dialogue 130). “Os judeus”, Justino afirma alhures, “são um povo cruel, insensato, cego, defeituoso, filhos em quem não há fé” (Dialogue 27). Tal avaliação negativa dos judeus e do judaí­smo reflete a existência de um conflito agudo tanto entre os judeus e cristãos como entre os judeus e o Império. Observamos, na verdade, como Justino interpreta o sábado e a circuncisão como as marcas da infidelidade impostas por Deus aos judeus para que somente eles pudessem sofrer punição e ser “expulsos de Jerusalém e jamais lhes permitir entrar ali”. (Dialogue 92, ver nota 44). Poderia ser digno de nota também que os apelos de Justino aos judeus no contexto de uma condenação sistemática de suas crenças e costumes é semelhante ao apelo de Celsus aos cristãos para participarem na vida pública e orarem pelo Imperador, no contexto da mas sistemática e veemente demolição das verdades fundamentais do cristianismo. Poderia ser que Justino e Celsus (ambos filósofos profissionais) usaram apelos sensatos para fazer com que seus ataques parecessem mais razoáveis?

46. Justin, Dialogue 17, Falls, Justin’s Writings, pp. 174, 173; o fato de que as autoridades judaicas ativamente se empenharam em publicar calúnias contra os cristãos está fundamentado (1) pela trí­plice repetição de acusação de Justino (cf. Dialogue 108 e 117); (2) pela reprovação semelhante feita por Orí­genes (Contra Celsum 6, 27; cf. ibid. 4, 32); (3) pelo testemunho de Eusébio que pretendia ter encontrado “nos escritos dos primeiros dias que as autoridades judaicas em Jerusalém enviaram apóstolos claros e categóricos aos judeus de toda a parte, anunciando a emergência de uma nova heresia hostil a Deus, e que estes apóstolos, revestidos de autoridade escrita, refutaram os cristãos em todos os lugares” (em Isaiam 18, 1 PG 24, 213A); (4) pelo debate entre o judeu e o cristão preservado por Celsus, que talvez contenha o mais completo catálogo de acusações tí­picas proferidas pelos judeus contra os cristãos naquela época. Para uma discussão adicional do papel dos judeus na perseguição dos cristãos, ver W. H. Frend, Martyrdom and Persecution in the Early Church, 1965, pp. 178-204.

47. Justin, Dialogue 16 e 96, Falls, Justin’s Writings, pp. 172, 299; o fato de que Justino se refere, em vários vezes, à maldição que era diariamente pronunciada contra os cristãos (ver capí­tulos 47; 93; 133) nas sinagogas, sugere que o costume era bem conhecido e divulgado naquela época. Epiphanius (Adversus haereses 1, 9) e Jerônimo (em Isaiam 52, 5) confirmam a existência de costume em seu tempo.

48. Justin, Dialogue 96, Falls, Justin’s Writings, p. 299, é digno de nota que, segundo Justino, prosélitos judeus, em comparação com os judeus étnicos preservavam um dupla porção de ódio pelos cristãos. Ele escreve: “Os prosélitos . . . blasfemam Seu nome, duas vezes mais que vós (isto é, os judeus) e também buscam torturar e matar a nós, os que cremos nEle, pois procuram seguir vosso exemplo em tudo” (Dialogue 122, Falls, Justin’s Writings, p. 337).

49. Justin, Dialogue 96.

50. F. A. Regan, Dies Dominica, p. 26; cf. Dialogue 19, 2-4; 21, 1; 27, 2; 45, 3; 92, 4.

51. Justin, Dialogue 67, 3-7, Falls, Justin’s Writings, pp. 106-107 (grifo nosso).

52. Justin, Dialogue 121, Falls, Justin’s Writings, p. 335; cf. Dialogue 64 e 128.

53. J. Daniélou, Bible and Liturgy, pp. 253 e 255, a relação causal entre o dia do Sol e a origem do domingo é investigada no próximo capí­tulo.

54. W. Rordorf, Sunday, p. 220.

55. O papel da Ressurreição na origem do domingo é considerado no capí­tulo IX.

56. Justin, Dialogue 24, 1.

57. Justin, Dialogue 41, 4.

58. Justin, Dialogue 138, 1; a referência ás “oito almas” ocorre no Novo Testamento em I Pedro 3:20 e II Pedro 2:5. J. Daniélou percebe uma justificativa para o oitavo dia mesmo na referência de Justino (cf. Dialogue 138) aos “quinze cúbitos” de água que cobriram as montanhas durante o dilúvio (“Le Dimanche comme huitième jour”, Le Dimanche, Lex Orandi 39, 1965, p. 65).

59. J. Daniélou, Bible and Liturgy, p. 257, comenta astutamente que o simbolismo do oitavo dia como primeiro dia “era usado pelos cristãos para exaltar a superioridade do domingo sobre o sábado”. Note-se que Justino usa o Velho Testamento, para sustentar tanto a tese de que o sábado era uma instituição temporária, introduzida como sinal de reprovação do povo judeu, como para provar a superioridade do domingo sobre o sábado. Os Pais da Igreja, veremos encontraram “prova” adicional no Velho Testamento para justificar a validade do oitavo dia e para usar seu simbolismo como um eficiente engenho polêmico/apologético na controvérsia sábado/domingo.
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MensagemAssunto: Re: As cisternas rotas da Patrística   As cisternas rotas da Patrística Empty19/4/2008, 5:43 pm

Que tal repetirmos o testemunho do ex-sacerdote católico canadense sobre o grande choque que teve que se empenhou em examinar a fundo essa literatura patrística? Vejamos o testemunho de Charles Chiniquy, famoso religioso católico canadense radicado nos EUA que foi confessor do Pres. Lincoln e que se converteu à fé Reformada, tratando da questão da Patrística:

Trata-se de um trecho interessante do livro de Chiniquy, 50 Years in the “Church” of Rome--The Conversion of a Priest [50 Anos na “Igreja” de Roma--A Conversão de um Sacerdote]. Ele viveu no século XIX e após sua conversão escreveu o volumoso livro onde levanta uma série incrível de fatos sobre doutrina e costumes da Igreja onde passou 50 anos de sua vida, sendo 25 dos mesmos como sacerdote.

Capítulo XLI

O trabalho mais desolador de um sincero sacerdote católico é o estudo dos Pais da Igreja. Ele não dá um passo no labirinto de suas discussões e controvérsias sem ver os sonhos de seus estudos teológicos e pontos de vista religiosos desaparecerem! Preso por um voto solene, de interpretar as Escrituras Sagradas somente segundo o unânime consenso dos Pais da Igreja, a primeira coisa que o angustia é sua absoluta falta de unanimidade na maior parte dos assuntos que discutem. O fato é que mais de dois terços do que um Pai escreveu é para provar que o que outro Pai escreveu é errado ou herético.

O estudante dos Santos Padres também descobre que muitos deles nem mesmo concordam com eles próprios. Muitas vezes confessam que estavam errados quando disseram isso ou aquilo; que mais tarde mudaram de opinião; que agora é que se apegam à verdade salvadora que anteriormente condenavam como um erro danoso! O que fazer com o voto solene de cada sacerdote diante desse fato inegável?

É verdade que nos meus livros teológicos católicos-romanos eu tinha longos trechos dos Pais, apoiando mui claramente e confirmando minha fé nesse dogmas. Por exemplo, tinha as liturgias apostólicas de São Pedro, São Marcos, e São Tiago, para provar que o sacrifício da missa, o purgatório, as orações pelos mortos, a transubstanciação, eram cridos e ensinados desde os tempos primitivos dos apóstolos. Mas qual não foi a minha desolação quando descobri que essas liturgias nada mais eram senão vis e audaciosas falsificações apresentadas ao mundo, por meus papas e minha Igreja, como verdades evangélicas. Eu não poderia encontrar palavras para expressar meu senso de vergonha e consternação.

Que direito tem a minha Igreja de ser chamada infalível, quando ela publicamente é culpada de tais mentiras?

Desde minha infância tem sido ensinado, bem como todos os católicos-romanos, que Maria é a mãe de Deus, e muitas vezes, todo dia, quando orando a ela, eu costumava dizer, “Santa Maria, mãe de Deus, rogai por mim”. Mas qual não foi minha angústia quando li no “Tratado Sobre Fé e Credo”, por Agostinho, estas palavras: “Quando o Senhor diz ‘Mulher o que tenho contigo? Ainda não é chegada a minha hora’ (João 2:4) Ele a está é admoestando a entender que, com respeito a ser Ele Deus, para Ele não havia mãe”.

Isso estava demolindo os ensinos de minha Igreja, e dizendo-me que era blasfêmia chamar Maria de mãe de Deus de tal modo que me senti como atingido por um raio.

Muitos livros podem ser escritos, se meu plano fosse transmitir o relato de minhas agonias mentais, quando lendo os Pais da Igreja. Assim ferido, mostrei-os ao Sr. Brassard, dizendo: “Não vê aqui a irrefutável prova de que aquilo que lhe tenho dito tantas vezes, que, durante os primeiros seis séculos de cristianismo, não encontramos a mínima prova de que houvesse qualquer coisa como nosso dogma do supremo poder e autoridade do Bispo de Roma, ou de qualquer outro bispo, sobre o restante do mundo cristão?

“Meu caro Chiniquy”, respondeu o Sr. Brassard, “eu não lhe disse que quando adquiriu os Santos Padres, estava fazendo uma coisa tola e perigosa? Sendo que é o único sacerdote no Canadá que tem os Santos Padres, pensa-se e comenta-se em muitos lugares, que foi por orgulho que os adquiriu; que foi para exaltar-te acima do restante do clero. Vejo, com tristeza, que estás perdendo rápido o respeito do bispo e dos sacerdotes em geral por causa de tua indomitável perseverança em dedicar todo o teu tempo livre ao estudo deles. És também muito independente e imprudente em falar do que chamas contradições dos Santos Padres, e de sua falta de harmonia com algumas de nossas posições religiosas.

“Muitos dizem que essa excessiva dedicação ao estudo, sem um momento de pausa, irá afetar negativamente tua inteligência e perturbar-te a mente. Até se diz a boca pequena que não se surpreenderiam se a tua leitura da Bíblia e dos Santos Pais te conduza ao abismo do protestantismo. Eu sei que eles estão errados, e faço de tudo em meu poder para defender-te. Mas, julguei, como teu mais dedicado amigo, ser o meu dever dizer-te essas coisas, e advertir-te antes que seja demasiado tarde”.

Eu respondi: “O Bispo Prince me disse as mesmas coisas, e eu conto qual foi a resposta que dele obtive: ‘Quando se ordena um sacerdote, não é ele levado a jurar que nunca interpretará as Santas Escrituras exceto segundo o unânime consenso dos Santos Padres? Como podemos saber o seu consenso unânime sem estudá-los? Não é por demais estranho que, não só os sacerdotes não estudam os Santos Padres , mas que o único no Canadá que está tentando estudá-los, é posto sob ridículo e suspeição de heresia? É minha falta se esta preciosa rocha, chamada ‘consenso unânime dos Santos Padres’, que é o próprio fundamento de nossa crença religiosa, não se ache em parte alguma neles? É minha falta se Orígenes nunca creu na eterna punição dos réprobos; se São Cipriano negava a suprema autoridade do Bispo de Roma; se Santo Agostinho declarou positivamente que ninguém era obrigado a crer no purgatório; se São João Crisóstomo publicamente negou a obrigação da confissão auricular, e a real presença do corpo de Cristo na eucaristia? É minha falta se um dos mais eruditos santos papas, Gregório, o Grande, chamou pelo nome de Ancristo, todos os seus sucessores, por tomarem o nome de Supremo Pontífice, e tentar persuadir o mundo de que tinha, por divina autoridade, uma jurisdição e poder sobre o restante da Igreja?’”

“E o que o Bispo Prince te respondeu?” reagiu o Sr. Brassard.

“O mesmo como fez, expressando seus temores de que o estudo da Bíblia e dos Santos Padres ou me conduziria a um asilo de loucos, ou me lançaria no abismo sem fundo do protestantismo”.

Eu lhe respondi de modo bem sério: “Até quando Deus mantenha a minha inteligência saudável, não posso unir-me aos protestantes, pois as inumeráveis e ridículas seitas desses heréticos são um antídoto seguro contra seus erros venenosos. Não permanecerei um bom católico em razão da uninimidade dos Santos Padres, o que não existe, mas permanecerei um católico por casa da grande e visível unanimidade dos profetas, apóstolos, e evangelistas com Jesus Cristo. Minha fé não se firmará sobre as palavras falíveis, obscuras e volúveis de Orígenes, Tertuliano, Crisóstomo, Agostinho, ou Jerônimo; mas sobre a infalível palavra de Jesus, o Filho de Deus, e de Seus inspirados autores: Mateus, Marcos, Lucas, João, Pedro, Tiago, e Paulo. É Jesus, não Orígenes, que agora me guiará; pois este último foi um pecador como o sou, e o primeiro é para sempre meu Salvador e meu Deus. Eu conheço o suficiente dos Santos Padres para assegurar a vossa senhoria que o voto que fazemos de aceitar a Palavra de Deus segundo o seu unânime consenso é um miserável equívoco, se não um blasfemo perjúrio. É evidente que Pio IV, que impôs a obrigação desse voto sobre todos, nunca leu um único volume dos Santos Padres. Ele não seria culpado de tão incrível erro se tivesse sabido que os Santos Padres são unânimes em somente uma coisa, de que diferem de cada um dos demais em quase tudo”.

“E o que o Sr. Prince disse sobre isso?” indagou o Sr. Brassard.

“Exatamente quando eu o apertava sobre a questão da Virgem Maria, ele abruptamente pôs fim ao diálogo olhando o relógio e dizendo que tinha um compromisso naquele exato momento”.
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MensagemAssunto: Re: As cisternas rotas da Patrística   As cisternas rotas da Patrística Empty19/4/2008, 5:45 pm

Gostaria de deixa uma citação do pastor Levi Dobbs, quando foi questionado por um jovem ministro de como comprovar algo que não encontrasse na Bí­blia:

“Recomendo, no entanto, um judicioso emprego dos Pais em geral, da mais alta confiança para qualquer pessoa que esteja na situação do meu consulente. A vantagem dos Pais é dupla: em primeiro lugar porque exercem grande influência sobre as multidões; em segundo lugar porque você poderá encontrar o que quiser nos Pais. Não creio que haja opinião mais tola e manifestamente absurda, para a qual você não possa encontrar passagens para sustentá-la nas páginas daqueles veneráveis homens de experiência. E para a mente comum, tanto vale um como outro. Se acontecer que o ponto que você quer provar nunca tenha ocorrido aos Pais, então você pode facilmente mostrar que eles teriam tomado seu lado se apenas tivessem pensado no assunto. E se, por acaso, nada há para sustentar, mesmo remotamente, de maneira favorável o ponto em questão, não desanime: faça uma boa e vigorosa citação e coloque nela o nome dos Pais, e pronuncie-a com ar de triunfo. Ela será igualmente valiosa. Nove décimos do povo não se detém a indagar se a citação apóia a matéria em debate. Sim, irmão, os Pais são a sua fortaleza. Eles são a melhor dádiva do Céu ao homem que tenha uma causa que não possa ser amparada por nenhum outro modo.”

O Dr. Eduardo Carlos Pereira classifica os escritos dos padres apostólicos como “testemunha falí­vel de autoridade humana” e “tradição que a crí­tica não pode sequer firmar no terreno digno da história”.
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MensagemAssunto: Re: As cisternas rotas da Patrística   As cisternas rotas da Patrística Empty19/4/2008, 5:46 pm

Análise de Citações Comuns dos “Pais” da Igreja Com Respeito ao Dia do Senhor

Bob Pickle


Introdução

As citações sob discussão neste estudo podem ser encontradas postadas em vários websites. Representam uma tentativa de demonstrar que:

* Os cristãos sempre observaram o primeiro dia da semana (domingo)”

* Enquanto os observadores do sábado citam autores do século 20, que imaginam o que teria acontecido 1900 anos antes, nós citamos cristãos cujos escritos têm 1900 anos de idade e falavam do que viam!”

* O registro histórico, desde a Ressurreição de Cristo, mostra que os cristãos sempre observaram o primeiro dia da semana (domingo), e nunca o sábado do sétimo dia”.

Contudo, uma análise objetiva das próprias citações usadas conduzem a várias conclusões:

* Os que fazem tais reivindicações provavelmente nunca se incomodaram de ler essas citações nas fontes originais.

* Os que compilaram a lista original de citações podem ter intencionalmente tentado enganar.

* Os vários websites que postam essas citações, em vista de incorporarem materiais identicamente errí´neos, provavelmente “plagiaram” de alguma outra fonte, sem que crédito apropriado fosse atribuí­do.

Que essa última conclusão seja mesmo uma possibilidade é extremamente paradoxal, dado o fato de que alguns desses websites se especializaram em levantar alegações de “plagiarismo” de certa observadora do sábado do passado. Certamente um website que acusa alguém de plagiar não devia empenhar-se em plagiarismo!


DUAS CITAS DO DIDAQUÊ

A melhor maneira de demonstrar a necessidade das conclusões acima é começar com as cinco citas do Didaquê. Sim, cinco citações são oferecidas do “Didaquê de 90 AD”, mas o fato é que dessas cinco, somente a primeira é realmente do Didaquê! As demais quatro realmente derivam das Constituições Apostólicas, uma compilação de material escrito talvez de 250 AD a 350 AD. Que esses múltiplos websites incorretamente atribuam um documento de 250 AD-350 AD a um suposto “Didaquê de 90 AD” é forte evidência de plagiarismo.
Após a divulgação destas informações, espera-se que esses vários websites realizem necessárias revisões. De fato, um já o fez. Mas uma pesquisa de “Didaquê de 90 AD” pode ainda revelar alguns web sites trazendo as citações errí´neas.


”Didaquê” #2

Em seguida gostarí­amos de apresentar a segunda citação do Didaquê, completo com erros tipográficos, juntamente com o que o original realmente diz:

Como Citado no Website:

Didaquê, 90 AD: . . . todo dia do Senhor, mantende vossas solenes assembléias, e regozijai-vos: pois aquele que jejuar no dia do Senhor será culpado, sendo esse o dia da ressurreição . . . (Constituições dos Santos Apóstolos, Ante-Nicene Fathers, Vol. 7, pág. 449).

Como consta do original:

[Constituições Apostólicas, 250-300 AD]: Ordenamo-vos que jejueis todo quarto dia da semana, e todo dia da preparação, e o que dispensardes pelo jejum dai aos necessitados; cada dia de sábado, exceto um, e todo dia do Senhor, tende vossas solenes assembléias, e regozijai-vos: pois será culpado quem jejua no dia do Senhor, que é o dia da ressurreição, ou durante o tempo do Pentecoste, ou, em geral, quem se entristece num dia festival do Senhor. Pois neles devemos nos regozijar, e não lamuriar.--lv. 5, sec. 3, xx.

O leitor de pronto verá que a elipse inicial representa a omissão de “todo dia de sábado . . . e”. Em outras palavras, a própria cita com que se tenciona provar que “os cristãos sempre observaram o primeiro dia da semana (domingo) e nunca o sábado do sétimo dia” de fato prova o contrário. Os cristãos até o final do terceiro século ainda estavam observando o sábado. Mas a omissão aparentemente enganosa das palavras em questão impede o leitor de discernir este fato.
Se o domingo é de fato sagrado, o dia de culto para o cristão, se deveras é o que a Bí­blia ensina, então que os fatos falem por si ós. A verdade não carece de fraude para seu apoio.
Alguns podem ficar intrigados com o sentido de “todo sábado, exceto um”. Isto se refere ao jejum. Com o passar dos séculos, Roma tornou o sábado um dia de jejum, enquanto o domingo era um dia de regozijo, o que fez com que o domingo parecesse preferí­vel ao sábado na mente de muitos. A Igreja do Oriente, porém, resistiu à idéia de fazer do dia de sábado uma ocasião para jejum. Para eles o sábado do Decálogo era por demais especial para ser um dia de tristeza e jejum. Como a citação acima expõe, eles nunca deviam jejuar no sábado, exceto um sábado por ano, que comemorava o sepultamento de Cristo (ver lv. 2, sec. 3, xv).
Destarte, as Constituições Apostólicas revelam uma incrí­vel quantidade de respeito pelo sábado. Não ó são os cristãos admoestados a se reunirem cada sábado, como também são instados a tornarem cada sábado um dia de regozijo, com exceção de um.
Outro ponto a destacar: A princí­pio alguns cristãos observavam um domingo por ano. Posteriormente, muitos estavam observando tanto o sábado quanto o domingo. Às vezes na última metade do segundo século AD, o domingo começou a ser chamado de Dia do Senhor. A citação das Constituições Apostólicas, acima, não contradiz essas observações históricas. Embora muitos cristãos estivessem ainda observando o sábado em 300 AD, também estavam observando o domingo. E tinham começado a chamar o domingo de dia do Senhor, embora a Bí­blia em parte alguma o chame dessa forma.


”Didaquê” #3


Como Citado no Website:

Didaquê, 90 AD: E no dia da ressurreição de Nosso Senhor, reuni-vos mais diligentemente, dirigindo louvores a Deus, que fez o universo mediante Jesus, e no-Lo enviou, condescendendo a permitir que sofresse, e O ressuscitou dentre os mortos. Doutro modo, que desculpa apresentará a Deus aquele que não se reúne nesse dia para ouvir a palavra salvadora com respeito à ressurreição . . .? (Constituições dos Santos Apóstolos, Ante-Nicene Fathers, Vol. 7, pág. 423)

Como Consta do Original:

[Constituições Apostólicas, c. 250-300 AD]: . . . reuni-vos todos os dias, de manhã e à noitinha, cantando salmos e orando na casa do Senhor: pela manhã recitando o Salmo sessenta e dois, e à noitinha o cento e quarenta, mas principalmente no dia de sábado. E no dia da ressurreição do Senhor, que é o dia do Senhor, reuni-vos mais diligentemente, dirigindo louvores ao Deus que fez o universo mediante Jesus, e no-Lo enviou, e condescendeu em permitir que sofresse, e O ressuscitou dentre os mortos. Doutro modo, que desculpas apresentará a Deus aquele que não se reúne nesse dia para ouvir a palavra salvadora concernente à ressurreição . . . ?--lv. 2, sec. 7, lix.

É fato que muitos cristãos, pelo ano 300 AD estavam observando também o domingo, mas esta citação mesmo com que se busca provar que os cristãos “nunca [observaram] o sábado” na verdade diz que eles se reuniam para culto “principalmente no dia de sábado”. Por que essa parte da citação foi deixada de fora nos vários websites que citam esta passagem?

Isto é apenas uma pequena mostra das muitas outras distorções na literatura patrí­stica que o autor assinala e documenta devidamente.
O fato é que por falta de comprovação bí­blica para a observância do domingo, o antigo feriado solar dos pagãos romanos, o dies solis, que adentrou o cristianismo via-tradição católica, há muitos que recorrem à “santa tradição” para tentar encontrar fundamento para uma prática tão arraigada, como é o acatamento desse falso sábado que desde meados do século II da Era Cristã prevalece no mundo religioso.
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MensagemAssunto: Re: As cisternas rotas da Patrística   As cisternas rotas da Patrística Empty19/4/2008, 5:48 pm

Amigos, estou em dí­vida com o Prof. Az na postagem destes textos que ele se referiu, no que concerne ao assunto do tópico. Vou procurar postá-los aos poucos. Abraço a todos.

Análise de Citações Comuns dos “Pais” da Igreja Com Respeito ao Dia do Senhor
Bob Pickle

Introdução


As citações sob discussão neste estudo podem ser encontradas postadas em vários websites. Representam uma tentativa de demonstrar que:

* Os cristãos sempre observaram o primeiro dia da semana (domingo)”
* Enquanto os observadores do sábado citam autores do século 20, que imaginam o que teria acontecido 1900 anos antes, nós citamos cristãos cujos escritos têm 1900 anos de idade e falavam do que viam!”
* O registro histórico, desde a Ressurreição de Cristo, mostra que os cristãos sempre observaram o primeiro dia da semana (domingo), e nunca o sábado do sétimo dia”.

Contudo, uma análise objetiva das próprias citações usadas conduzem a várias conclusões:

* Os que fazem tais reivindicações provavelmente nunca se incomodaram de ler essas citações nas fontes originais.
* Os que compilaram a lista original de citações podem ter intencionalmente tentado enganar.
* Os vários websites que postam essas citações, em vista de incorporarem materiais identicamente errí´neos, provavelmente “plagiaram” de alguma outra fonte, sem que crédito apropriado fosse atribuí­do.

Que essa última conclusão seja mesmo uma possibilidade é extremamente paradoxal, dado o fato de que alguns desses websites se especializaram em levantar alegações de “plagiarismo” de certa observadora do sábado do passado. Certamente um website que acusa alguém de plagiar não devia empenhar-se em plagiarismo!

[size=14pt]CINCO CITAS DO “DIDAQUÊ”[/size]

A melhor maneira de demonstrar a necessidade das conclusões acima é começar com as cinco citas do Didaquê. Sim, cinco citações são oferecidas do “Didaquê de 90 AD”, mas o fato é que dessas cinco, somente a primeira é realmente do Didaquê! As demais quatro realmente derivam das Constituições Apostólicas, uma compilação de material escrito talvez de 250 AD a 350 AD. Que esses múltiplos websites incorretamente atribuam um documento de 250 AD-350 AD a um suposto “Didaquê de 90 AD” é forte evidência de plagiarismo.

Após a divulgação destas informações, espera-se que esses vários websites realizem necessárias revisões. De fato, um já o fez. Mas uma pesquisa de “Didaquê de 90 AD” pode ainda revelar alguns web sites trazendo as citações errí´neas.

[size=14pt]”Didaquê” #2[/size]

Em seguida gostarí­amos de apresentar a segunda citação do Didaquê, completo com erros tipográficos, juntamente com o que o original realmente diz:

Como Citado no Website Como Consta no Original
Didaquê, 90 AD: . . . todo dia do Senhor, mantende vossas solenes assembléias, e regozijai-vos: pois aquele que jejuar no dia do Senhor será culpado, sendo esse o dia da ressurreição . . . (Constituições dos Santos Apóstolos, Ante-Nicene Fathers, Vol. 7, pág. 449). [Constituições Apostólicas[i], 250-300 AD]: Ordenamo-vos que jejueis todo quarto dia da semana, e todo dia da preparação, e o que dispensardes pelo jejum dai aos necessitados; cada dia de sábado, exceto um, e todo dia do Senhor, tende vossas solenes assembléias, e regozijai-vos: pois será culpado quem jejua no dia do Senhor, que é o dia da ressurreição, ou durante o tempo do Pentecoste, ou, em geral, quem se entristece num dia festival do Senhor. Pois neles devemos nos regozijar, e não lamuriar.--lv. 5, sec. 3, xx.

O leitor de pronto verá que a elipse inicial representa a omissão de “todo dia de sábado . . . e”. Em outras palavras, a própria cita com que se tenciona provar que “os cristãos sempre observaram o primeiro dia da semana (domingo) e nunca o sábado do sétimo dia” de fato prova o contrário. Os cristãos até o final do terceiro século ainda estavam observando o sábado. Mas a omissão aparentemente enganosa das palavras em questão impede o leitor de discernir este fato.

Se o domingo é de fato sagrado, o dia de culto para o cristão, se deveras é o que a Bí­blia ensina, então que os fatos falem por si ós. A verdade não carece de fraude para seu apoio.

Alguns podem ficar intrigados com o sentido de “todo sábado, exceto um”. Isto se refere ao jejum. Com o passar dos séculos, Roma tornou o sábado um dia de jejum, enquanto o domingo era um dia de regozijo, o que fez com que o domingo parecesse preferí­vel ao sábado na mente de muitos. A Igreja do Oriente, porém, resistiu à idéia de fazer do dia de sábado uma ocasião para jejum. Para eles o sábado do Decálogo era por demais especial para ser um dia de tristeza e jejum. Como a citação acima expõe, eles nunca deviam jejuar no sábado, exceto um sábado por ano, que comemorava o sepultamento de Cristo (ver lv. 2, sec. 3, xv).

Destarte, as [i]Constituições Apostólicas revelam uma incrí­vel quantidade de respeito pelo sábado. Não ó são os cristãos admoestados a se reunirem cada sábado, como também são instados a tornarem cada sábado um dia de regozijo, com exceção de um.

Outro ponto a destacar: A princí­pio alguns cristãos observavam um domingo por ano. Posteriormente, muitos estavam observando tanto o sábado quanto o domingo. Às vezes na última metade do segundo século AD, o domingo começou a ser chamado de Dia do Senhor. A citação das Constituições Apostólicas, acima, não contradiz essas observações históricas. Embora muitos cristãos estivessem ainda observando o sábado em 300 AD, também estavam observando o domingo. E tinham começado a chamar o domingo de dia do Senhor, embora a Bí­blia em parte alguma o chame dessa forma.

[size=14pt]”Didaquê” #3[/size]

Como Citado no Website Como Consta do Original
Didaquê, 90 AD: E no dia da ressurreição de Nosso Senhor, reuni-vos mais diligentemente, dirigindo louvores a Deus, que fez o universo mediante Jesus, e no-Lo enviou, condescendendo a permitir que sofresse, e O ressuscitou dentre os mortos. Doutro modo, que desculpa apresentará a Deus aquele que não se reúne nesse dia para ouvir a palavra salvadora com respeito à ressurreição . . .? (Constituições dos Santos Apóstolos, Ante-Nicene Fathers, Vol. 7, pág. 423) [Constituições Apostólicas, c. 250-300 AD]: . . . reuni-vos todos os dias, de manhã e à noitinha, cantando salmos e orando na casa do Senhor: pela manhã recitando o Salmo sessenta e dois, e à noitinha o cento e quarenta, mas principalmente no dia de sábado. E no dia da ressurreição do Senhor, que é o dia do Senhor, reuni-vos mais diligentemente, dirigindo louvores ao Deus que fez o universo mediante Jesus, e no-Lo enviou, e condescendeu em permitir que sofresse, e O ressuscitou dentre os mortos. Doutro modo, que desculpas apresentará a Deus aquele que não se reúne nesse dia para ouvir a palavra salvadora concernente à ressurreição . . . ?--lv. 2, sec. 7, lix.

É fato que muitos cristãos, pelo ano 300 AD estavam observando também o domingo, mas esta citação mesmo com que se busca provar que os cristãos “nunca [observaram] o sábado” na verdade diz que eles se reuniam para culto “principalmente no dia de sábado”. Por que essa parte da citação foi deixada de fora nos vários websites que citam esta passagem?

Continua . . .


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MensagemAssunto: Re: As cisternas rotas da Patrística   As cisternas rotas da Patrística Empty19/4/2008, 5:49 pm

Continuação ...

“Didaquê” #4

Esta próxima citação procede do sétimo livro (sec. 2, xxx) das Constituições Apostólicas, e julga-se ser de uma data posterior aos primeiros seis livros. Menciona somente o domingo, e não o sábado, mas não contém qualquer material que seja objeto de contestação dos eruditos sabatistas. Em vez disso, portanto, propiciamos algumas seleções das Constituições Apostólicas que ordenam a guarda do sábado, para efeito de comparação:

Como Citado no Website Como Consta no Original
Didaquê, 90 AD: No dia da ressurreição do Senhor, ou seja, no dia do Senhor, reuni-vos, sem falta, dando graças a Deus, e orando a Ele por aquelas misericórdias que Deus vos tem concedido mediante Cristo, e vos tem livrado da ignorância, erro, e escravidão, para que o vosso sacrifí­cio seja imaculado, e aceitável a Deus, que disse a respeito de Sua Igreja universal: “Em todo lugar incenso e um sacrifí­cio puro sejam-me oferecidos; pois Eu sou um grande rei, disse o Senhor Todo-poderoso, e meu nome é maravilhoso entre os pagãos, [Malaquias 1:11, 14] (“Constituições dos Santos Apóstolos”‘Ante-Nicene Fathers Vol. 7, pág. 471) [Constituições Apostólicas, c. 250-300 AD]: Observarás o sábado, por causa Daquele que cessou a Sua obra de criação, mas não interrompeu a Sua obra de providência . . . --.lv. 2, sec. 7, lix.
Mas observai o sábado, e o festival do dia do Senhor; porque o primeiro é o memorial da criação, e o último, da ressurreição. Mas há somente um sábado a ser observado por vós o ano todo, que é aquele do sepultamento do Senhor, no qual os homens deviam guardar um jejum, mas não um festival--.lv. 7, sec. 2, xxiii.

[size=14pt]”Didaquê” #5[/size]

A quinta cita, supostamente do Didaquê, nada diz sobre quando os cristãos se reuniam para o culto. Portanto, incluiremos mais algumas poucas citações do mesmo documento concernentes à guarda do sábado, para efeito de comparação.

Como Citado no Website Como Consta do Original
Didaquê, 90 AD: E como não seria senão adversário de Deus, aquele que se preocupa com coisas temporais noite e dia, mas não leva em contas as coisas eternas? Que se preocupa com lavagens e alimentos temporários todo dia, mas não cuida das que duram para sempre? Como pode tal mesmo agora evitar ouvir a palavra do Senhor, “Os gentios são mais justificados do que vós” ao declarar em reprovação, a Jerusalém, “Sodoma é mais justa do que tu”. Pois se os gentios todo dia, quando despertam do sono, correm para os seus í­dolos a fim de adorá-los, e antes de todos os seus trabalhos e fainas, primeiro de tudo oram a eles, e em suas festas e suas solenidades não se afastam delas, mas as observam; e não somente aqueles neste lugar, mas os que vivem bem distante fazem o mesmo; e em suas demonstrações públicas vêm todos juntos, como se numa sinagoga: do mesmo modo aqueles que são de forma vã chamados de judeus, quando trabalharam seis dias, no sétimo dia descansam, e reúnem-se em sua sinagoga, nunca deixando ou negligenciando tanto o descanso de seus labores quanto a reunião conjunta. . . Se, portanto, os que não são salvos reúnem-se freqüentemente para tais propósitos que não lhes são de valia, que desculpas apresentareis ao Senhor Deus ao abandonarem a sua Igreja, não imitando o exemplo dos pagãos, mas com isso vossa ausência se torna preguiça, ou apostasia, ou atos de impiedade? A esses o Senhor diz por Jeremias, “Não guardastes as Minhas ordenanças; não, vós não tendes andado segundo a ordenança dos pagãos e tende, de certo modo, os superado. . . Como, pois, terá alguém sua desculpa ao desprezar ou ausentar-se da igreja de Deus? (Constituições dos Santos Apóstolos, 100 AD? [data incerta], Ante-Nicene Fathers, Vol. 7, pág 423) [Constituições Apostólicas, c. 300-350 AD]: Que vossas querelas jurí­dicas sejam tidas no segundo dia da semana, a fim de que ante qualquer controvérsia que se levante a respeito de vossa sentença, tendo um intervalo até o sábado, possais ser capazes de resolver devidamente a controvérsia, e estabelecer a concórdia entre aqueles que têm demandas contra o dia do Senhor--.lv. 2, sec. 6, xlvii.
Não que o dia de sábado seja um de jejum, sendo o repouso da criação . . . ‘lv. 5, sec. 3, xv.
Ó Senhor Todo-Poderoso, Tu criaste o mundo mediante Cristo, e designaste o sábado em sua memória, porque nesse dia fizeste-nos descansar de nossas obras, para meditação sobre Tuas leis--.lv. 7, sec. 2, xxxvi.
Nesse aspecto Ele permitiu aos homens que repousassem todo sábado, de modo que nenhum se dispusesse a proferir uma palavra de sua boca em ira no dia do sábado. Porque o sábado é o cessar da criação, a finalização do mundo, a inquirição sobre as leis, e o grato louvor a Deus pelas bênçãos que Ele tem concedido aos homens. Nisso tudo o dia do Senhor se exalta . . . --.lv. 7 sec. 2, xxxvi.
Que os escravos trabalhem cinco dias; mas no dia de sábado e no dia do Senhor que tenham liberdade para irem à igreja para instrução em piedade. Temos dito que o sábado tem que ver com a criação, e o dia do Senhor com a ressurreição--.lv. 8, sec. 4, xxxiii.
64. Se qualquer um do clero for encontrado jejuando no dia do Senhor, ou no dia de sábado, exceto somente num, seja ele destituí­do; mas se for do laicato, que seja suspenso--.lv. 8, Eccl. Canons.

É por demais claro que os autores responsáveis por esse documento criam que:

O sábado se originou na Criação, não no Sinai.
O sábado é para todos os homens, não somente para os judeus.
O sábado não foi abolido por Cristo.
O sábado deve ainda ser observado pelos cristãos.
Os cristãos que ousarem desonrar o sábado mediante o jejuar nele (com uma exceção) devem ser punidos.

Contudo, é também igualmente claro que a apostasia havia progredido a um considerável grau por 350 AD. Um dos colaboradores deste documento escreveu que o domingo “supera” o sábado da criação dos Dez Mandamentos, conquanto 1) A Escritura não diga em absoluto nada a respeito de o domingo ser sagrado, e 2) esse colaborador não ofereceu evidência bí­blica em suporte de sua asserção.

Continua ...


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MensagemAssunto: Re: As cisternas rotas da Patrística   As cisternas rotas da Patrística Empty19/4/2008, 5:49 pm

Continuação . . .

”Didaquê” #1

Agora que temos analisado as quatro citações que não eram realmente do Didaquê, retornaremos à que realmente pertence ao Didaquê.

Como Citado no Website Como Consta no Original
Didaquê, 90 AD: Mas todo dia do Senhor, reuni-vos, e parti o pão e dai graças após haverdes confessado as vossas transgressões, a fim de que o vosso sacrifí­cio possa ser puro. Mas que nenhum que esteja em conflito com o seu próximo se reúna convosco, até que sejam reconciliados, a fim de que o vosso sacrifí­cio não seja profanado. Pois isto é o que foi falado pelo Senhor ... [Mat. 5:23-24] (O Ensino dos Doze Apóstolos, Chap. 14:1, Ante-Nicene Fathers/[i] Vol. 7, page 381) As cisternas rotas da Patrística Didaque%201
[tradução do inglês na 1a. linha]: Onde está a palavra grega ‘hemera’ para “dia”?

O uso dessa citação nada prova, mesmo que proceda de 90 AD, uma data que de modo algum é certa. Dois destaques podem ser levantados:

* A palavra grega para “dia” nem sequer aparece na passagem. Foi acrescentada pelos tradutores.
* Mesmo que a adição da palavra “dia” for correta, a passagem não diz especificamente que dia se tem em mente como dia do Senhor. Poderia muito bem referir-se ao sábado, uma vez que é o único dia que a Bí­blia diz que pertence ao Senhor.

Sobre o ponto 2, todos possivelmente concordarão que é Jesus quem está falando em Isaí­as 63:1-6, já que em Apo. 19:13 e 15 é usada a mesma linguagem referente a Cristo. Segue-se, pois, que Cristo é o “Senhor”, descrito em Isaí­as 59:16, uma vez que a linguagem é semelhante a Isaí­as 63:5. Portanto, é provável que Cristo, o “Senhor” em Isaí­as 58:13, é Quem declara que o sábado é “Meu santo dia”. Este e outros textos indicam que o sábado é o dia especial que pertence a Jesus, e não há versos bí­blicos que digam algo diferente.

[size=14pt] Inácio [/size]

A cita tida como procedente de “Inácio, de 107 AD” é da Epí­stola aos Magnésios, por Inácio, que possivelmente poderia ser genuí­na em sua forma mais breve, mas a forma mais longa é geralmente considerada como forjada e escrita em época bem posterior ao tempo de Inácio. De fato, um website que a tinha datado como 107 AD agora a data como sendo de 250 AD, mas ainda reivindicando que foi Inácio quem a redigiu. Isso, logicamente, é impossí­vel, pois Inácio morreu em torno de 107 ou 116 AD.

No que diz respeito à forma mais curta, sua genuinidade de maneira nenhuma é certa, sendo ainda altamente possí­vel que o que temos hoje nem sequer representa o texto que foi originalmente redigido.

É a cita em questão relativa à forma mais curta ou à mais longa? Surpreendentemente, na verdade é de ambas. As duas formas foram fundidas como se representassem uma única citação.

Em outras palavras, a cita, como apresentada nos vários websites, na realidade não existe em parte alguma.

Como Citado no Website Do Original, Forma Curta
INÁCIO, 107 AD: Não vos enganeis com doutrinas estranhas, nem com velhas fábulas, que são inaproveitáveis. Pois se ainda vivemos segundo a lei judaica, admitimos que não recebemos a graça. . . . Se, portanto, aqueles que foram criados na antiga ordem de coisas chegarem à posse de uma nova esperança, não mais observando o sábado, mas vivendo na observância do Dia do Senhor, no qual também nossa vida foi Nele revivida e por Sua morte (que alguns negam), por cujo mistério recebemos fé, e por causa do que sofremos a fim de que possamos ser achados discí­pulos de Jesus, nosso único Mestre, uma vez que eles eram seus discí­pulos no espí­rito ? . . . que todo amigo de Cristo observe o Dia do Senhor como um festival, o dia da ressurreição, a rainha e principal de todos os dias da semana. É um absurdo falar de Jesus Cristo com a lí­ngua, e conservar em mente um judaí­smo que agora chegou ao fim, pois onde há cristianismo não pode haver judaí­smo. . . . Essas coisas eu lhe dirijo, meu ‘amado, não que eu saiba que qualquer um de vós esteja nesse estado; mas, como menos do que qualquer de vós, desejo preservar-vos de antemão, para que não caiais nas armadilhas da vã doutrina, mas que, antes, vos apegueis a uma plena segurança em Cristo. . . . (Inácio, “Epí­stola aos Magnésios”, cap 9. Ante-Nicene Fathers, vol. 1, pg. 62-63.) [Autenticidade e data desconhecidas]
Não vos enganeis com doutrinas estranhas, nem com velhas fábulas, que são sem proveito. Pois se ainda vivemos segundo a lei judaica, admitimos que não recebemos graça. Pois os mais santos profetas viveram de acordo com Jesus Cristo--.cap. 8.
Se, portanto, aqueles que foram criados na antiga ordem de coisas chegaram à posse de uma nova esperança, não mais observando o sábado, mas vivendo na observância do Dia do Senhor, no qual nossa vida reviveu por Ele e por Sua morte--a qual alguns negam, por cujo mistério temos obtido fé, e portanto suportamos, para que possamos ser achados discí­pulos de Jesus Cristo nosso único Mestre--como seremos capazes de viver à parte Dele, cujos discí­pulos os próprios profetas no Espí­rito por Ele esperaram como o seu Instrutor? E portanto Aquele a quem justamente aguardavam, tendo vindo, os levantou dentre os mortos--.cap. 9

Da Forma Original, Longa

[Não por Inácio, c. 300 AD?] Pois se nós ainda vivemos segundo a lei judaica, e a circuncisão da carne, negamos que temos recebido graça--.cap. 8.
Mas que todos vós guardeis o sábado segundo um modo espiritual, regozijando-vos em meditação sobre a lei, não em relaxamento do corpo, admirando a obra de Deus, e não comendo coisas preparadas no dia anterior, nem usando bebidas mornas, e caminhando dentro de um espaço prescrito, nem encontrando deleite em danças e celebrações que em si não fazem sentido. E após a observância do sábado, que todo amigo de Cristo observe o Dia do Senhor como um festival, o dia da ressurreição, a rainha e chefe de todos os dias [da semana]--.cap. 9.
É absurdo falar de Jesus Cristo com a lí­ngua, e conservar em mente um judaí­smo que agora chega a um fim. Pois onde há cristianismo, não pode haver judaí­smo--.cap. 10.
Essas coisas [eu me dirijo a vós], meus amados, não que eu saiba que qualquer de vós esteja em tal condição; mas, não menos do que qualquer de vós, desejo guardar-vos de antemão, de que caiais nas armadilhas da vã doutrina, mas que, antes, atenteis a uma plena segurança em Cristo . . . --.cap. 11.

Examinemos primeiro a forma mais longa, com a qual o leitor imediatamente observará um sério problema. A própria cita que supostamente prova que os “cristãos . . . nunca [observaram] o sábado” de fato ordena que “todo” cristão “observe o sábado”! Ademais, uma vez que a cita também proí­be o judaizar, segue-se que o redator da forma longa desta epí­stola cria que a observância do sábado transcende o judaí­smo. Em outras palavras, um cristão poderia dizer às pessoas que elas precisam observar o sábado sem serem culpadas de judaizar!

As palavras “e após a observância do sábado” foram intencionalmente apagadas da cita. Outro exemplo de fraude?

Agora consideremos a forma mais curta. Notem como Inácio, se isso foi realmente escrito por Inácio, parece estar falando sobre os antigos profetas, não sobre os cristãos. Pareceria, assim, que esta cita deve estar falando sobre algo diferente de quebrar o sábado, uma vez que os antigos profetas muito certamente observavam o sábado.

E o mais importante, por favor notem que, como no Didaquê #1, a palavra grega para “dia” não aparece em momento algum no texto:

Como Citado no Website Do Original
. . . não mais observando o sábado, mas vivendo na observância do Dia do Senhor, no qual também nossa vida tem revivido por Ele e por Sua morte. . . . (Inácio, Epí­stola aos Magnésios, cap 9. Ante-Nicene Fathers , vol. 1, pág. 62-63.) As cisternas rotas da Patrística Didaque%202
[tradução do inglês]: Onde está a palavra grega ‘hemera’ para “dia”?

A tradução deveria ter dito algo sobre a vida do Senhor, não o dia do Senhor, pois é assim que reza o grego. Destarte, mesmo que essa cita fosse escrita em 107 AD, o autor não chama o domingo de dia do Senhor. Em vez de estar falando do dia do Senhor, ele está falando sobre a vida do Senhor, vivendo uma vida semelhante à de Jesus.

É essa alguma noví­ssima descoberta que os autores dessas web pages não tiveram oportunidade de ouvir a respeito ainda? Em absoluto. John Andrews o colocou em forma impressa em seu livro, [i]History of the Sabbath, já em 1873!

Continua . . .


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MensagemAssunto: Re: As cisternas rotas da Patrística   As cisternas rotas da Patrística Empty19/4/2008, 5:52 pm

Continuação . . .

Barnabé
Como Citado no Website Do Original
Epí­stola de Barnabé, 74 AD: “Observamos o oitavo dia [domingo] com regozijo, o dia também em que Jesus se levantou dentre os mortos” (Epí­stola de Barnabé 15:6-8). O sábado é mencionado no princí­pio da criação. . . . Portanto, meus filhos, em seis dias, ou seja, em seis mil anos, todas as coisas se findarão. “E Ele repousou no sétimo dia”. Isso significava que quando o Seu Filho vier [novamente], . . . então Ele verdadeiramente descansará no sétimo dia. Ademais, Ele declara: “Santifica-lo-eis com mãos santas e um puro coração”. Se, portanto, qualquer um puder agora santificar o dia que Deus santificou, exceto que seja puro de coração em todas as coisas, somos enganados. Eis, portanto: certamente então quem descansando apropriadamente o santifica, quando nós próprios, tendo recebido a promessa, não mais existindo impiedade, e todas as coisas tendo sido tornadas novas pelo Senhor, seremos capazes de operar a justiça. Então seremos capazes de santificá-lo, tendo primeiro santificado a nós próprios. . . . Portanto, também observamos o oitavo dia com regozijo, o dia também em que Jesus levantou-Se dentre os mortos. E quando Ele Se manifestou, ascendeu aos céus.
Assim, de acordo com o pseudo-Barnabé, somos por demais iní­quos no presente para observar o sábado, e não seremos capazes de observá-lo até que sejamos santificados quando Cristo retornar. Por sermos por demais iní­quos para observar o sábado agora, devemos, em vez disso, observar o domingo. Que beneficio esse raciocí­nio traz à causa da santidade do domingo?

Dizemos pseudo-Barnabé, porque todos admitem que Barnabé, companheiro de Paulo, nunca escreveu essa estranha epí­stola. E a data de 74 AD é altamente questionável. Diz a introdução da edição de Roberts e Donaldson de Ante-Nicene Fathers [Os Pais Antenicenos]:

Introdução de Roberts e Donaldson


A data, objeto e leitores destinatários da Epí­stola somente podem ser inferidos duvidosamente de algumas declarações que esta contém. Foi claramente escrita após a destruição de Jerusalém, uma vez que é feita referência a esse evento (cap. 16), mas quanto tempo após é motivo de muito debate. A opinião geral é de que essa data não é posterior à metade do segundo século, e que não pode ser situada mais cedo do que cerca de vinte ou trinta anos antes.
Isso coloca sua data ao redor de120 a 150 AD. Agora, essa é a opinião geral, e por que essas webpages a situam em “74 AD”?
Outros recursos dizem que a data da composição cai entre 70 AD e 135 AD, entre a destruição de Jerusalém e a reedificação da cidade por Adriano. Glenn Davis declara: “Dentro desses limites não é possí­vel ser mais preciso”. Sendo assim, não parece nada honesto datar esta cita em “74 AD.”

[size=14pt]Plí­nio[/size]

Como Citado no Website


Plí­nio, 110 AD: eles tinham o hábito de reunir-se em certo dia fixo antes que fosse claro, quando cantavam em versos alternados um hino a Cristo, como a um Deus, e uniam-se por um solene juramento para não (fazer) quaisquer atos iní­quos, nunca cometer qualquer fraude, roubo ou adultério, nunca falsificar a palavra dada, nem renegar a uma incumbência quando instados a cumpri-la; após o que era o seu costume separar-se e depois reunirem-no outra vez para partilhar boa comida--mas alimento de um tipo ordinário e inocente.
Sim, é verdade. Esta é realmente uma das citas usadas em vários websites para provar que os “cristãos sempre cultuaram no primeiro dia da semana (domingo) e nunca no sábado do sétimo dia”. O fato estranho é que Plí­nio nunca disse sobre que dia ele estava falando.
Essa deficiência nos vários websites é compensada por uma citação um tanto longa de Frances Nigel Lee. Citamo-la em boa parte abaixo:

Como Citado no Website


Nesse comentário é explicitamente declarado que esses cristãos primitivos observavam a substância da maioria dos Dez Mandamentos, e fica implí­cito que observavam todos os dez na medida em que fossem capazes de fazê-lo. Na medida em que podiam, pois sendo que na sua maioria os primeiros cristãos eram da classe de escravos ou de outras classes inferiores--, e aqueles que tinham amos ou empregadores pagãos--a vasta maioria--seria forçada a trabalhar em seu dia de repouso, que infelizmente era um dia trabalho oficial por todo o Império até que o edito “sabático” de Constantino em 321 AD lhes concedeu certa medida de proteção pública. Assim pode-se ler que após reunirem-se “num certo dia fixo antes de amanhecer”, os cristãos da Bití­nia, no primeiro século tinham que “se separar”‘muitos deles tendo que trabalhar para seus mestres e/ou empregadores do amanhecer ao entardecer’”e então se separavam para partilharem de . . . comida”. O “certo dia fixo” [stato die] [sic] em que os cristãos se reuniam, é considerado pelos adventistas do sétimo dia como sendo o sábado. . . . Mas o domingo é muito mais provável ter sido o “certo dia fixo” do que o sábado. Pois se Plí­nio estivesse se referindo ao velho sábado, como um romano ele sem dúvida teria se referido a uma reunião “posterior” primeiro, e depois a reunião da manhã no dia . . . sendo que o velho sábado era demarcado da tarde de um dia até à do dia seguinte. Mas Plí­nio não faz essa referência. Em vez disso, ele menciona que a reunião do ante-amanhecer tinha lugar primeiro--e somente depois ocorria a reunião posterior, e ambas as reuniões ocorriam no mesmo “certo dia fixo”. Isso claramente aponta à demarcação romana (e--mais importante--neotestamentária) de meia-noite a meia-noite dos modernos observadores do domingo e não a demarcação de tardinha a tardinha, dos judeus e adventistas do sétimo dia. (The Covenantial [sic] Sabbath, Francis Nigel Lee, Pg 242)

Lee apresenta vários pressupostos questionáveis:

Embora admita que os cristãos observavam os 10 Mandamentos, Lee presume que eles eram covardes quando chegavam à questão do dia de repouso. Assim, embora eles regularmente fossem lançados aos leões, em vez de desonrarem a Cristo, eram demasiado temerosos de seus empregadores para obedecerem o mandamento do dia de repouso.
Lee presume que quando Plí­nio diz que os cristãos se reuniam novamente mais tarde no decorrer do dia, isso significaria depois do escurecer. Plí­nio nunca disse que era essa a sua idéia. Ele pode muito bem estar querendo dizer mais tarde na manhã, e não à tarde.
Se o segundo pressuposto de Lee for válido, isso significaria que os cristãos reuniam-se antes do alvorecer e outra vez após escurecer, no mesmo dia romano. Hoje os observadores do domingo muitas vezes citam Atos 20:7, a única reunião de culto no domingo registrada em todo o Novo Testamento. Esse texto não deixa pista de que tal culto era uma ocorrência semanal, mas suponhamos que era realizada semanalmente. Uma vez que a reunião de Atos 20:7 era no que nós hoje chamamos sábado à noite (os dias bí­blicos eram limitados de pôr do sol a pôr do sol, e Atos 20:7 está tratando de perí­odo após o pôr do sol), segue-se, então, que Plí­nio poderia simplesmente estar falando sobre uma reunião sabática pré-matinal, e uma reunião após o escurecer, nesse mesmo sábado.
Na melhor das hipóteses, esta cita de Plí­nio nada prova em absoluto. Presumamos que o culto do sábado à noite em Atos 20:7 fosse uma ocorrência regular, semanal, então, na pior das hipóteses, essa cita de Plí­nio diz que os cristãos se reuniam cada sábado antes do alvorecer para o culto.

Continua . . .


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MensagemAssunto: Re: As cisternas rotas da Patrística   As cisternas rotas da Patrística Empty19/4/2008, 5:52 pm

Continuação . . .

Epistula Apostolorum

Desafortunadamente, a Epistula Apostolorum “não é mencionada em parte alguma na literatura dos cristãos primitivos” (H. Duensing in The New Testament Apocrypha, Wilhelm Schneemelcher, ed., vol. 1, p. 189.). Isso suscita dúvidas quanto a sua autenticidade, linguagem e data de composição.

Também é lamentável o fato de que, conquanto haja sido presumivelmente, escrita em grego, nenhum de seus manuscritos em grego sobreviveu. Tudo quanto temos são alguns fragmentos coptas do quarto ou quinto século, uns poucos fragmentos latinos do quinto século, e vários manuscritos etí­opes do século dezoito. Os manuscritos etí­opes somente preservam esse documento em sua inteireza.

Quando foi escrito? Ninguém sabe com certeza, mas a maioria pensa que foi escrito em alguma época em torno de 150 AD.

Apresentamos abaixo a citação como aparece em vários websites, e como reza tanto nas versões copta e etí­ope, segundo Duensing:

Como Citado no Website Versão Copta Versão Etí­ope
EPÍSTOLA DOS AP퀜STOLOS.- I [Cristo] tendo vindo à existência no oitavo dia, que é o dia do Senhor. (18)1 [Epistula Apostolorum 18] Tornei-me a Ele algo, isto é. . . completado segundo o tipo; vim à existência no oitavo dia que é o dia do Senhor . [Epistula Apostolorum 18] Isto é, quando Ele foi crucificado, morreu e ergueu-se novamente, como disse isso, e a obra que foi assim realizada na carne, com que foi crucificado, e sua ascensão--este é o cumprimento do número.

Onde o texto diz “oito”, esses vários websites dizem “oitavo dia”. Se adicionaram a palavra “dia” à frase “dia do Senhor”, não sabemos, uma vez que não temos presentemente acesso ao texto copta. Mas muito mais importante é que esses websites também citam a versão copta, não a versão etí­ope, sem informar os leitores sobre esse fato. A versão etí­ope nada diz em absoluto sobre dias!

O leitor deve observar que essa citação nada diz sobre reunião dos cristãos para culto, seja no sábado ou domingo. Tudo quanto interessa é a aparente identificação da cita do domingo como o “dia do Senhor”. Mas se o escritor julgava o domingo como o dia do Senhor, ou se pensava que somente o Domingo de Páscoa era o dia do Senhor, não pode ser determinado a partir dessa passagem.

Sendo que o domingo começou a ser chamado dia do Senhor em algum tempo na última metade do segundo século, não seria de surpreender se um documento escrito por volta de 150 AD o fizesse. Mas 150 AD é cerca de 120 anos posterior à cruz. Isso significa que temos de esperar pelos menos 120 anos após a cruz antes de encontrarmos qualquer documento chamando o domingo de dia do Senhor.

Contudo, com respeito à Epistula Apostolorum, não se pode saber ao certo quando as palavras em questão encontraram o seu caminho ao texto. Eram parte do original? Foram adicionadas pelo tradutor copta? Foram acrescentadas por copistas do século quarto ou quinto? Ninguém pode dizer com certeza. Mas à luz de nossa discussão sobre Justino Mártir, uma identificação de 150 AD para todo domingo ser chamado dia do Senhor parece bem improvável.

O único pensamento a se poder acrescentar antes de avançarmos diz respeito ao propósito total dessas várias citas. Estamos em busca de justificativas para quebrantar um dos 10 Mandamentos. Estamos buscando por uma razão válida para ignorar o dia de repouso que Jesus manteve nos Evangelhos, o mesmo dia de descanso repetidamente referido no livro de Atos. Em tentar convencer-nos de possivelmente não incorremos em culpa ante Deus quando violando um dos 10 Mandamentos, não dependamos de uma tardia e dúbia Epistula Apostolorum.

Continua . . .


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MensagemAssunto: Re: As cisternas rotas da Patrística   As cisternas rotas da Patrística Empty19/4/2008, 5:53 pm

Continuação . . .

Irineu

Como Citado em Dois Websites Como Consta do Original
IRINEU: 155-202 A.D. “O Mistério da Ressurreição do Senhor pode não ser celebrado em qualquer outro dia, além do Dia do Senhor, e nesse somente devemos observar o iní­cio da Festa Pascal”. Irineu, 178 A.D., ao alegar que os sábados judaicos eram sinais e tipos e não eram para ser observados, uma vez que a realidade do qual eram sombras, havia vindo, diz, “O mistério da ressurreição do Senhor não pode ser celebrado em qualquer outro dia, senão no dia do Senhor e nesse somente devemos observar o iní­cio da Festa Pascoa . . . o Pentecoste caí­a no primeiro dia da semana, e era, portanto, associado com o dia do Senhor”.

Soa convincente? Talvez, se pudermos verificar sua autenticidade. Mas onde pode ser comprovada? Até aqui, conquanto hajamos encontrado essa cita em muitos websites, não encontramos ainda qualquer um que ofereça referências. De fato, conquanto tenhamos realizado uma pesquisa computadorizada por toda a coleção de “pais”, não podemos encontrar essas citas em lugar nenhum sob Irineu.

Mas achamos algo semelhante em Anatólio de Alexandria, que pode ter escrito sua obra por volta de 270 AD. E encontramos algo quase idêntico em Eusébio, que escreveu décadas depois. Todavia, não temos qualquer pista de onde partiu o segmento de que “o Pentecoste caí­a no primeiro dia da semana”. Não podemos comprovar que qualquer autor antigo tenha escrito isso.

Quando se lê a cita no seu contexto, seja em Anatólio ou Eusébio, torna-se imediatamente claro que essa cita não tem absolutamente nada a ver com um culto semanal aos domingos:

Anatólio Euzébio
O grupo, de fato, mantinha o dia de Páscoa no décimo quarto dia do primeiro mês, segundo o evangelho, como pensavam, nada acrescentando de caráter externo, mas mantendo por todas as coisas a regra de fé. E o outro grupo, passando o dia da Paixão do Senhor como um dia assinalado por tristeza e lamento, alegando não ser legal celebrar o mistério do Senhor na Páscoa em qualquer outra ocasião, a não ser no dia do Senhor, no qual teve lugar a ressurreição do Senhor dos mortos e no qual também Se ergueu para nós a causa de perpétuo gozo.--The Paschal Cí¢non, cap. 10. Para as paróquias de toda a Ásia, como por uma antiga tradição, mantinham que o décimo quarto dia da lua . . . devesse ser observado como a festa da Páscoa do Salvador. Foi, portanto, necessário findar o seu jejum nesse dia, ocorresse no dia de semana que fosse. Mas não era costume das igrejas no resto do mundo findá-lo nessa ocasião, ao observarem a prática . . . de terminar a festa em nenhum outro dia que não o da ressurreição de nosso Salvador.
Sí­nodos e assembléias de bispos foram realizados nesse respeito, e todos, em comum acordo, mediante correspondência míºtua, estabeleceram um decreto eclesiástico, de que o mistério da ressurreição do Senhor não devesse ser celebrado em nenhum outro dia, se não no dia do Senhor, e que deverí­amos observar o encerramento do jejum pascoal nesse dia somente.--Ecclesiastical History, bk. 5., ch. 23.

O que está sendo discutido acima tornou-se mais tarde conhecido como Controvérsia Quatrodecimana. Quando deveriam a morte e ressurreição de Cristo ser lembradas? Em 14 de nisã, o décimo quarto dia do primeiro mês judaico, ou num domingo em particular? Se Irineu jamais escreveu o que acima consta torna-se um tanto irrelevante quando percebemos que o uso dessa cita em apoio ao culto semanal aos domingos é inteiramente fraudulento.

Assim, vemos novamente os riscos de tantos webmasters copiarem uns dos outros sem daram devido crédito, seja í fonte original ou í quela da qual estão plagiando.

Antes de prosseguirmos, apresentaremos uma cita de um escritor desconhecido que pode ser a fonte da suposta cita do Pentecoste por Irineu:

Fragmento Perdido #7


Este [costume], de não dobrar os joelhos no domingo, é um sí­mbolo da ressurreição, mediante o qual fomos postos em liberdade, pela graça de Cristo, dos pecados, e da morte, que foi posta sob Ele. Agora esse costume surgiu nos tempos apostólicos, como o bendito Irineu, o mártir e bispo de Lyons, declara em seu tratado Sobre a Páscoa, no qual ele faz menção também ao Pentecoste; e sobre esta [festa] não inclinamos os joelhos, porque é de igual significado com o dia do Senhor, pela razão já alegada concernente a ele.

O melhor uso que se poderia fazer da cita sobre o Pentecoste mostrar que Irineu chamou o domingo de dia do Senhor. Presumindo que as traduçíµes acima estejam corretas, sabemos que Anatólio, Eusébio, e este autor desconhecido chamaram o domingo de dia do Senhor. Mas não temos idéia se Irineu jamais o fez .

Final


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MensagemAssunto: Re: As cisternas rotas da Patrística   As cisternas rotas da Patrística Empty19/4/2008, 5:54 pm

[Originalmente postado por Ronaldo]


CISTERNAS ROTAS


JEREMIAS, o profeta, falando das falsas fontes de ensino, chama-as de “cisternas rotas, que não retêm as águas” (2:13). Deixar as Escrituras ‘ infalí­vel Palavra de Deus ‘ para escorar-se nos chamados Pais da Igreja é, sem dúvida, abeberar-se nas cisternas rotas da confusão, da dúvida, da incerteza e da incoerência. Embora alguns desses homens tenham sido piedosos, a verdade é que não eram inspirados, e seus escritos não são infalí­veis. Pelo contrário, há neles uma eiva tremenda de absurdos e ilogismos insanáveis. Eis a amostra:

Inácio, por exemplo, pretende que se torna assassino de Cristo quem não jejua no sábado ou no domingo (1); defende a transubstanciação, considerando herege quem admite apenas o simbolismo da santa ceia (2); exalta demais a autoridade do bispo, pondo-a acima da de César, chegando ao cúmulo de afirmar que, quem não o consulta, segue a Satanás (3). É bom lembrar que, das quinze cartas atribuí­das a Inácio, oito são absolutamente falsas, e as restantes são duvidosas, cheia de interpolações e acréscimos. Não se sabe exatamente o que esse Pai escreveu!!!

Barnabé (se é que existia tal personagem), diz que a lebre muda cada ano o lugar da concepção (4), que a hiena muda de sexo anualmente (5), e a doninha concebe pela boca (6). Afirma que Abraão conhecia o alfabeto grego (séculos antes que tal alfabeto existisse) (7) ; alegoriza a Bí­blia, compara a circuncisão ao “oitavo dia” que afirma ser o dia de reunião (quando não existe oitavo dia na semanal) (8’). Sua epí­stola é espúria, disparatada e não merece crédito.

Justino era quiliasta*; ensinava, entre outros absurdos, que os anjos do Céu comem maná (9), e que Deus, no princí­pio do mundo, deu o Sol para ser adorado. (10)

Clemente de Alexandria sustenta que os gregos se salvam pela sua sabedoria (11); afirma que Abraão era sábio em astronomia e aritmética, e que Platão era profeta evangélico. (12) Erra demasiada e crassamente nas citações que faz da Bí­blia.

Tertuliano, o que mais heresias ensinou, era sarcástico, injurioso, apaixonado, colérico, fanático e aderiu à heresia montanista.** Diz regozijar-se com os sofrimentos dos í­mpios no inferno (13) Afirma que os animais oram (14). Defende o purgatório, a oração pelos mortos, e outros despautérios doutrinários (15)

Eusébio (já além da era patrí­stica) era ariano.***

Irineu quer que as almas, separadas do corpo, tenham mãos e pés (16) Defende a supremacia de Roma, alegando que a Igreja tem mais autoridade do que a Palavra de Deus (17) Diz que os “animais imundos” são os judeus (18) defende ardorosamente o purgatório (19), e chega até a dar a idade certa de Cristo que, segundo ele, tinha quase cinqüenta anos (20)

Poderí­amos alongar esta relação citando outros “pais” e seus despautérios. Par aí­ se vê, porém, o absurdo de citá-los para comprovar doutrina. Enquadram-se perfeitamente na conceituação do profeta Jeremias: são verdadeiras cisternas rotas.

Adão Clarke, abalizado comentarista evangélica, depois de considerar a obscuridade dos escritos destes “pais,” conclui: “Em ponto de doutrina a autoridade deles é, a meu ver, nula.” (21)

Eduardo Carlos Pereira, douto escritor evangélico, disse que a patrí­stica além de constituir-se “testemunha falí­vel de autoridade humana,” era “tradição que a crí­tica não pode sequer firmar no terreno digno da História.” Diz ainda que se trata de “tradição confusa e contraditória.” E remata: “Pululam, nos anais primitivos da Igreja, escritos espúrios ou apócrifos, que revelam a tendência perigosa para a ficção e para as lendas, que degeneraram largamente nas fraudes pias dos tempos medievais.” (22)

O Arcediago Farrar acrescenta: “Há pouquí­ssimos deles cujas páginas não estejam repletas de erros, erros de método, erros de fatos, erros históricos, de gramática, e mesmo de doutrina.” (23)

Mosheim, afamado historiador eclesiástico confirma: “Não é de admirar que todas as serras dos cristãos podem encontrar nos chamados pais algo que favoreça sua própria opinião e sistemas.” (24)

Sim, os escritos patrí­sticos provam tudo, amparam a maior heresia. O leitor agora vai ter um choque ao ler estas estarrecedoras declarações, extraí­das de uma publicação batista, antiga mas autêntica. Em resposta um jovem ministro que perguntara ao jornal como poderia provar a sua congregação uma coisa, quando nada encontrasse com que prová-la, na Bí­blia, o pastor Levi Philetus Dobbs D. D. escreveu o seguinte:

“Recomendo, no entanto, um judicioso emprego dos Pais em geral, da mais alta confiança para qualquer pessoa que esteja na situação do meu consulente. A vantagem dos Pais é dupla: em primeiro lugar porque exercem grande influência sobre as multidões; em segundo lugar porque você poderá encontrar o que quiser nos Pais. Não creio que haja opinião mais tola e manifestamente absurda, para a qual você não possa encontrar passagens para sustentá-la nas páginas daqueles veneráveis homens de experiência. E para a mente comum, tanto vale um como outro. Se acontecer que o ponto que você quer provar nunca tenha ocorrido aos Pais, então você pode facilmente mostrar que eles teriam tomado seu lado se apenas tivessem pensado no assunto.

“E se, por acaso, nada há para sustentar, mesmo remotamente, de maneira favorável o ponto em questão, não desanime: faça uma boa e vigorosa citação e coloque nela o nome dos Pais, e pronuncie-a com ar de triunfo. Ela será igualmente valiosa. Nove décimos do povo não se detém a indagar se a citação apóia a matéria em debate. Sim, irmão, os Pais são a sua fortaleza. Eles são a melhor dádiva do Céu ao homem que tenha uma causa que não possa ser amparada por nenhum outro modo.” (25) (Grifos acrescentados.)

Duvidarí­amos dessa monstruosidade se não a tivéssemos lido em letra de forma!!!

Citação de Inácio

Diz o oponente: “Inácio, discí­pulo de João, o apóstolo, escreveu cerca do ano 100 da nossa era o seguinte: ‘Aqueles que estavam presos às velhas coisas vieram a uma novidade de confiança, não mais guardando o sábado, porém vivendo de acordo com o dia do Senhor.”

Vamos passar esse argumento pelo crivo da crí­tica e ver o que restará dele.

1. A crí­tica não confirma que Inácio fosse discí­pulo de João, nem que esse escrito date precisamente do ano 100. Como se disse no preâmbulo, a Inácio são atribuí­das 15 epí­stolas. Serão autênticas? Diz a Enciclopédia Britânica, a respeito:

“É agora opinião universal dos crí­ticos que as primeiras oito dessas pretensas cartas de Inácio são espúrias. Trazem em si provas indubitáveis de serem produto de uma época posterior àquela em que Inácio viveu... Por unanimidade são hoje postas à parte como falsificações...” (Grifos acrescentados).

Depois de considerações crí­ticas textuais dos “escritos” de Inácio conclui:

“... alguns vão a ponto de negar que tenhamos qualquer escrito autêntico de Inácio, enquanto outros, embora admitindo as sete cartas mais curtas como provavelmente sendo dele, ainda duvidam muito de que estas estejam livres de intercalaçõe

PROSSIGAMOS seguindo o oponente em seu refúgio pela seara patrí­stica em busca de “provas” da observância do domingo, já que não as encontrou irrecorrivelmente nas Escrituras. Veremos tão frágeis castelos de cartas desmoronarem-se irremediavelmente.

O Inaceitável Barnabé

Diz-nos ele: “Barnabé, A. D. 120, diz: ‘Nós guardamos o dia oitavo com alegria, no qual também Jesus ressurgiu dos mortos, e tendo aparecido ascendeu ao Céu.”

É nulo, absolutamente nulo o valor desse testemunho. Quanto à idoneidade e credibilidade desse suposto Barnabé (quem teria sido?) veja-se o que dissemos no preâmbulo do artigo precedente. E esta epí­stola equí­voca, inçada de absurdos e futilidades, encontrada em 1844 pelo sábio alemão Tischendorf num convento ao sopé do monte Sinai, com muita benevolência da crí­tica foi datada de meados do século II, época em que a apostasia começara a infiltrar-se na igreja cristã, e o “festival da ressurreição” também ia sendo observado, como conseqüência da forte oposição aos judeus.

A “epí­stola” é absolutamente apócrifa e até pais da igreja como Eusébio, Jerônimo e Agostinho negam-lhe autoridade. Uma simples leitura de toda a epí­stola evidencia-lhe o caráter espúrio, a começar das absurdas alegorias que faz de fatos e festas do Velho Testamento. Coisa totalmente inaceitável. Ocupemo-nos da parte invocada pelo oponente, tangenciada com a observância do domingo.

O contexto do capí­tulo 15 nos informa que o citado Barnabé estabelece um paralelo inadmissí­vel, ilógica e aberrante, querendo forçar um inexistente “oitavo dia” (a semana ó tem sete) a ser uma continuação do princí­pio judaico da cerimônia da circuncisão e isto porque ‘ na obtusa relação que esse hipotético Barnabé estabelece ‘ aquele rito se fazia ao “oitavo” dia do nascimento do varão israelita. É de pasmar! É de estarrecer! Salta aos olhos de qualquer pessoa a futilidade, a insanidade deste argumento (?), pois o corte do prepúcio ocorria uma ó vez na vida do judeu, e o dia de guarda (como era ignorante esse Barnabé!) ocorre semanalmente. Tão arrevesada e descabida é essa idéia que nenhum comentarista dela toma conhecimento. E é nesse emaranhado de incoerências que se vai buscar “prova” para o que não se pode provar pela Palavra de Deus.

Justino Refere-se ao “Dia do Sol”

Escreve o grande advogado dominguista de O Sabatismo à Luz da Palavra de Deus: “Justino Mártir, A. D. 140, disse: ‘No dia chamado domingo há uma reunião num certa lugar de todos os que habitam nas cidades ou nos campos, e as memórias dos apóstolos e os escritos dos profetas são lidos... Domingo é o dia em que todos nós nos reunimos em comum, porque é o primeiro dia em que Deus fez o mundo, e porque no mesmo dia Jesus Cristo nosso Salvador levantou-Se dos mortos. Ele foi crucificado no dia anterior ao de Saturno (sábado) e no dia após o de Saturno, que é o dia do Sol (Domingo), tendo aparecido aos Seus apóstolos e discí­pulos, ensinou-lhes estas coisas as quais vos temos apresentado para a vossa consideração-- (Apologia, cap. 67).”

Tendenciosa e infeliz esta citação. Tradução errada, porquanto a palavra domingo que aí­ consta três vezes ERA INTEIRAMENTE DESCONHECIDA naquele tempo (meados do segundo século). O original de Justino diz exatamente o seguinte:

“No dia chamada DO SOL, faz-se uma reunião de todos os que moram nas cidades e nos distritos rurais e se lêem as memórias dos apóstolos e os escritos dos profetas... No DIA Do SOL realizamos uma reunião em conjunto, no qual dia Deus, havendo mudado a obscuridade e a matéria, fez o mundo; e Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dos mortos no mesmo dia. Fora crucificado um dia antes ao [dia] de Saturno e no dia que segue ao [dia] de Saturno ‘ o DIA DO SOL ‘ tendo aparecido aos apóstolos e discí­pulos ensinou-lhes estas coisas que submetemos à vossa consideração.” (Versais e grifos acrescentados.)

Note-se a diferença! A palavra domingo aí­ é pura invenção do oponente, porquanto o original menciona tão-somente dia do Sol ‘ o feriado pagão vigente naqueles tempos. Justino vivia em meio ao surto expansionista do mitraí­smo, culto de adoração solar que se implantara no Império. Esta Primeira Apologia endereçava-se a Antônio Pio e ao povo romano, e nela Justino refere-se aos mistérios de Mitra como coisa conhecidí­ssima de seus leitores. Em outro documento, o Diálogo com Trifo, Justino menciona claramente o mitraí­smo por duas vezes.

Se a citação de Justino Mártir prova alguma coisa, prova apenas isto: que nos meados da segundo século, os cristãos já estavam adotando práticas pagãs, em virtude da forte campanha antijudaica e também. começando a cortejar o Estado, fato que continuou com o epiódio de Constantino. É isto o que provam as palavras acima de Justino. É isto o que os adventistas crêem e ensinam. É isto o que a História regista: a apostasia gradual. Tudo isto ocorreu sem a menor sanção escriturí­stica ‘ sem a mí­nima autoridade da Palavra de Deus. E esse primeiro dia da semana não era dia de guarda, pois após a reunião matinal, os cristãos retornavam ao trabalho.

Justino jamais chamou ao primeiro dia da semana “domingo” e muito menos de “dia do Senhor” ‘ designação que posteriormente se ligaria ao dia espúrio. Sim Justino refere-se unicamente à “semana astrológica” do paganismo, e ao fato de o “festival da ressurreição” celebrar-se após o sábado bí­blico, que ainda era o dia de guarda. Esse dia de reunião, chama-o de “dia do Sol.” No mesmo trecho se menciona o sábado como “dia de Saturno,” o sétimo dia da “semana astrológica.”

Aí­ está a semana planetária do paganismo, que deu origem aos nomes dos dias da semana em quase todos os idiomas.

A tí­tulo de informação e para robustecer o argumento, mencionamos ainda os dias semanais em algumas lí­nguas de origem latina: o “dia do Sol” do mitraí­smo passou posteriormente, com implantação do costume apóstata, a designar-se “dia do Senhor”, e os cristãos também o fizeram relacionando-o com Cristo.
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MensagemAssunto: Re: As cisternas rotas da Patrística   As cisternas rotas da Patrística Empty19/4/2008, 5:54 pm

O Sol Como “Senhor” do Império Romano


Sabemos que, no Império Romano, o deus-Sol Mitra era popularmente designado como o Sol Invictus (o Sol invencí­vel) ‘ ocorrem com certa freqüência expressões como “Sanc ‘ que se designava o Sol, na verdade significava “Senhor.” Nos almanaques chineses consta o “dia de Mih” (dia de Mitra) que se traduz por “dia do Senhor.” Em inscrições romanas relacionadas com o mitraí­smo ‘ culto do Sol invencí­vel ‘ ocorrem com certa freqüência expressões como “Sancto Domino Invicto Mithrae” (o Santo Senhor Mitra Invencí­vel), “Domino Soli” (o Senhor, o Sol) “Domino Soli Sacrum” (sagrado ao Senhor, o Sol), “Domino Soli Sacro” (ao Senhor, o Sol sagrado). O imperador Aureliano chegou a proclamar oficialmente o Sol como Sol

CAUSA pena a insegurança dos que se agarram à patrí­stica para salvar uma causa perdida. Os chamados pais da igreja, como vimos, também ensinaram os maiores dislates e absurdos, e as mais desbragadas heresias. Replicam os oponentes que, se os citam, fazem-no apenas como referência histórica para provarem que os pais se referiam a um “costume já implantado na igreja subapostólica.”

Ora, se isto é verdade então forçosamente, por coerência e honestidade mental, terão que admitir que o batismo de afusão, o purgatório, os jejuns cerimoniais, fórmulas, orações pelos mortos e outros disparates eram “costumes” da igreja e, como tais, devem ser aceitos e praticados em nossos dias ‘ embora tais costumes contrariem os claros ensinos dos livros canônicos!!! Se eram exatas as informações que davam de um fato, por que o seriam menos em relação a outros fatos?

Analisemos outras cisternas rotas onde se abebera o autor de O Sabatismo à Luz da Palavra de Deus para basear uma “prova” em favor da guarda do domingo, já que não a encontrou nas páginas inspiradas da Bí­blia.

Uma citação de Bardesanes

Sem indicar a fonte direta, diz o autor: “Bardesanes, de Edessa, A. D. 180, declara: ‘Num dia, o primeiro da semana nós nos reunimos’.” Não sabemos de quem é o grifo, nem de que livro extraiu a cita, porque quase todas as obras de Bardesanes se perderam, excetuando-se fragmentas de seus Hinos à Alma inseridos num apócrifo Atos de S. Tomé, e Sobre a Fatalidade, conservados por Eusébio.

O Livro de Leis de Diversos Paí­ses lhe é atribuí­do por Eusébio, Epí­fano e Teodureto, mas crê-se que tal obra seja, se não total pelo menos em grande parte de um de seus discí­pulos. Esse Bardesanes era gnóstico e instituiu um sistema religioso considerado herético, especulativo como o valentinianismo, e muito influenciado pela mitologia e astrologia caldaicas. Suas especulações cosmogônicas são do paganismo mesopotâmico. Tinha concepção docetista de Cristo, afirmando que Ele não possuí­a corpo real nem padecera sofrimentos. Negava-Lhe a ressurreição. Se alguém quiser um completo perfil desse heresiarca, basta ler o que sobre ele diz a enciclopédia “Schaff-Herzog”.

Pois bem, esse Bardesanes que escreveu em começos do século III (quando a apostasia gradual ganhava corpo) diz que num primeiro dia da semana se reuniam. Não afirma que era domingo, tampouco que se tratava já do dia do Senhor, e muita menos que já esse dia fosse dia de guarda.

Um herege não tem peso como autoridade em matéria religiosa, e ainda que se pudesse provar que se reuniam num primeiro dia da semana, não indica que tal prática tivesse a sanção de Cristo, da Palavra de Deus ou clarí­ssima recomendação apostólica. “A Mim me deixaram ‘ o manancial de águas vivas ‘ e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retém as águas.” Jer. 2:13.

Clemente de Alexandria

É bom reler o que dissemos a respeito desse pai na introdução do capí­tulo Cisternas Rotas ‘ I. Seus escritos são uma mescla de filosofia pagã com cristianismo. Schaff e Herzog afirmam que Clemente era inepto para discernir entre o bem e o mal. Farrar menciona que ele punha em pé de igualdade livros apócrifos e livros canônicos.

Afirma que ele não conhecia bem as Escrituras, pais citava versí­culos que não existem. Afirmou Clemente que Jeremias era o autor dos livros apócrifos Sabedoria de Salomão e o de Baruque. Cria que a versão Septuaginta era inspirada, bem como a Sibila. Diz que Platão era profeta que predisse o estabelecimento do domingo, no décimo capí­tulo da “República”. Seus livros Stromata constituem um amontoado de coisas inaproveitáveis.

A cita do oponente é a seguinte: “Clemente de Alexandria, no Egito, A. D. 194: ‘Ele cumprindo o preceito, conforme o Evangelho, guarda o dia do Senhor, quando abandona uma disposição má e assume aquela do gnóstico, glorificando em si a ressurreição do Senhor’.”

Clemente, sem dúvida, refere-se ao festival da ressurreição que se celebrava no primeiro dia da semana, mas que ainda não era dia de guarda, porquanto, depois da cerimônia, os crentes retornavam às suas ocupações. Era, sem dúvida, o “costume” que, com o correr do tempo, determinou a observância oficial do domingo, sem, contudo, amparar-se em qualquer base das Escrituras.

Há no trecho citado de Clemente alusão a um INEXISTENTE preceito (?) do evangelho. O leitor terá imediatamente dez milhões de cruzeiros se nos mostrar esse preceito dominguista em qualquer dos evangelhos. Reconhecendo, também, que tal preceito NÃO EXISTE, o nosso gratuito opositor apela para a fantasia... E imagina esta saí­da [que bem demonstra a derrota fragorosa): “Isto parece indicar [tudo é vago, nebuloso, hipotético, “parece”] que Jesus, entre a ressurreição e a ascensão deu mandamento a respeito do primeiro dia da semana.” Fantasia! Fantasia! Fantasia! Tudo inócuo. Tudo sem o menor valor probante, e ó prova a insustentabilidade de uma posição antibí­blica. E é com tais expedientes indignos que os adversários dos adventistas justificam a deliberada transgressão do quarto mandamento da Lei de Deus.

Tertuliano

Diz o oponente: “Tertuliano, na África, A. D. 200: ‘Nós solenizamos o dia após o sábado em contradição àqueles que chamam a este dia o seu sábado’. (Apologia, cap. 16)’.”

Muito bem! Agora leiamos algo mais da pena desse mesmo Tertuliano para ver se, de fato, era o domingo uma instituição bí­blica, certa, pací­fica, um “dia de guarda” intocável. Nessa mesma Apologia, no mesmo capí­tulo, há este trecho: “Outros... pensam que a Sol é o deus dos cristãos, porque é sabido que adoramos em direção a Leste e festejamos o dia do Sol.” Isto é sintomático, e revela que tal prática não era bí­blica.

Ainda Tertuliano diz em outro lugar: “Somente no dia da ressurreição do Senhor deviam [os cristãos] guardar-se não apenas contra o ajoelhar-se, mas contra todos os gostos de serviço de solicitude, ADIANDO MESMO NOSSAS OCUPAÇÕES para não darmos qualquer lugar ao maligno.” (Versais nossos.) É claro que, por aquele tempo, os cristãos, após a reunião matinal do festival da ressurreição, retornavam aos seus trabalhos. O primeiro dia da semana era, na época, dia de trabalho normal. Os cristãos não se abstinham das tarefas seculares.

Diz o pastor Albert C. Pittman, Pastor da Primeira Igreja Batista de Dayton, Ohio, EE.UU.: “Primitivamente reuniam-se [os cristãos] no domingo de manhã porque o domingo não era um dia feriado, mas sim um dia de trabalho normal como os demais ... Cantavam um hino a Cristo, ligavam-se por um voto de companheirismo, partilhavam uma merenda religiosa e, em seguida, retornavam ao seu trabalho, para os labores da semana.” ‘ The Watchman Examiner (jornal batista) de 25 de outubro de 1956. (Grifos nossos.)

E tem mais: O mesmo Tertuliano, (em quem o acusador procura escorar-se), escrevendo a respeito de certas práticas em voga no seu tempo, entre elas o festival da ressurreição, conclui que provinham da tradição, sem o menor apoio nas Escrituras.

A discussão acima é baseado no livro Subtilezas do Erro, de Arnaldo B. Christianini.
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MensagemAssunto: Re: As cisternas rotas da Patrística   As cisternas rotas da Patrística Empty19/4/2008, 5:54 pm

Do Sábado Para o Domingo:


COMO A MUDANÇA OCORREU?

Samuele Bacchiocchi, Ph. D.
Professor Jubilado de Teologia e História Eclesiástica, Universidade Andrews

Freqüentemente as pessoas me pedem um sumário conciso e simples das descobertas de minha investigação de como o sábado foi mudado para o domingo na igreja primitiva durante meu perí­odo de estudos doutorais de cinco anos na Pontifí­cia Universidade Gregoriana de Roma, Itália. Eles se queixam com razão que minha dissertação é muito puxada em termos de tempo e concentração. Preferem uma explicação mais simples que possam compartilhar mais prontamente com pessoas interessadas. Para atender essa demanda tento neste artigo apresentar os pontos altos de minha pesquisa, numa maneira simples e bem-estruturada. Sintam-se livres para imprimir, usar e distribuir o texto deste estudo em qualquer formato que julgarem necessário para seus esforços de divulgação das informações nele contidas.


ESCLARECIMENTO IMPORTANTE

Constantino não introduziu a observância dominical. Ele simplesmente tornou o Dia do Sol um feriado civil por promulgar a famosa Lei Dominical de 321 AD. A razão por que Constantino fez do domingo um feriado civil é simplesmente porque naquele tempo o Dia do Sol havia se tornado popular tanto entre os pagãos quanto entre os cristãos. Isso é indicado pela própria linguagem da legislação: “No venerável Dia do Sol . . .” 1 É evidente que na época o dia do sol já era “venerável”, ou seja, popular e respeitado.
O processo que levou à adoção do dia do sol como um feriado civil para todo o Império Romano começou na primeira parte do segundo século, quando o dia do sol foi avançado do segundo dia da semana para a posição de primeiro e mais importante dia semanal. Esse processo é discutido no capí­tulo 8 de From Sabbath to Sunday [Do Sábado Para o Domingo],e a isso se fará breve alusão no final deste artigo. Há indicações bastante convincentes de que quando os romanos avançaram o dia do sol para o primeiro e mais importante dia da semana, os cristãos gentios, que tiveram uma formação pagã, foram influenciados a adotar o mesmo dia do sol, a fim de mostrar separação dos judeus e identificação com os romanos. Para dizê-lo de modo diferente, eles decidiram estar politicamente corretos com a adoção do dia do sol, antes que serem biblicamente corretos observando o sábado do sétimo dia.
A guarda do sábado é comparada nas Escrituras a fidelidade a Deus, e a profanação do sábado a apostasia. Mediante o profeta Ezequiel Deus lamenta: “a casa de Israel se rebelou contra mim no deserto . . . profanaram grandemente os meus sábados” (Eze. 20:13). A razão para essa equação não é difí­cil de ver. Uma pessoa que ignora o Senhor em Seu santo dia, por fim ignorará o Senhor todo dia.
Em vista da importância vital que o sábado desempenha na experiência religiosa do povo de Deus, haveria de ser muito surpreendente se o Maligno não tivesse se metido com o mandamento do sábado durante os três primeiros séculos do cristianismo. Por levar muitos cristãos a rejeitarem o sábado logo após o iní­cio do cristianismo, o diabo teve êxito em promover falsos tipos de culto. Nunca devemos esquecer que o Grande Conflito em grande medida centraliza-se sobre adoração: ou seja, a verdadeira adoração versus a falsa adoração. E o sábado é essencial para a adoração, porque nos convida a adorar a Deus por consagrar nosso tempo e vida a Ele numa forma especial todo sétimo dia.


Do Sábado Para o Domingo: COMO A MUDANÇA OCORREU?

Poucos assuntos têm sido tão calorosamente debatidos na história cristã quanto a mudança do dia de repouso e adoração do sábado para o domingo no cristianismo primitivo. Mais de 3.000 dissertações e tratados foram publicados sobre este assunto desde o tempo da Reforma. Uma razão destacada para esse incessante interesse na origem histórica do domingo tem sido a necessidade de definir a natureza da observância dominical em seu relacionamento com o sábado. O debate muitas vezes gira em torno dessa questão fundamental: Originou-se o domingo como uma continuação do sábado e, conseqüentemente, devia ser observado como um DIA de repouso e adoração a exemplo do sábado? Ou acaso o domingo começou como uma instituição cristã inteiramente nova, radicalmente diferente do sábado, e conseqüentemente devia ser observado mas como uma HORA do culto semanal?
Os cristãos têm estado igualmente divididos em sua resposta a estas perguntas. Por um lado, há aquelas igrejas que seguem a tradição calvinista que vê o domingo como o sábado cristão, e assim para ser observado como um DIA SANTO de descanso e culto ao Senhor. Por outro lado, existem aquelas igrejas que seguem as tradições católica e luterana que vêem o domingo como diferente do sábado, e assim para ser observado primariamente como a hora semanal de culto.
A atual crise da observância do domingo tem despertado um renovado interesse pela questão da origem do domingo e sua relação para com o sábado. Dirigentes eclesiásticos católicos e protestantes estão profundamente preocupados com o alarmante declí­nio na freqüência à igreja. Na Itália, de onde procedo, estima-se que somente 5% dos católicos assistem regularmente à missa aos domingos. Cerca de 95% dos católicos vão à igreja três vezes na vida: quando nascem, se casam e morrem [o autor usa a expressão cômica em inglês: “when they are hatched, matched and dispatched”‘”quando são chocados, acasalados e despachados”. No último caso eles nem vão à igreja, são carregados até lá. . .]. A situação é essencialmente a mesma na maioria dos paí­ses ocidentais onde a assistência à igreja atinge menos de 10% da população cristã. A freqüência chocantemente baixa à igreja é vista pelos lí­deres eclesiásticos como uma ameaça à sobrevivência não ó de suas igrejas, mas do próprio cristianismo. Afinal de contas, a essência do cristianismo é um relacionamento com Deus e se os cristãos ignoram o Senhor no dia que eles consideram o Dia do Senhor, as chances são de que ignorarão o Senhor todos os dias da semana.
Agudamente cientes das implicações da crise da observância dominical para o futuro das igrejas cristãs numerosos dirigentes eclesiásticos e eruditos estão reexaminando a história e teologia do domingo num esforço de promover mais eficazmente sua observância. Como já feito notar, uma questão relevante abordada em recentes dissertações, livros e artigos, é o relacionamento entre o sábado e o domingo.


Dois Pontos de Vista Concernentes à Origem do Domingo

Em suma, há duas principais posições sobre a origem histórica do domingo e seu relacionamento com o sábado bí­blico. O ponto de vista antigo e tradicional, que pode ser identificado desde o cristianismo primitivo, sustenta que há uma descontinuidade radical entre o sábado e o domingo, e, conseqüentemente, o domingo não é o sábado. Os dois dias diferem em origem, significado e experiência. O ponto de vista mais recente, que é articulado pelo próprio Papa João Paulo II em sua Carta Pastoral Dies Domini, mantém que o domingo começou como a incorporação e “expressão plena” do sábado e, conseqüentemente, deve ser observado como um imperativo bí­blico, com suas raí­zes no próprio mandamento do sábado.2
Segundo o ponto de vista tradicional, que tem sido sustentado pela Igreja Católica e aceito por aquelas denominações protestantes que seguem a tradição luterana, o sábado foi uma instituição mosaica temporária dada aos judeus, ab-rogada por Cristo e, em conseqüência, não mais vigente hoje. Os cristãos adotaram a observância do domingo, não como uma continuação do sábado bí­blico, mas como uma nova instituição estabelecida pela igreja para celebrar a Ressurreição por meio da celebração da Santa Ceia.
Essa posição tradicional tem sido mantida pela Igreja Católica, que reivindica a responsabilidade para mudar o sábado para o domingo. Por exemplo, Tomás de Aquino (1225-1274 AD), considerado o maior teólogo católico que já viveu, declara explicitamente: “A observância do Dia do Senhor tomou o lugar da observância do sábado, não por virtude do preceito [bí­blico] mas por instituição da Igreja”.3 Tal ponto de vista tem sido reiterado ao longo dos séculos em catecismos católicos oficiais onde uma declaração semelhante a esta é geralmente encontrada: “Observamos o domingo em lugar do sábado porque a Igreja Católica, em virtude de sua autoridade, transferiu a solenidade do sábado para o domingo”.4
Recentemente, contudo, tem surgido eruditos tanto católicos quanto protestantes que argumentam por uma origem apostólica para a observância do domingo. Segundo esses estudiosos, os apóstolos mesmos escolheram o primeiro dia da semana como novo sábado cristão para comemorar a ressurreição de Cristo.
Essa opinião é defendida em grande extensão pelo Papa João Paulo II em sua Carta Pastoral Dies Domini (O Dia do Senhor), que foi promulgada em 31 de maio de 1998. Nesse extenso documento (mais de 40 páginas) o Papa faz um ardente apelo para um reavivamento da observância do domingo apelando ao imperativo moral do mandamento do sábado. Para o Papa, o domingo deve ser observado, não meramente como uma instituição estabelecida pela Igreja Católica, mas como um imperativo moral do Decálogo. A razão é que o domingo supostamente se originou como a incorporação e “plena expressão” do sábado e, por conseqüência, deve ser observado como o sábado bí­blico.
João Paulo se desvia da tradicional posição católica presumivelmente porque deseja desafiar os cristãos a respeitarem o domingo, não meramente como uma instituição da Igreja Católica, mas como um mandamento divino. Ademais, por enraizar a guarda do domingo no mandamento do sábado, o Papa oferece as mais vigorosas razões morais para instar os cristãos a “assegurarem que a legislação civil respeite seu dever de manter o domingo santo”.5
As tentativas feitas pelo Papa e outros dirigentes eclesiásticos para fundamentar a observância do domingo no mandamento do sábado suscita esta importante indagação: “Se se espera que os cristãos observem o domingo como o sábado bí­blico, por que não deviam observar logo o sábado?” O que havia de errado com o sábado bí­blico que careceu de ser mudado para o domingo? Aplicar o mandamento do sábado à observância do primeiro dia da semana, o domingo, pode ser confuso, para dizer o mí­nimo, porque o quarto mandamento estabelece a observância do sétimo dia, não do primeiro dia. Essa confusão pode explicar por que muitos cristãos não levam a sério a observância do domingo.


As Conclusões de Minha Pesquisa

Para encontrar uma resposta a estas perguntas quanto ao tempo, lugar, causas e conseqüências da mudança do sábado para o domingo passei cinco anos na Pontifí­cia Universidade Gregoriana, de Roma, examinando os antigos documentos cristãos para a minha dissertação doutoral. Os resultados de minha investigação foram publicados em minha tese From Sabbath to Sunday: A Historical Investigation of the Rise of Sunday Observance in Early Christianity [Do Sábado Para o Domingo: Uma Investigação Histórica do Surgimento da Observância do Domingo no Cristianismo Primitivo]. A dissertação foi publicada em 1979 pela gráfica da Universidade com o imprimatur católico oficial. O Papa Paulo VI concedeu-me uma medalha de ouro por ter alcançado a distinção acadêmica máxima, summa cum laude, nessa pesquisa e no trabalho escolar. Neste artigo tentarei compartilhar alguns dos pontos altos de minha investigação.6
Para ser breve, permitam-me expor de iní­cio a conclusão da pesquisa. Declarado objetivamente, minha análise dos dados bí­blicos e históricos indica que a mudança do sábado para o domingo não se deu no princí­pio do cristianismo por autoridade de Cristo ou dos apóstolos que supostamente escolheram o primeiro dia da semana como o novo sábado cristão para celebrar a ressurreição de Cristo. Antes, a mudança começou cerca de um século após a morte de Cristo durante o reinado do imperador romano Adriano (cerca de 135 AD), em resultado de uma interação de fatores polí­ticos, sociais, pagãos e religiosos. Essencialmente, foi a necessidade de evitar a repressiva legislação antijudaica promulgada em 135 AD pelo Imperador Adriano que levou o bispo de Roma a ser o pioneiro em mudar o sábado para o domingo, e a Páscoa para o domingo de Páscoa. Essas mudanças destinavam-se a mostrar a separação e diferenciação dos cristãos para com os judeus numa época em que as práticas religiosas judaicas eram proibidas pelo governo romano.
As implicações dessa conclusão são de que a mudança do sábado para o domingo não foi meramente uma alteração de nomes ou números, mas uma mudança de significado, autoridade e experiência. Para ajudá-los a ver como cheguei a esta conclusão, eu os conduzirei a seguir passo a passo através das partes principais de minha pesquisa. Examinaremos, entre outros dados, o suposto papel de Cristo, de Sua ressurreição e da igreja de Jerusalém na mudança do sábado para o domingo. Também consideraremos a influência fundamental da igreja de Roma e a adoração do sol na adoção do domingo e as razões para isso.

[Continua no próximo quadro]
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MensagemAssunto: Re: As cisternas rotas da Patrística   As cisternas rotas da Patrística Empty19/4/2008, 5:55 pm

[Continuação do quadro anterior]


O Antijudaí­smo e a Origem do Domingo

Para compreender o que induziu muitos cristãos a abandonarem o sábado--um festival milenar profundamente enraizado na consciência e estilo de vida judaica e judaico-cristã--é importante entender a situação ócio-polí­tica da época. A partir da Primeira Revolta Judaica contra Roma (66 AD), várias medidas repressivas--militares, polí­ticas e fiscais’foram impostas pelo governo de Roma sobre os judeus, diante das renascidas expectativas messiânicas que explodiram em violentas revoltas em muitas partes do Império.
Militarmente, Vespasiano e Tito esmagaram a Primeira Revolta Judaica, e Adriano, a Segunda Revolta Judaica (132-135 AD). Politicamente, Vespasiano (69-79 AD) aboliu o Sinédrio e o ofí­cio do Sumo Sacerdote; mais tarde Adriano tornou ilegal a prática do judaí­smo por completo (por volta de 135 AD). Fiscalmente, os judeus se viram sujeitos a um imposto discriminatório (o fiscus judaicus), introduzido por Vespasiano e intensificado primeiro por Domiciano (81-96AD) e mais tarde por Adriano (117-138 AD).
Essas medidas repressivas foram intensamente sentidas em Roma, como indicado pelos comentários antijudaicos sarcásticos de escritores como Sêneca (morto em 65 AD), Pérsio (34-62 AD), Petrônio (ca. 66 AD), Quintiliano (ca. 35-100 A.D), Marcial (ca. 40-104 AD), Plutarco (ca. 46-119 AD), Juvenal (125 AD) e Tácito (ca. 55-120 AD), todos eles habitantes de Roma na maior parte da vida profissional. Eles zombam dos judeus racial e culturalmente, desprezando sua observância do sábado e circuncisão como exemplos de desprezí­veis supertições judaicas.
As medidas repressivas antijudaicas atingiram um clí­max durante o reinado do Imperador Adriano (117-138 AD) em resultado de violentas rebeliões judaicas contra os romanos que foram alimentadas pelas reavivadas expectações messiânicas. Após três anos de sangrentas lutas (132-135 AD), a fim de esmagar a segunda grande rebelião judaica palestina’chamada segundo o seu lí­der, a revolta e Barcocheba’o Imperador Adriano em 135 AD adotou as medidas mais repressivas contra os judeus. Ele não ó destruiu a cidade de Jerusalém e proibiu que os judeus entrassem na cidade, como também pôs fora da lei categoricamente a prática da religião judaica em geral, e do sábado em particular.7
Para evitar a repressiva legislação romana antijudaica e anti-sabática, muitos cristãos seguiram a liderança do bispo de Roma em mudar o tempo e o modo de observar as duas instituições associadas ao judaí­smo, ou seja, o sábado e a Páscoa. O sábado foi mudado para o domingo, e a Páscoa para o Domingo de Páscoa. O que facilitou essas mudanças históricas foi o desenvolvimento na época de uma teologia “cristã” de desprezo pelos judeus.
Todo um corpo de literatura cristã Adversus Judaeos (“Contra todos os judeus”) começou a aparecer nesse tempo. Seguindo o rumo de escritores pagãos, autores cristãos desenvolveram uma teologia “cristã” de separação dos judeus e desprezo a eles. Costumes caracterí­sticos judaicos, como a circuncisão e a guarda do sábado, foram proclamados como sinais da depravação judaica.
A condenação da observância sabática como sinal da impiedade judaica, contribuiu para o abandono do sábado e adoção da observância do domingo a fim de tornar claro às autoridades romanas a separação dos cristãos em relação ao judaí­smo, e a identificação com o paganismo romano. Essa mudança histórica da observância do sábado para o domingo foi liderada pela Igreja de Roma aproximadamente um século após a morte de Jesus. A Igreja de Roma era uma igreja predominantemente gentia que assumiu a liderança das comunidades cristãs após a destruição de Jerusalém em 70 AD.
Para apreciar como a Igreja de Roma dedicou-se a afastar os cristãos da observância do sábado e incentivar o culto dominical em seu lugar, mencionarei brevemente as medidas teológicas, sociais e litúrgicas estabelecias por essa igreja. Tais medidas são discutidas e documentadas num capí­tulo de minha dissertação Do Sábado Para o Domingo


Medidas Tomadas Pela Igreja de Roma

Teologicamente, o sábado foi reduzido de uma instituição criacional estabelecido por Deus para a humanidade, numa instituição mosaica dada exclusivamente aos judeus como uma marca registrada de sua depravação. Justino Mártir, por exemplo, um lí­der da Igreja de Roma (ao redor de 150 AD) argumenta em seu Diálogo Com Trifo que a observância do sábado era uma ordenança mosaica temporária que Deus impôs exclusivamente aos judeus como “uma marca para assinalá-los para o castigo que eles tanto merecem dadas as suas infidelidades”.8
É difí­cil compreender como um lí­der eclesiástico como Justino, que se tornou um mártir da fé cristã, podia rejeitar o sentido bí­blico do sábado como um sinal do compromisso do concerto com Deus (Ê xo. 31:16, 17; Eze. 20:12, 20), reduzindo-o a um sinal da depravação judaica. O que é ainda pior de aceitar é a ausência de qualquer condenação escolástica por teologia tão absurda e embaraçosa de desprezo pelos judeus’uma teologia que declaradamente interpreta errado instituições bí­blicas como o sábado a fim de dar sanção bí­blica à repressão polí­tica e social contra os judeus.
A triste lição da história é que o desejo de ser politicamente correto por apoiar polí­ticas imorais, tais como o extermí­nio dos judeus, muçulmanos e heréticos, ou a perpetração da escravidão, tem levado alguns lí­deres eclesiásticos e eruditos bí­blicos a se tornarem biblicamente incorretos. Eles elaboraram teologias antibí­blicas destinadas a sancionar práticas populares imorais. É impossí­vel calcular o dano feito a nossa sociedade e ao cristianismo em geral por essas teologias e expedientes.
A falha dos lí­deres eclesiásticos e eruditos em rejeitar a teologia de desprezo para com os judeus tem contribuí­do, entre outras coisas, para a origem da popular teologia dispensacionalista. Essa teologia, acatada por muitas igrejas evangélicas hoje, ensina entre outras coisas que Deus arrebatará a igreja secreta e subitamente antes de derramar Sua ira contra os judeus durante os sete anos finais da Tribulação. A popularidade do livro e filme Left Behind [Deixados Para Trás], que está invadindo os EUA como uma avalanche, é prova tangí­vel de quão difundido é esse ensino enganoso hoje. Tenho examinado o cenário dispensacionalista do fim dos tempos em vários de meus livros, inclusive o que tem por tí­tulo Prophetic Jigsaw Puzzle [Quebra-cabeças profético] de Hal Lindsey, em razão do qual obtive um prêmio literário em 1987 pela Associated Church Press [Imprensa Eclesiástica Associada].
Socialmente, a reinterpretação negativa do sábado como sinal da impiedade judaica levou a Igreja de Roma a transformar a observância do sábado de uma celebração e regozijo num dia de jejum e tristeza.9 O propósito do jejum do sábado não era aprimorar a observância espiritual do sábado. Antes, como enfaticamente declarado no decreto papal do Papa Silvestre (314-335 AD), o jejum do sábado tinha o desí­gnio de mostrar “desprezo pelos judeus” (exsecratione Judaeorum) e por sua “celebração” (destructione ciborum).10 A tristeza e fome resultantes do jejum capacitariam os cristãos a evitar “parecer observar o sábado com os judeus” e os incentivaria a entrarem mais ansiosa e alegremente na observância do domingo.11
O jejum semanal aos sábados desenvolveu-se como uma extensão ou equivalente ao jejum anual do Sábado de Aleluia, e tinha o fito de expressar não ó pesar pela morte de Cristo, mas também desprezo pelos judeus que eram considerados os perpetradores de Sua morte.
As motivações antijudaicas são claramente expressas por Constantino em sua carta aos bispos cristãos no Concí­lio de Nicéia (325 AD).
Em sua carta conciliar, o Imperador insta todos os cristãos a seguirem o exemplo da Igreja de Roma por adotar o Domingo de Páscoa, porque, escreveu ele, “não devemos portanto ter nada em comum com os judeus, pois o Salvador nos mostrou outro caminho. . . . Ao unanimemente adotarmos esta maneira [ou seja, o domingo de Páscoa] desejamos, queridí­ssimos irmãos, separar-nos da detestável companhia dos judeus”.12 Esta carta ao Concí­lio de Nicéia representa uma das mais claras expressões da teologia de desprezo pelos judeus, que foi criada para justificar, entre outras coisas, a mudança do sábado para o domingo e da Páscoa judaica para o Domingo de Páscoa.
Liturgicamente, a Igreja de Roma decretou que nenhuma assembléia religiosa e celebração eucarí­stica fossem realizadas no sábado. Por exemplo, o Papa Inocêncio I (402-417 AD) declarou que “segundo mantém a tradição da igreja, nestes dois dias [sexta-feira e sábado] não se deve em absoluto celebrar os sacramentos”.13 Dois historiadores contemporâneos, Socrates14 e Sozomen, confirmam o decreto de Inocêncio I. Sozomen (cerca de 440 AD) nos conta que enquanto “o povo de Constantinopla, e quase por toda parte, se reúne aos sábados, bem como no primeiro dia da semana, tal costume nunca é observado em Roma e Alexandria”.15


O Culto ao Sol e a Origem do Domingo

As medidas repressivas adotadas pelos romanos contra o judaí­smo em geral e a observância do sábado em particular acima mencionadas, nos ajudam a compreender o que contribuiu para o abandono do sábado. Mas permanece a pergunta, por que foi o domingo escolhido para mostrar separação e diferenciação com os judeus? Os cristãos poderiam ter escolhido a sexta-feira para celebrar o sacrifí­cio expiatório de Cristo para nossa redenção. A resposta se acha especialmente na influência do culto ao sol com o seu dia do sol. O deus-Sol Invencí­vel tornou-se a principal divindade do Panteão Romano pela primeira parte do segundo século e era especialmente adorado no Dies Solis, ou seja, “o dia do sol”, conhecido em nosso calendário como domingo [em inglês, Sunday, literalmente, dia do sol].
Para entender como o dia do sol tornou-se o primeiro e mais importante dia da semana romana vale observar que os romanos adotaram a semana de sete dias dos judeus pouco antes do princí­pio do cristianismo. Antes desse tempo os romanos empregavam uma semana de oito dias, conhecida como nundinum. Quando os romanos substituí­ram a sua semana de oito dias pela semana judaica de sete dias, escolheram o nome dos dias da semana segundo os sete deuses planetários, em lugar de enumerar os dias, como os judeus.16
Surpreendente, contudo, é que de iní­cio os romanos tornaram o Dies Saturni (dia de Saturno) o primeiro dia da semana, seguido pelo Dies Solis (dia do sol), que era o segundo dia.17 A razão é que durante o primeiro século o deus Saturno era tido como mais importante do que o deus Sol. Conseqüentemente, o dia de Saturno foi tornado o primeiro e mais importante dia da semana. A primazia do sábado sobre o domingo prosseguiu até princí­pios do segundo século, quando o prestí­gio do dia de Saturno foi eclipsado pelo dia do Sol.


Acaso os Romanos Observaram o Sábado Judaico?

O fato de que os romanos foram influenciados pelos judeus a adotarem a semana de sete dias e tornar o dia de Saturno (o sábado judaico) o primeiro e mais importante dia da semana suscita a pergunta: Acaso os romanos observavam a seu próprio modo o sábado judaico? Evidências históricas demonstram que os judeus de fato influenciaram os romanos a adotarem não ó sua semana de sete dias, como também algumas formas de observância sabática. A documentação e discussão sobre isso consta do capí­tulo 8 de meu livro Do Sábado Para o Domingo.
Não é claro como os romanos observavam o sábado no primeiro século. Alguns textos indicam que era considerado como um dia de má sorte (dies nefastus) para empreender negócios. Tibulo (cerca de 30 A.C.), por exemplo, explica que ele poderia ter justificado sua estada em Roma com sua adorada Délia no sábado argumentando que “o sagrado dia de Saturno o reteve”.18 De modo semelhante, Sexto Propércio, contemporâneo de Tibulo, fala do “sinal de Saturno, que traz dor a nós todos”.19
Textos como estes citados sugerem que no primeiro século o sábado era o dia em que os romanos restringiam suas atividades por uma veneração supersticiosa do deus Saturno. A observância judaica do sábado por todo o mundo romano aparentemente influenciou tal condição. Por exemplo, o filósofo estóico Sêneca lamenta que “os costumes dessa maldita nação [judeus] ganharam tal influência que são agora recebidos por todo o mundo. Os vencidos impuseram leis aos vencedores. . . . A maior parte do povo [romano] segue um ritual sem saber por que está fazendo isso”.20
O testemunho de Sêneca é confirmado pelo historiador judaico Josefo quando escreve: “Não há um ó grego ou bárbaro, nem uma única nação a que nosso costume de abster-nos do trabalho no sétimo dia não se tenha espalhado, e onde os jejuns e o acender de lâmpadas e muitas de nossas proibições na questão de alimento não sejam observadas”.21
O apologista cristão Tertuliano confirma a difundida adoção do sábado judaico como um tempo de “vadiagem e luxúria”. Respondendo à acusação dos pagãos de que os cristãos haviam adotado o culto ao sol por observarem o dia do sol, Tertuliano escreve: “Temos alguma semelhança com aqueles que dedicam o dia de Saturno à vadiagem e luxúria, conquanto eles também se distanciem muito dos costumes judaicos, do qual na verdade são ignorantes”.22
Finalmente os romanos mudaram o dia de Saturno para o dia do Sol como um dia de descanso e relaxamento, mas esse processo começou no segundo século, e não ao tempo de Constantino. O que contribuiu para essa mudança foi a crescente popularidade do deus-Sol que provocou o avanço do Dia do Sol da posição de segundo dia da semana para a de primeiro e mais importante dia da semana. Isso fez com que cada um dos demais dias avançasse um dia, e o dia de Saturno destarte tornou-se o sétimo dia da semana para os romanos, como havia sido para os judeus e cristãos.
Quando me cientifiquei sobre o avanço do Dia do Sol do segundo dia da semana no primeiro século para o primeiro dia da semana no segundo, indaguei-me: Teria esse acontecimento influenciado os cristãos gentios a adotar e adaptar o dia do Sol para o culto cristão a fim de revelar separação dos judeus e identificação com os romanos numa ocasião em que a observância do sábado era proibida pela lei romana?

[Continua no próximo quadro]
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MensagemAssunto: Re: As cisternas rotas da Patrística   As cisternas rotas da Patrística Empty19/4/2008, 5:55 pm

[Continuação do quadro anterior]


Indicações da Influência do Culto ao Sol

No decorrer de minha investigação descobri evidências diretas e indiretas apoiando esta hipótese. Indiretamente, há indicações de que pessoas que haviam adorado o deus-Sol em seus dias pagãos, trouxeram com eles para a igreja várias práticas pagãs. Evidencia-se o problema pelas freqüentes repreensões por lí­deres da igreja àqueles cristãos que veneravam o deus-Sol, especialmente no dia do Sol.23
A influência do deus-Sol pode ser vista também na arte e literatura cristã primitivas, onde a simbologia do deus-Sol é freqüentemente empregada para representar a Cristo.24 De fato, as mais antigas representações de Cristo em pinturas (datadas de cerca de 240 AD), descobertas sob o confessionário da Basí­lica de São Pedro, escavadas de 1953-1957, é um mosaico que retrata a Cristo como o Deus Sol viajando na quadriga (carruagem romana) do sol. O alvorecer também se tornou a orientação para oração e para as igrejas cristãs.25 O dies natalis solis Invicti, o aniversário do Sol Invencí­vel, que os romanos celebravam em 25 de dezembro, foi adotado pelos cristãos para celebrarem o nascimento de Cristo.
Uma indicação mais direta da influência do culto ao sol na adoração cristã do domingo tem-se no uso da simbologia da luz e do sol para justificar a real observância do domingo. Por exemplo, em sua Apologia, escrita de Roma cerca de 150 AD, Justino Mártir realça que os cristãos se reuniam “no dia do sol . . . por ser o primeiro dia em que Deus, transformando as trevas em matéria original, criou o mundo”.26
A ligação que Justino estabelece entre o dia do Sol e a criação da luz no primeiro dia da criação dificilmente seria mera coincidência. Lí­deres da igreja freqüentemente reiteravam a mesma ligação. Por exemplo, Eusébio (em torno de 260-340 AD) refere-se várias vezes à criação da luz no primeiro dia para justificar o culto dominical. Em seu Comentário Sobre os Salmos, ele escreveu: “Neste dia da luz, o primeiro e verdadeiro dia do sol, quando nos reunimos após o intervalo de seis dias, celebramos o dia de repouso santo e espiritual. . . . De fato, é nesse dia da criação do mundo que Deus declarou: ‘Haja luz, e houve luz’. É também nesse dia que o Sol da Justiça ergueu-Se por nossas almas”.27
Testemunhos como esses indicam que a adoção do Dia do Sol foi facilitada pelo tempo conveniente e simbologia efetiva do dia propiciado para comemorar dois eventos significativos da história da salvação: a criação e a ressurreição. Jerônimo (342-420 AD) expressa essas razões duplas ao dizer: “Se é chamado dia do Sol pelos pagãos, nós muito alegremente o reconheceremos como tal, uma vez que foi nesse dia que a luz do mundo apareceu e nesse dia o Sol da justiça ressuscitou”.28
Finalmente, por desaparecer a influência do culto ao sol, os cristãos não mais apelavam à criação do primeiro dia da luz para justificar a observância do domingo. A Ressurreição tornou-se a razão dominante do culto dominical.
A conclusão de minha investigação é de que a mudança do sábado para o domingo é uma ocorrência pós-apostólica ocorrida em resultado de um conjunto de fatores sociais, polí­ticos, pagãos e religiosos. O antijudaí­smo levou muitos cristãos a abandonarem a observância do sábado para diferenciá-los dos judeus numa época em que o judaí­smo em geral e a observância do sábado em particular foram tornados ilegais no Império Romano. A adoração do sol influenciou a adoção da observância dominical para facilitar a identificação dos cristãos e sua integração nos costumes e ciclos do Império Romano.


O Entendimento do Dr. Kennedy da Origem do Domingo

O Dr. James Kennedy, conhecido pregador da TV americana, de persuasão presbiteriana, adota o ponto de vista popular de que, como declarou numa série de sua programação há algum tempo, “desde o tempo da ressurreição de Jesus Cristo até nossos dias, os cristãos têm celebrado o primeiro dia da semana como o dia em que se reúnem para ouvir a pregação da Palavra de Deus, receberem a comunhão da Santa ceia, e aplicarem seus dons para a ministração aos pobres”.
A fim de defender a origem apostólica do domingo, Dr. Kennedy submete em seus sermões e notas que tenho em mãos cinco principais linhas de evidência: (1) A Ressurreição de Cristo no Primeiro Dia da Semana; (2) Os Aparecimentos de Cristo no Primeiro Dia; (3) O derramamento do Espí­rito Santo no Dia de Pentecoste que ocorreu num domingo (Atos 2:2-3); (4) As coletas de ofertas no primeiro dia da semana (1 Cor 16:1-2); (5) A celebração da Ceia do Senhor no primeiro dia da semana.
Examinemos esses argumentos em sua respectiva ordem.


(1) A Ressurreição de Cristo no Primeiro Dia da Semana

Na opinião do Dr. Kennedy, a Ressurreição e Aparecimentos de Cristo no primeiro dia da semana constituem a justificação bí­blica fundamental para a origem do culto dominical. Ele assim sumaria concisamente as supostas evidências como as seguintes declarações:

* “Vemos que Cristo ressuscitou dos mortos no primeiro dia da semana.
* Ele apareceu às mulheres no primeiro dia da semana
* Ele apareceu aos discí­pulos, exceto Tomé, no primeiro dia da semana
* Uma semana depois, no domingo, Ele apareceu a todos eles, inclusive Tomé.
* Ademais, a igreja começou no primeiro dia da semana.
* O Pentecoste era no primeiro dia da semana, e o Espí­rito Santo foi derramado sobre a igreja no primeiro dia da semana.
* O primeiro sermão cristão foi pregado no primeiro dia da semana.
* A Ceia do Senhor foi celebrada no primeiro dia da semana.
* No primeiro dia da semana eles punham à parte dinheiro para ofertas, e este tornou-se conhecido, como João descreve, o Dia do Senhor”.

Numerosos eruditos católicos e protestantes concordariam com o Dr. Kennedy, ao atribuir à Ressurreição e aparecimentos no primeiro dia da semana a razão fundamental para a escolha do domingo pela igreja apostólica. Mas a despeito de sua popularidade, o suposto papel da Ressurreição na adoção da observância do domingo carece de apoio bí­blico. Um estudo detido de todas as referências à Ressurreição revela a incomparável importância do evento, mas não propicia qualquer indicação concernente a um dia especial para comemorá-la. De fato, como Harold Riesenfeld faz notar, “Nos relatos da Ressurreição nos Evangelhos não há declaração que indique que esse grande evento da Ressurreição de Cristo deva ser celebrado num dia particular da semana no qual ocorreu”.29
Ademais, como o mesmo autor observa, “O primeiro dia da semana, nos escritos do Novo Testamento, nunca é chamado ‘Dia da Ressurreição’. Essa é uma expressão que apareceu mais tarde”.30 Seu emprego primeiro apareceu no quarto século, nos escritos de Eusébio de Cesaréia. Portanto, “dizer que o domingo foi observado porque Jesus ressuscitou nesse dia”, como S. V. McCasland declara com razão “é realmente um petitio principii [pedindo a questão], pois tal celebração poderia muito bem ser mensal ou anual e ainda ser uma observância desse dia em particular.31
O Novo Testamento não atribui qualquer significação litúrgica ao dia da ressurreição de Cristo simplesmente porque a Ressurreição era vista como uma realidade existencial experimentada por viver vitoriosamente pelo poder do Salvador Ressurreto, e não mediante uma prática litúrgica associada ao culto dominical. Paulo deseja conhecer “o poder da ressurreição” (Fil. 3:10), mas nunca menciona “o dia da Ressurreição”.
Tivesse Jesus desejado tornar memorável o dia de Sua ressurreição, Ele teria se valido do dia de Sua ressurreição para tornar tal dia o memorial adequado desse evento. Contudo, nenhuma das declarações do Salvador ressurreto revela uma intenção de memorializar o dia de Sua ressurreição para torná-lo o novo dia de repouso e culto cristão. Instituições bí­blicas tais como o sábado, batismo e a Ceia do Senhor todos remontam sua origem a um ato divino que os estabeleceu. Todavia, não ocorre qualquer ato divino para a instituição de um domingo semanal ou um domingo de Páscoa anual para comemorar a Ressurreição.
O silêncio do Novo Testamento quanto a esta matéria é muito importante, dado que a maior parte de seus livros foi escrita anos após a morte e ressurreição de Cristo. Se pela parte final do primeiro século o domingo chegou a ser visto como memorial da Ressurreição que cumpriu, como o irmão alega, “a nova criação que Cristo, por Sua ressurreição, trouxe à existência” esperarí­amos encontrar no Novo Testamento alguma alusão ao significado religioso e observância do domingo semanal e/ou do domingo da Páscoa.
A total ausência de quaisquer alusões indica que tais elementos desenvolveram-se em perí­odo pós-apostólico como resultado de um conjunto de fatores polí­ticos, sociais e religiosos, que eu examino extensamente em minha dissertação Do Sábado Para o Domingo.


(1) Nenhuma Celebração de Domingo de Páscoa no Novo Testamento

Uma forte indicação que desmente o suposto papel da Ressurreição na origem do culto semanal aos domingos é a ausência no Novo Testamento de qualquer referência à celebração do Domingo de Páscoa Anual em comemoração da Ressurreição. Há consenso quase unânime entre os estudiosos que por pelo menos um século após a morte de Jesus, a Páscoa era observada, não no Domingo de Páscoa como comemorativo da Ressurreição, mas na data de 14 de Nisã (independentemente do dia da semana) como uma celebração dos sofrimentos, sacrifí­cio expiatório e ressurreição de Cristo.
O repúdio da contagem ou datação judaica da Páscoa e adoção do Domingo de Páscoa em seu lugar é acontecimento pós-apostólico que veio a se passar, como Joachim Jeremias apresenta, “por causa da inclinação em romper com o judaí­smo”.32 e evitar, como J. B. Lightfoot explica, “mesmo uma semelhança com o judaí­smo”.33
A introdução e promoção do Domingo de Páscoa pela Igreja de Roma no segundo século provocou a bem-conhecida controvérsia sobre a Páscoa, que se chamou Controvérsia Quartodecimana, que finalmente levou o bispo Vitor, de Roma, a excomungar os cristãos asiáticos (ao redor de 191 AD) por recusarem adotar o Domingo de Páscoa romano.34 Indicações tais como essas são suficientes para mostrar que a ressurreição de Cristo não era celebrada num domingo semanal e Domingo de Páscoa anual desde o iní­cio do cristianismo. Os fatores sociais, polí­ticos e religiosos que contribuí­ram para a mudança do sábado para o domingo e a Páscoa de 14 de Nisã para o Domingo de Páscoa são discutidos em grande extensão em minha dissertação.

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MensagemAssunto: Re: As cisternas rotas da Patrística   As cisternas rotas da Patrística Empty19/4/2008, 5:56 pm

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(2) Os Aparecimentos de Cristo no Primeiro Dia da Semana

O Dr. Kennedy dá grande significado aos aparecimentos do Senhor Ressurreto no primeiro dia da semana às mulheres (Lucas 24:1), aos dois discípulos no caminho de Emaús (Cf. Lucas 24:13-35), à reunião dos onze apóstolos (cf. Lucas 24:36-49; João 20:19), e a todos os discípulos no domingo seguinte (“oito dias depois” -- João 20:26) para dar-Se a conhecer a Tomé. Ele interpreta esses aparecimentos no primeiro dia da semana como o princípio de um padrão coerente de observância dominical.
O problema com sua conclusão é que os aparecimentos de Cristo não seguem qualquer padrão coerente. A menção do aparecimento de Cristo “oito dias depois” (João 20:26), supostamente no domingo seguinte ao da Ressurreição, dificilmente sugere um padrão regular de observância dominical, já que o próprio João explica sua razão--qual seja, a ausência de Tomé no aparecimento anterior (João 20:24).
Ademais, nessa ocasião, João não faz qualquer referência a alguma refeição cúltica, mas simplesmente à tangível demonstração a Tomé da realidade de Sua ressurreição corporal (João 20:26-29). O fato é que antes do Pentecoste eles “se reuniam” (Atos 1:13) no cenáculo e ali tinham um encontro diário para edificação mútua (Atos 1:14; 2:1).
Não se pode obter nenhum padrão coerente dos aparecimentos de Cristo para justificar a instituição de uma celebração eucarística costumeira aos domingos. O Senhor apareceu a indivíduos e grupos não só em domingos, mas em ocasiões, circunstâncias e locais diferentes. Ele apareceu, de fato, a pessoas isoladas como Pedro e Tiago (1 Cor 15:5,7), aos doze (vs. 5, 7), e a um grupo de quinhentas pessoas (v. 6). As reuniões ocorreram, por exemplo, enquanto os discípulos estavam reunidos atrás de portas fechadas por temor dos judeus (João 20:19, 26), viajando pela estrada de Emaús (Lucas 24:13-35), ou pescando no mar da Galiléia (João 21:1-14). Somente com dois discípulos no caminho de Emaús Cristo “quando estavam à mesa, tomando ele o pão, abençoou-o, e tendo-o partido, lhes deu” (Lucas 24:30). Este último episódio pode parecer a celebração da Santa Ceia, mas na realidade foi uma refeição comum em torno de uma mesa ordinária à qual Jesus fora convidado. Cristo aceitou a hospitalidade dos dois discípulos e “sentou-se à mesa com eles” (Lucas 24:30). Este ato, como explicado por J. Behm, era “simplesmente uma parte costumeira e necessária do preparo para uma refeição conjunta”.35


O Testemunho de Mateus e Marcos

Outro ponto notável é que, segundo Mateus (28:10) e Marcos (16:7), os aparecimentos de Cristo não se deram em Jerusalém (como consta de Lucas e João) mas na Galiléia. Isso sugere que, como S. V. McCasland faz observar, “o aparecimento pode ter-se dado dez dias depois, após a festa dos pães asmos, como indicado pela conclusão de fragmentos do Evangelho de Pedro. Mas se o aparecimento nessa data tardia foi no domingo seria muito difícil relacioná-lo com a guarda do domingo de modo tão acidental”.36
Conquanto possa ser difícil explicar as discrepâncias nas narrativas dos evangelhos, permanece o fato de que tanto Mateus quanto Marcos não fazem qualquer referência a alguma refeição ou reunião de Cristo com seus discípulos no domingo de Páscoa. Isso deixa implícito que nenhuma importância particular foi atribuída à refeição que Cristo compartilhou com seus discípulos na noite de domingo de Sua ressurreição.
À luz das considerações precedentes, concluímos que os aparecimentos de Cristo serviram para reassegurar os descoroçoados discípulos da realidade da ressurreição de Cristo, mas dificilmente poderiam ter estabelecido o padrão para uma repetida comemoração semanal da Ressurreição. Ocorreram em diferentes ocasiões, lugares e circunstâncias; e nessas oportunidades Cristo comeu, compartilhou de alimentação comum (como peixe--João 21:13), não para instituir um culto dominical eucarístico, mas para demonstrar a realidade de Sua ressurreição corpórea.


(3) Os Eventos do Pentecoste, no Primeiro Dia da Semana

Adicionalmente aos aparecimentos/ressurreição de Cristo, o Dr. Kennedy encontra apoio para uma origem apostólica do culto dominical no fato de que no dia de Pentecoste, o derramamento do Espírito Santo, o primeiro sermão cristão e o início da Igreja, todos esses eventos ocorreram no domingo.
O problema com a conclusão do Dr. Kennedy é que em parte alguma o Novo Testamento associa os eventos ocorridos no Dia de Pentecoste com o culto aos domingos. Se o derramamento do Espírito Santo e a primeira proclamação messiânica no Dia de Pentecoste, que presumivelmente ocorreu num domingo, fossem vistos como justificativas para a adoração aos domingos em lugar do sábado, Lucas teria explicado a significação litúrgica desses eventos para a Igreja Cristã. Em vez disso, ele simplesmente declara: “Ao cumprir-se o dia de Pentecoste, estavam todos reunidos no mesmo lugar “ (Atos 2:1). O enfoque está no que ocorrera no dia de Pentecoste. Nenhuma tentativa é feita para ligar os eventos do dia de Pentecoste com a origem do culto dominical.
O pressuposto de que os acontecimentos do primeiro dia da Ressurreição e os aparecimentos e o dia de Pentecoste influenciaram a Igreja de Jerusalém a mudar o sábado para o domingo é desacreditada pela composição e orientação teológica judaica da Igreja de Jerusalém. Esta última era conhecida por sua zelosa observância da lei em geral, e do sábado em particular.


O Comprometimento da Igreja de Jerusalém Para Com a Observância da Lei

O apego da Igreja de Jerusalém à Lei Mosaica é refletido nas decisões do primeiro Concílio de Jerusalém realizado em cerca de 49-50 AD (ver Atos 15). A isenção da circuncisão é ali assegurada somente “aos irmãos de entre os gentios” (Atos 15:23). Nenhuma concessão é feita para judeus cristãos, que devessem continuar a circuncidar seus filhos.
Ademais, a isenção da circuncisão dos gentios do rito de circuncisão não previa sua liberação da observância da lei em geral e do sábado em particular. Isto é claramente indicado pelo fato de que se esperava que os gentios observassem as quatro leis mosaicas referentes ao “forasteiro” que habitava entre os israelitas. Essas leis se acham em Levítico 17, 18, e são citadas na decisão do Concílio de Jerusalém: “Que vos abstenhais das cousas sacrificadas a ídolos, bem como do sangue, da carne de animais sufocados e das relações sexuais ilícitas” (Atos 15:29). Essa preocupação do Concílio de Jerusalém por contaminação ritual e leis de alimentação judaicas reflete seu contínuo apego às leis mosaicas.
Essa conclusão é apoiada pela razão dada por Tiago para exigir que os gentios observassem as quatro leis mosaicas com respeito ao “forasteiro”: “Porque Moisés tem, em cada cidade desde tempos antigos, os que o pregam nas sinagogas, onde é lido todos os sábados” (Atos 15:21). Todos os intérpretes reconhecem que tanto em sua proposta quanto em sua justificativa, Tiago reafirma a natureza obrigatória da Lei Mosaica que era costumeiramente ensinada todo sábado na sinagoga.
Iluminação adicional é propiciada pela última visita de Paulo a Jerusalém. O apóstolo foi informado por Tiago e pelos anciãos que milhares de conversos judeus eram “zelosos da lei” (Atos 21:20). Os mesmos dirigentes então pressionaram Paulo a provar ao povo que ele também “vivia em observância da lei” (Atos 21-24), submetendo-se ao rito da purificação no Templo. À luz desse profundo comprometimento com a observância da lei, é difícil conceber que a autoridade apostólica da Igreja de Jerusalém estivesse à frente de uma mudança do dia de observância do sábado para o domingo para comemorar os primeiros eventos da Ressurreição/aparecimentos /Pentecoste.
A continuidade na observância do sábado entre os cristãos palestinos é evidenciada pelo testemunho de um historiador palestino do quarto século, Epifânio. Ele nos conta que os nazarenos, que eram “os descendentes diretos da comunidade primitiva” de Jerusalém, insistiam e persistiam na observância do sábado do sétimo dia até seu próprio tempo, isto é, ao redor de 350 AD. Pode-se encontrar o texto e sua análise na página 157 de minha dissertação Do Sábado Para o Domingo.
Eu me lembro muito vividamente da alegria que senti quando descobri o testemunho de Epifânio. Ansiosamente mostrei esse documento ao meu orientador da tese doutoral, o jesuíta Prof. Vincenzo Monachino. Ele leu-o atentamente e depois exclamou: “Este é o golpe mortal sobre a teoria que torna a Igreja de Jerusalém o berço da observância do domingo”.
Meu professor imediatamente entendeu que se os descendentes diretos da Igreja de Jerusalém persistiam na observância do sábado até o final do quarto século, então dificilmente a Igreja de Jerusalém poderia ter iniciado o abandono do sábado e a adoção do domingo imediatamente após a ressurreição de Cristo. De todas as igrejas cristãs, a Igreja de Jerusalém era tanto étnica quanto teologicamente a mais próxima e mais leal às tradições religiosas judaicas, e assim a com menor probabilidade de alterar a prática de milênios de observância sabática.


(4) As Coletas Para os Pobres No Primeiro Dia da Semana

Em seus sermões e notas o Dr. Kennedy cita o plano de levantamento de fundos no primeiro dia da semana recomendado por Paulo em 1 Coríntios 16:1-3 como indicação de que “as coletas eram feitas no primeiro dia da semana”, supostamente porque nesse dia a igreja se reunia para o culto. Esse ponto de vista é compartilhado por numerosos eruditos católicos e protestantes.
As várias tentativas de extrapolar do plano de levantamento de fundos de Paulo para a observância do domingo revelam criatividade e originalidade, mas firmam-se em argumentos elaborados, e não em informação real propiciada pelo texto. Nada há no texto para sugerir assembléias públicas, sobretudo em vista de que a separação de fundos devia ser feita “par heauto”, ou seja, por si mesmo, em casa. A frase sugere que a coleta devia ser feita individualmente e em privado.
Se a comunidade cristã estava reunindo-se aos domingos, parece paradoxal que Paulo recomendasse que pusessem de parte em casa as dádivas. Por que deveriam depositar suas ofertas em casa no domingo, se em tal dia se reuniam para o culto? Não devia o dinheiro ter sido levado para o culto no domingo?
O propósito do plano de levantamento de fundos no primeiro dia é claramente exposto pelo apóstolo: “para que se não façam coletas quando eu for” (1 Cor 16:2). O plano é, então, proposto não para incentivar o culto de domingo com as ofertas coletadas, mas para assegurar uma coleta substancial e eficiente quando da chegada de Paulo. Quatro características podem ser identificadas no plano. A oferta devia ser posta de parte periodicamente “no primeiro dia de cada semana”--v. 2), pessoalmente (“cada um de vós”--v. 2), privadamente (“em casa”--v. 2), e proporcionalmente (“conforme a sua prosperidade”--v. 2).
À mesma comunidade noutra ocasião, Paulo julgou necessário enviar um irmão para que “preparassem de antemão a vossa dádiva . . . para que esteja pronta como expressão de generosidade, e não de avareza” (2 Cor 9:5). O Apóstolo desejava evitar causar embaraços tanto para os doadores quanto para os arrecadadores quando se descobrisse que não “vos encontre desapercebidos” (2 Cor 9:4) para a oferta. Para evitar tais problemas nesse caso, ele recomenda um tempo--o primeiro dia da semana--e um lugar--a casa de cada um.
A menção que Paulo faz ao primeiro dia da semana poderia se motivada mais por razões práticas do que teológicas. Esperar até o fim da semana ou do mês para pôr de parte as contribuições ou economias de alguém é contrário a boas práticas orçamentárias, uma vez que então a pessoa poderia achar-se de bolsos e mãos vazios. Por outro lado, se no primeiro dia da semana, antes de planejar quaisquer gastos, os crentes pusessem de parte o que planejavam dar, os fundos restantes seriam distribuídos para atender todas as necessidades básicas. A proposta que se acha no texto, portanto, significa um valioso plano semanal para assegurar uma contribuição substancial e bem ordenada em benefício dos irmãos pobres de Jerusalém. Derivar mais significado do texto seria distorcê-lo.

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(5) A Celebração da Ceia do Senhor no Domingo

Uma das evidências que o Dr. Kennedy submete para uma origem apologética do domingo é o seu pressuposto de que "A Ceia do Senhor foi celebrada no primeiro dia da semana". Tal ponto de vista, aceito por muitos estudiosos, carece tanto de apoio bí­blico quanto histórico. Historicamente sabemos que os cristãos não poderiam celebrar a Ceia do Senhor numa base regular nas noites de domingo porque tais reuniões eram proibidas pela lei romana da hetariae--uma lei que proibia todos os tipos de refeições comunitárias realizadas na parte da noite. O governo romano temia que tais reuniões noturnas se tornassem ocasiões de maquinações de revoltas polí­ticas.37
Para evitarem as batidas da polí­cia romana, os cristãos alteravam regularmente o tempo e lugar da celebração da Santa Ceia. Por fim, transferiram o serviço da noite para a manhã, como indica a Carta de Plí­nio, governador da Bití­nia, ao Imperador Trajano (por volta de 112 AD). Isto explica por que Paulo é tão especí­fico quanto à maneira de celebrar a Ceia do Senhor, mas não define quanto à questão de tempo da reunião. Observe que por quatro vezes ele repete a mesma sentença: "Quando vos reunis" (1 Cor 11:18, 20, 33, 34).
A sentença deixa implí­cita a indefinição de tempo, mais provavelmente porque não havia uma data estabelecida para a celebração da Ceia do Senhor.
Se, como argumenta o Dr. Kennedy, a Ceia do Senhor fosse celebrada na noite de domingo, como parte do culto do Dia do Senhor, Paulo dificilmente deixaria de mencionar a santidade do tempo em que se reunissem. Isso teria fortalecido o seu apelo para uma atitude mais reverente durante a participação na Ceia do Senhor. A falha de Paulo em mencionar o "domingo" como tempo de reunião, ou empregar o adjetivo "kuriakê--do Senhor" para caracterizar o dia como "Dia do Senhor" (como ele fez com referência à Ceia do Senhor), demonstra que o apóstolo não ligou qualquer significado religioso ao domingo.
Ademais, a Ceia do Senhor não se ligava à Ressurreição. Paulo, por exemplo, que reivindica transmitir o que recebeu "do Senhor" (1 Cor 11:23), explicitamente declara que o rito celebrava, não a Ressurreição, mas Seu sacrifí­cio e Segunda Vinda ("anunciais a morte do Senhor até que venha"--1 Cor 11:26).
As considerações precedentes são suficientes para desfazer o pressuposto de que "a Ceia do Senhor era celebrada no primeiro dia da semana" durante os tempos apostólicos, porque o domingo era o dia comum de culto. Durante os tempos apostólicos não havia celebração regular da Santa Ceia no primeiro dia da semana como parte do culto dominical, simplesmente porque o culto dominical é fenômeno pós-apostólico.


O APELO DO DR. KENNEDY A BARNABÉ E JUSTINO MÁRTIR

Para dar apoio ao seu ponto de vista da origem apostólica do domingo, Dr. James Kennedy cita o testemunho de Barnabé e Justino Mártir. Ambos esses autores são examinados extensamente no capí­tulo 7 de Do Sábado Para o Domingo. Para propósito desta resposta comentarei brevemente o seu emprego desses autores. Com respeito a Barnabé, ele declara: "Em 120 AD, não mais do que 25 anos após São João ter morrido, Barnabé, um dos mais antigos Pais Apostólicos, escreveu isto: "Eles observavam o oitavo dia com alegria, o dia em que Jesus ergueu-se dentre os mortos". Dr. Kennedy continua explicando que a designação de domingo como "oitavo dia" deriva da contagem inclusiva comum àquele tempo. Por contar inclusivamente de domingo a domingo, o sétimo dia da semana tornou-se o "oitavo dia".


Avaliação da Interpretação de Barnabé Pelo Dr. Kennedy

Essa declaração dá aso a três principais comentários. Primeiro, a maioria dos eruditos data Barnabé como de entre 135 a 138 AD, dada a sua referência interna à reedificação de Jerusalém, presumivelmente após a destruição de 135 AD pelo Imperador Adriano.38 Isso situaria Barnabé poucos anos depois do que sugere. Em segundo lugar, a denominação do domingo com "o oitavo dia" foi motivada, não pela contagem inclusiva, como explica, mas pelo desejo de mostrar a superioridade escatológica do domingo com respeito ao sábado. Para Barnabé, o domingo como o "oitavo dia" é superior ao sábado do sétimo dia, porque conquanto o último representa o sétimo milênio terreno que Cristo estabelecerá quando de Seu retorno (15:5), o primeiro, "o oitavo dia", representa o celestial e eterno "iní­cio de outro mundo" (15:8').
Por meio dessas especulações gnósticas sem nexo e especulações alegóricas sobre a semana cósmica, Barnabé tenta negar a observância do sábado para o tempo presente e promover, em seu lugar, o "oitavo dia" como um substituto válido.
As especulações sobre a superioridade do domingo do "oitavo dia" sobre o sábado do sétimo dia são multiplicadas nos escritos dos Pais da Igreja até o quarto século. A razão é que propiciava um útil argumento apologético para atacar o sábado durante a controvérsia sábado/domingo. Como o oitavo dia, o domingo poderia ser reivindicado como a continuação, cumprimento e suplantação do sábado do sétimo dia, tanto temporal quanto escatologicamente. O problema é que toda essa especulação tem por base a fantasia, não fatos bí­blicos. O Capí­tulo 9 de Do Sábado Para o Domingo propicia uma documentação informativa e discussão das especulações patrí­sticas a respeito do oitavo dia.
Ao diminuir a controvérsia sábado/domingo pelo quarto século, a designação "oitavo dia" desapareceu, porque, como João Crisóstomo (ao redor de 347-407 AD) explica: "O ciclo septenário não se estende ao número oito. Por esta razão é que ninguém chama o dia do Senhor de oitavo dia, mas somente de primeiro dia".39 Fica-se a pensar por que levou quatro séculos para que os brilhantes dirigentes eclesiásticos descobrissem que não faz sentido defender o domingo como oitavo dia numa semana de sete dias. As especulações irracionais quanto ao "oitavo dia" revelam quão difí­cil era para os dirigentes da igreja encontrar razões bí­blicas legí­timas para a observância do domingo. Em desespero de causa eles apelaram para especulações sem sentido, que, no decorrer do tempo, tiveram de abandonar.
Meu terceiro comentário quanto a sua citação de Barnabé: "Eles observam o oitavo dia com alegria, o dia em que Jesus ergueu-Se dentre os mortos". Extraí­da do contexto, tal citação sugere que Barnabé apresenta a ressurreição de Cristo como a primeira motivação teológica para a observância do domingo. Contudo, uma leitura da declaração no seu contexto indica outra coisa. Barnabé escreveu: "Ademais Ele lhes diz, 'Vossas luas novas e sábados eu não posso suportar'. Podeis ver o que significa: não são os sábados presentes que me são aceitáveis, mas aquele que eu criei, no qual, tendo levado tudo ao descanso, eu transformarei no oitavo dia, ou seja, o iní­cio de outro mundo. É por isso também que observamos o domingo com alegria, quando Jesus também ergueu-se dentre os mortos, e tendo Se revelado subiu aos céus (cap. 15:8, 9)".
O "oitavo dia" é inserido por Barnabé ao final de seus argumentos anti-sabáticos, e duas justificativas básicas são dadas para a sua "observância":

(1) O oitavo dia é o prolongamento do sábado escatológico: ou seja, após o fim da era presente simbolizada pelo sábado, o oitavo dia assinala "o iní­cio de outro mundo" (v. 8'). "É por isso que também observamos (dio kai) o oitavo dia com regozijo" (v. 9). A palavra "também" (dio kai) sugere que o domingo era observado em adição, e não em substituição, ao sábado.
(2) O oitavo dia é "também (en he kai) o dia no qual Jesus ergueu-se dentre os mortos" (v. 9). A primeira motivação teológica para a observância do domingo não é a Ressurreição, mas o suposto significado escatológico do oitavo dia como "o iní­cio de um novo mundo". É aqui que aparece a incoerência de Barnabé--talvez aceitável naquele tempo. Enquanto, por um lado, ele repudia o sábado atual no que teria um significado milenarí­stico--escatológico, por outro lado justifica a observância do oitavo dia pelas mesmas razões escatológicas anteriormente levantadas para ab-rogar o sábado.

É digno de nota que Barnabé apresenta a ressurreição de Jesus como motivação adicional, ou segunda--não como a primeira razão, como sugerido por sua citação. O domingo é observado por que nesse dia "Jesus também (en he kai) ergueu-se dentre os mortos" (v. 9). Por que é a Ressurreição mencionada como razão adicional para a observância do domingo? Aparentemente porque tal motivação ainda não havia adquirido importância primária.
A despeito de seu agudo antijudaí­smo, Barnabé justifica a "observância" do oitavo dia mais como uma continuação do sábado escatológico do que como uma comemoração da Ressurreição. Isso denota um começo tí­mido e incerto da guarda do domingo. A teologia e terminologia do domingo ainda são dúbias. Não há menção de quaisquer reuniões ou qualquer celebração eucarí­stica. O oitavo dia é simplesmente o prolongamento do sábado escatológico a que se une a memória da Ressurreição.
Os argumentos polêmicos apresentados por Barnabé tanto para invalidar o sábado quanto para justificar o oitavo dia como a continuação e substituição do sétimo dia, revelam os fortes sentimentos antijudaicos que motivavam o abandono do sábado e a adoção do domingo como um novo dia de culto.
Para persuadir os cristãos a abandonarem as crenças judaicas e práticas como o sábado, Barnabé lança um ataque duplo contra os judeus: ele os difama como um povo e esvazia as suas crenças e práticas religiosas de qualquer validade histórica alegorizando o seu significado. Como um povo, os judeus são descritos como "homens miseráveis" (16:1) que foram iludidos por um anjo maligno (9:5) e que "foram abandonados" por Deus por causa de sua antiga idolatria (5 :14). Eles levaram "os seus profetas à morte" (5 :12) e crucificaram a Cristo "colocando-o como um inútil e o traspassando e sobre ele cuspindo" (7:9). Quanto às crenças judaicas fundamentais (tais como o sistema sacrificial, o concerto, a terra prometida, a circuncisão, as leis leví­ticas, o sábado e o templo) ele se empenha em demonstrar que não se aplicam literalmente aos judeus, pois têm um sentido alegórico mais profundo que acha seu cumprimento em Cristo e na experiência espiritual dos cristãos.
Barnabé tem a dúbia distinção de ser o pioneiro no desenvolvimento de uma teologia de desprezo contra os judeus e seu sábado--uma teologia que tem causado incalculável dano à fé cristã. Tal teologia foi inspirada pela repressiva legislação romana anti-judaica e anti-sabática. Sua teologia incerta quanto ao domingo assinala as dificuldades que ele encontrava para legitimar a adoção da observância dominical.

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Avaliação do Uso de Justino Mártir Pelo Dr. Kennedy

Justino Mártir é o segundo cristão primitivo que Dr. Kennedy cita para respaldar sua opinião quanto à origem apostólica do domingo para honrar a ressurreição de Cristo. Sua declaração: "Justino Mártir, um dos primeiros mártires da igreja, disse em torno de 150 AD: 'O domingo é o dia em que todos mantemos nossa assembléia de comunhão porque Jesus Cristo, nosso Salvador, no mesmo dia ergueu-se dentre os mortos'".
Tomada isoladamente, sua citação da Apologia 1, 67 de Justino Mártir é enganosa por duas razões principais: Primeiro de tudo, porque passa por alto a primeira razão dada por Justino Mártir para a reunião no dia do sol, ou seja, a criação da luz no primeiro dia da semana da criação. O texto completo assim reza: "No dia chamado domingo (te tou eliou legomene hemera) temos uma assembléia comum de todos os que vivem nas cidades ou nos distritos vizinhos, e as memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas são lidos, enquanto houver tempo. O domingo, na verdade, é o dia em que todos mantemos nossa assembléia comum porque é o primeiro dia em que Deus, transformando as trevas em matéria primitiva, criou o mundo; e nosso Salvador Jesus Cristo ergueu-se dentre os mortos no mesmo dia. Pois eles O crucificaram no dia anterior ao de Saturno, e no dia posterior, que é o domingo, Ele apareceu a Seus apóstolos e discí­pulos, e lhes ensinou as coisas que lhes transmitimos também para consideração".40
É digno de nota que a primeira razão dada por Justino Mártir para a reunião cristã no "dia do sol" (como consta do original grego) não é a ressurreição de Cristo, como a sua citação sugere, mas a comemoração do primeiro dia da criação "no qual Deus, transformando as trevas em matéria primitiva, criou o mundo" (67, 7).
Por que Justino Mártir oferece como a primeira razão para adorar no dia do Sul a criação da luz no primeiro dia da semana da criação? Muito provavelmente porque desejava apelar aos gentios acostumados a adorar o deus Sol no dia do sol. Não devemos nos esquecer que Justino Mártir dirigia a sua Apologia ao Imperador Antonino Pio, que era bem familiarizado com o culto ao Sol no dia do sol. De fato, em sua exposição do culto cristão ao Imperador Antonino Pio, Justino três vezes sublinha que a assembléia dos cristãos tinha lugar "no dia do sol".
Por que Justino realça que os cristãos adoravam "no dia do sol"? Muito provavelmente por desejar impressionar o Imperador quanto ao fato de que os cristãos não eram judeus rebeldes, mas cidadãos obedientes, bem integrados aos costumes e ciclos do Império romano. Este esclarecimento foi ampliado num tempo em que o governo romano adotava medidas repressivas contra a religião judaica em geral e o sábado em particular. A Ressurreição é dada por Justino como a segunda de duas razões, importante, mas não dominante. Até Willy Rordorf, erudito calvinista suí­ço [N.T.: defensor do domingo] cuja dissertação sobre a origem do domingo é um clássico em seu campo, reconhece o fato. Ele escreveu: "Na Primeira Apologia de Justino (67, 7) a motivação primária para a observância do domingo é celebrar o primeiro dia da criação e só secundariamente, num acréscimo, a ressurreição de Jesus".41
O fato de tanto Barnabé quanto Justino apontarem à Ressurreição como razão adicional para a observância do domingo, sugere que em seu tempo a Ressurreição ainda não era vista como razão dominante para o culto dominical. Uma segunda razão de sua citação é equivocada porque ignora que Justino apela também à superioridade do oitavo dia sobre o sétimo para justificar o culto dominical. Ele diz que os cristãos observam o domingo porque, sendo o oitavo dia, "possui um certo conteúdo misterioso, que o sétimo dia não possuí­a".42
Para justificar o "conteúdo misterioso" do oitavo dia, Justino apela à circuncisão, realizada no oitavo dia porque era tipo "da verdadeira circuncisão com que somos circuncidados do erro e impiedade por nosso Senhor Jesus Cristo que ergueu-se dentre os mortos no primeiro dia da semana".43 Ele também alega que as oito pessoas salvas do dilúvio ao tempo de Noé "eram figuras desse oitavo dia (o que é, porém, sempre o primeiro em poder) no qual nosso Senhor apareceu como ressurreto dentre os mortos".44 Tais especulações sem nexo sobre o sentido do número "oito" apenas revelam a tentativa desesperada de provar a superioridade bí­blica do oitavo dia sobre o sábado do sétimo dia, numa época em que a controvérsia sobre os dois dias estava fervendo. Ao reduzir-se o clamor da controvérsia, esses argumentos fictí­cios foram eliminados e a Ressurreição emergiu como a razão dominante para a observância dominical.
As duas designações e motivações diferentes dadas por Justino Mártir para o culto dominical sintetizariam bem os dois fatores significativos que contribuí­ram para mudar o sábado para o domingo--o antijudaí­smo e o culto pagão ao domingo. Notamos que em sua exposição do culto cristão ao Imperador, Justino repetidamente realça que os cristãos se reúnem no dia do sol (possivelmente para situá-lo em maior proximidade com os costumes romanos na mente do Imperador), mas em sua polêmica com Trifo, o Judeu, Justino denomina o domingo como "oitavo dia", em cotejo com o sábado do sétimo dia e no sentido de superioridade sobre ele.
Poderí­amos dizer que embora a prevalecente aversão para com o judaí­smo em geral e para com o sábado em particular tenham causado o repúdio do sábado, a veneração prevalecente pelo dia do sol orientou os cristãos para tal dia, tanto como evidência de sua destacada distinção com relação aos judeus como para facilitar a aceitação da fé cristã pelos pagãos.
Gostaria de considerar um último ponto sobre Justino Mártir, ou seja, sua profunda animosidade e ódio para com os judeus e seu sábado. Não acha difí­cil crer que um homem como Justino Mártir, que sofreu o martí­rio pela fé cristã, pudesse nutrir tanto ódio no coração pelos judeus? Ele descreve os judeus como um povo dos mais í­mpios sobre os quais Deus impôs o sábado e a circuncisão como sinais de sua infidelidade, a fim de distingui-los e separá-los das outras nações. Ele escreveu: "Como declarei antes, foi em razão de seus pecados e os pecados de seus pais que, entre outros preceitos, Deus impôs sobre vós a observância do sábado como uma marca. . . . O propósito disso foi para que vós e somente vós sofrésseis as aflições que agora justamente vos recai; para que vossa terra seja desolada, e vossas cidades arruinadas por fogo, e que os frutos de vossas terras sejam comidos por estranhos diante de vossos próprios olhos; para que nenhum de vós tenha permissão de entrar em vossa cidade de Jerusalém".45
Não parece assustador que um mártir cristão torne a Deus culpado, para dizer o mí­nimo, de práticas discriminatórias ao conceder o sábado exclusivamente aos judeus com o único propósito de pô-los à parte para o castigo? Eu me perguntaria o que os ouvintes do Dr. Kennedy pensariam de Justino Mártir se lhes lesse sua declaração a respeito da celebração da ressurreição de Cristo no dia do sol, se compartilhasse com eles o seu ódio pelos judeus e seu sábado?
É lamentável que a maioria dos defensores da origem apostólica do domingo empregue os testemunhos da Ressurreição de Barnabé e Justino Mártir sem citar sua teologia de desprezo pelos judeus, que condicionou sua rejeição do sábado e adoção do domingo. Erudição responsável apela a um exame objetivo de todos os dados relevantes, e não uma pesquisa "tipo cafeteria". É tempo de libertar a fé cristã das crenças e práticas oriundas de uma teologia de ódio aos judeus, antes que de ensinos bí­blicos. Mas é animador ver um crescente número de eruditos comprometidos em recuperar as raí­zes bí­blicas e hebraicas de nossa fé.

[Conclui no próximo quadro]
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MensagemAssunto: Re: As cisternas rotas da Patrística   As cisternas rotas da Patrística Empty19/4/2008, 5:57 pm

[Continuação do quadro anterior e conclusão da série]


Apelo Final

Ao encerrar, apelo ao Dr. James Kennedy a que reexamine os fatores que contribuíram para o abandono do sábado e adoção do domingo. Este distinguido pregador e evangelista se me afigura um homem de integridade, comprometido em proclamar as verdades bíblicas, não as tradições eclesiásticas. Tenho razões para crer que um detido reexame dos dados bíblicos e históricos o trarão para mais próximo da verdade. Para facilitar sua pesquisa, encaminhei-lhe exemplares de cortesia dos quatro livros que escrevi sobre os aspectos históricos e teológicos da questão sábado/domingo comunicando que se puder ser-lhe de qualquer assistência, que por favor não hesitasse em chamar-me pelo telefone (616) 471-2915. Ou, se julgasse apropriado, eu alegremente me reuniria com ele em seu escritório do Ministério Coral Ridge.
Os muitos anos que tenho gasto examinando a mudança do sábado para o domingo convenceram-me de que não foi simplesmente uma mudança de nomes ou números, mas de autoridade, significado e experiência. Foi uma mudança de um DIA SANTO divinamente estabelecido para nos capacitar a experimentar mais livre e plenamente a consciência da divina presença e paz em nossas vidas, num FERIADO que se tornou ocasião para buscar-se o prazer e ganho pessoal.
Essa mudança histórica afetou grandemente a qualidade da vida cristã de incontáveis cristãos que através dos séculos têm sido privados da renovação física, moral e espiritual que o sábado tem por propósito conceder. A recuperação do sábado é especialmente necessária hoje quando nossas almas, fragmentadas, penetradas e dissecadas por uma cultura cacófona, dominada pela tensão, clama pela libertação e redirecionamento que nos aguarda no dia de sábado.
A redescoberta do sábado nesta era cósmica propicia a base para uma fé cósmica que abarca e une a criação, redenção e restauração finais; o passado, presente e futuro; o homem, a natureza e Deus; este mundo e o mundo por vir. É uma fé que reconhece o domínio de Deus sobre toda a criação e a vida humana por consagrar a Ele o sétimo dia; uma fé que cumpre o verdadeiro destino do crente no tempo e eternidade, fé que permite ao Salvador enriquecer-nos a vida com uma maior medida de Sua presença, paz e descanso.


NOTAS

1. Codex Justinianus, lib. 13, it. 12, par. 2 (3).
2. “Dies Domini”, Carta Pastoral de João Paulo II emitida em 31 de maio de 1998.
3. Tomás de Aquino, Summa Theologica, 1947, II, Q. 122 Art.4, p. 1702.
4. Peter Geiermann, The Convert’s Cathecism of Catholic Doctrine, pág. 50. Geiermann recebeu a “bênção apostólica” do Papa Pio X por seus trabalhos em 25 de janeiro de 1910.
5. Ver a análise do Dr. Bacchiocchi da Carta Pastoral do Papa João Paulo II, Dies Domini, disponibilizada no artigo no. 58a de nosso “Catálogo” de temas. Ver abaixo como solicitar para remessa gratuita.
6. A dissertação do Dr. Bacchiocchi pode ser apreciada pela transcrição de sua conferência onde conta como obteve êxito em seus esforços de pesquisa, sendo premiado com medalhas pelos dirigentes católicos. Veja abaixo como fazer para obter a remessa gratuita de arquivos eletrônicos tratando de sua experiência.
7. S. Krauss, “Barkokba” Jewish Encyclopedia, 1907, II, p. 509, sintetiza a dramática situação dizendo: “Os judeus passaram agora por um período de amarga perseguição; os sábados, as festividades, o estudo da Torah e a circuncisão foram interditados e parecia que Adriano desejava aniquilar o povo judeu. . . . A época subseqüente foi de perigo (sha’at hasekanah’) para os judeus da Palestina, durante a qual os costumes rituais mais importantes foram proibidos; por cuja razão o Talmude declara (Geiger’s Jud. Zeit 1, 199, 11, 126; Weis, ‘Dor’, 11, 131; Rev. Et. Juives, xxxii. 41) que certos regulamentos foram promulgados para enfrentar a emergência. Chamou-se a época do edito (gezarah) ou de perseguição (shemad, Shab. 60a; Caut. R. ii, 5)”, veja também H. Graetz, History of the Jews, 1940, II, pág, 425; S. Grayzel, A History of the Jews, 1947, pág, 187; S. W. Baron, A Social and Religious History of the Jews, 1952, II, pp. 40-41, 107.
8. Justino Mártir, Dialogue with Trypho[/i] 23, 3.
9. O Papa Inocêncio I (402-417 AD) em sua famosa decretal estabeleceu que no sábado “não se deve absolutamente celebrar os sacramentos” (Ad Decentium, Epist. 25, 4, 7, Patrologia Latina 20, 550); Sozomen (ca. 440 AD) relata que nenhuma assembléia religiosa era mantida no sábado em Roma ou em Alexandria (Historia ecclesiastica 7, 19); cf. Socrates, Historia ecclesiastica 5, 22.
10. S. R. E. Humbert, Adversus Graecorum calumnias 6, Patrologia Latina 143, 933.
11. Victorinus of Pettau (ca. 304 AD), De Fabrica Mundi 5, Corpus Scriptorum Ecclesiasticorum Latinorum 49, 5.
12. Eusebius, Life of Constantine 3, 18-19, NPNF 2nd, I:524-525 (ênfase acrescentada).
13. Inocêncio I, Ad Decentium, Epist. 25, 4,7, PL 20, 555; a carta é transferida para o Corpus Juris, c. 13, d. 3 De Consecratione.
14. Socrates, Ecclesiastical History 5, 22; NPNF 2nd, II, p. 132.
15. Sozomen, Ecclesiastical History 7, 19, NPNF 2nd, II, p. 390.
16. Para uma discussão da adoção da semana judaica de sete dias pelos romanos, ver From Sabbath to Sunday, pp. 245-251, ou, na edição em arquivo eletrônico em português, págs. 217-223.
17. Que o dia de Saturno era originalmente o primeiro dia da semana é claramente tornado evidente pelo Indices Nundinarii e pelas inscrições murais de Herculano e Pompéia, onde os dias da semana são dados horizontalmente, começando com o dia de Saturno. Para uma fonte de coleção, ver: A. Degrassi, Inscriptiones Italiae (Roma: Libreria Dello Stato, 1963) vol. XIII, pp. 49, 52, 53, 55, 56.
18. Tibullus, Carmina 1, 3, 15-18.
19. Sextus Propertius, Elegies 4, 1, 81-86.
20. Citado por Augustine in City of God 6, 11.
21. Josefo, Against Apion 2, 40. Declaração semelhante se acha em Philo, Vita Mosis 2, 20.
22. Tertuliano, Apology 16, The Ante-Nicene Fathers (Grand Rapids, 1973), vol. 3, p. 31.
23. Uma concisa pesquisa da influência de crenças astrológicas sobre o cristianismo primitivo é propiciada por Jack Lindsay, Origin of Astrology (Londres: Muller, 1972), págs. 373-400.
24. Para exemplos de aplicação literária do motivo do sol para Cristo, ver From Sabbath to Sunday, págs. 253-254, ou, na edição eletrônica, em português, págs. 225-226.
25. Que os cristãos primitivos oravam voltados para Jerusalém é evidenciado pela seita cristã-judaica dos ebionitas, que, segundo Irineu, “oravam voltados para Jerusalém como se fosse a casa de Deus” (Adversus haereses 1, 26). Para referências sobre a orientação rumo ao oriente, ver, por exemplo, Clemente de Alexandria, Stromateis 7, 7, 43; Orígenes De oratione 32; Constituições Apostólicas 2, 57, 2 and 14; Hipólito, De Antichristo 59.
26. Justino Mártir, I Apology 67.
27. Eusébio, Commentaria in Psalmos 91, PG 23, 1172.
28. Jerônimo, In die dominica Paschae homilia CCL 78, 550, 1, 52; o mesmo em Contra Faustum 18,5, de Agostinho; em Sermão 226, PL 38, 1099. Agostinho explica ser o domingo o dia da luz porque no primeiro dia “Deus disse: ‘Haja luz! E houve luz. E Deus separou a luz das trevas. E Deus chamou à luz, dia, e às trevas, noite “ (Gên. 1:2-5).
29. Harold Riesenfeld, “The Sabbath and the Lord’s Day,” The Gospel Tradition: Essays by H. Riesenfeld (Oxford, 1970), p. 124.
30. Harold Riesenfeld, “Sabbat et Jour du Seigneur,” in A. J. B. Higgins, ed., N.T. Essays: Studies in Memory of T. W. Manson (Manchester, 1959), p. 212. Para exemplos do uso da frase “Dia da Ressurreição” para o domingo, ver Eusébio, Commentary on Psalm 91, Patrologia Graeca 23, 1168; Constituioo Apostólicas 2, 59, 3. XXX
31. S. V. McCasland, “The Origin of the Lord’s Day,” Journal of Biblical Literature 49 (1930), p. 69. Semelhantemente, Paul Cotton afirma: “Nada há na idéia da Ressurreição que necessariamente produza a observância do domingo como um dia de culto” (From Sabbath to Sunday [Bethlehem, PA, 1933], p. 79).
32. Joachim Jeremias, “Pasha,” Theological Dictionary of the New Testament, Gerhard Friedrich, ed., (Grand Rapids, 1968), vol. 5, p. 903, nota 64.
33. J. B. Lightfoot, The Apostolic Fathers (Londres, 1885), vol. 2, p. 88.
34. Para uma discussão da controvérsia da Páscoa e suas implicações para a origem da observância dominical, ver minha dissertação From Sabbath to Sunday, págs. 198-207 ou na edição eletrônica em português, pág. 160-165 (ver também nota 23 da pág. 82 na edição eletrônica em português).
35. Johannes Behm, “Klao,” Theological Dictionary of the New Testament, Gerhard Kittel, ed., (Grand Rapids, 1974), vol. 3, p. 728.
36. S. V. McCasland (nota 30), p. 69.
37. Para uma discussão da legislação hetaririae, ver From Sabbath to Sunday, pp. 96-98.
38. Ver, Johannes Quasten, Patrology, 1953, I, pp. 90-91; E. Goodspeed, Apostolic Fathers, 1950, p. 19; William H. Shea, “The Sabbath in the Epistle of Barnabas,” AUSS 4 (July 1966): 150; J. B. Lightfoot, The Apostolic Fathers, 1890, I, part 1, p. 349; A. L. Williams, “The Date of the Epistle of Barnabas”, Journal of Theological Studies 34 (1933): 337-346.
39. João Crisóstomo, De compunctiones 2, 4, PG 47, 415.
40. Justin, Dialogue 67, 3-7, Falls, Justin’s Writings, pp. 106-107 (grifo nosso).
41. Willy Rordorf, Sunday: The History of the Day of Rest and Worship in the Earliest Centuries of the Christian Church, Westminster Press, Philadelphia, PA, 1968.
42. Justino, Dialogue 24, 1.
43. Justino, Dialogue 41,4.
44. Justino, Dialogue 138, 1; a referência a “oito almas” ocorre no Novo Testamento em I Pedro 3 :20 e II Pedro 2:5. J. Danií¨lou percebe uma justificativa para o oitavo dia mesmo na referência de Jusino (cf. Dialogue 138) aos “quinze cúbitos” de água que cobriram as montanhas durante o dilúvio (“Le Dimanche comme huitií¨me jour,” Le Dimanche, Lex Orandi 39, 1965, p. 65).
45. Justino, Dialogue 16, 1 and 21, 1, Fall, Justin’s Writings, pp. 172, 178. A menção da circuncisão e o sábado por Justino, como marcas distintivas destinadas a proibir os judeus de “entrar em vossa cidade de Jerusalém” (Dialogue 16), parece ser uma referência implítica ao decreto de Adriano que proibia todo judeu de entrar na cidade (cf. Dialogue 19, 2-6; 21, 1; 27, 2; 45, 3; 92, 4); no capítulo 92 do Dialogue a referência ao edito de Adriano aparece ainda mais explícito. De fato, Justino claramente afirma que a circuncisão e o sábado foram dados porque “Deus em Sua presciência estava ciente de que esse povo [isto é, os judeus] mereceria ser expulso de Jerusalém e ali nunca mais poder entrar” (Falls, Justin’s Writings, p. 294); Pierre Prigent semelhantemente comenta que, segundo Justino, a circuncisão e o sábado foram dados a Abraão e a Moisés porque “Deus previu que Israel mereceria ser expulso de Jerusalém e não ter permissão de ali habitar” (Justin et l’Ancien Testament, 1964, p. 265 e p. 251.
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MensagemAssunto: Re: As cisternas rotas da Patrística   As cisternas rotas da Patrística Empty19/4/2008, 5:57 pm

Acima temos provas suficientes para demonstrar a falta de fundamento da tradição dominical.
Em certo fórum alguém levantou a “hipótese” de que o domingo realmente é um dia especial, assim considerado pelos cristãos desde os primórdios da história da Igreja, e cita Apoc. 1:10, um argumento muito explorado pelos que ainda defendem a guarda do domingo (cada vez menos, pois se há uma instituição desmoralizada é a guarda do domingo pela cristandade contemporânea) estou trazendo à tona este tópico.
Ah, sim. . . Sobre Apoc. 1:10, se este texto prova que João tinha o domingo como “dia do Senhor”, então temos uma perguntinha aos defensores de tal tese: por que então o Apóstolo, ao referir-se diretamente ao dia da Ressurreição, chama-o meramente como mía twn sabbatwn, em grego--o primeiro dia com respeito ao sábado (vertido sempre como “primeiro dia da semana”), sendo que o seu evangelho não foi escrito muito tempo separado do Apocalipse (alguns estimam em 5 anos de diferença entre um livro e outro)?
Ora, se João tivesse qualquer consideração especial pelo domingo, por que não tratou esse dia com mais consideração, especialmente ao referir-se ao evento da Ressurreição, supostamente comemorado pelos que observam o domingo?
Muito estranha essa indiferença de João, caso considerasse mesmo o domingo o “dia do Senhor”.
Interessante que nosso opositor levantou a teoria de que até hoje, no calendário dos gregos, o dia de domingo é chamado de “kuriakê hemera”, o que, para ele, provaria que essa designação ao primeiro dia da semana deriva dos tempos apostólicos. Só que o fato é que essa designação do domingo como “dia do Senhor” é a mesma que ocorre nos idiomas português, espanhol (domingo), italiano (domenica) e francês (dimanche), mas isso deriva do LATIM, dies domini. Como os gregos são muito ciosos de seu idioma, orgulhando-se de que o Novo Testamento foi escrito em grego, não iriam simplesmente transcrever o termo do latim. Assim, apenas o adaptam a seu idioma, mas a origem da prática é a mesma que inspirou os povos que seguiram a direção de Roma.
Mas quando esse opositor insistia na sua tese, apresentou os nomes de cada dia da semana do calendário grego. Aí ele se complicou de vez. Pois entre os dias da semana em grego temos a “parasceve” para a sexta-feira que significa “dia da preparação”, o sábado é designado como sábado mesmo, o que indica que se isso prova alguma coisa, o que temos é a clara indicação de que os cristãos tinham a sexta-feira como dia de PREPARAÇÃO para o sábado, tal como se acha nas Escrituras. Com isso a tese pró-dominical de nosso amigo naufragou e ele nunca mais utilizou-se de tal argumento, que aprendeu em sites de gente tão preconceituosa quanto mal informada por aí. . .

Abraços
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MensagemAssunto: Re: As cisternas rotas da Patrística   As cisternas rotas da Patrística Empty19/4/2008, 5:58 pm

Está claro para mim após ler os artigos acima que o 1º Dia da Semana como o dia da ressurreição de Jesus, é uma inserção católica com o único objetivo de RATIFICAR a observancia do domingo como dia de descanso.

O 1º dia da semana era uma dia comum para o judeu, mas não para os pagãos, gentios.

Com a expansão do cristianismo(messianismo) para além dos limites de Israel, acabou acontecendo o que chamamos de SINCRETISMO religioso entre o judaico messianismo e o paganismo messianico.

Onde alguém pode conceber que Jesus ressuscitou no domingo contradizendo Sua Palavra profética: Mt 12; 40 Pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim estará o Filho do homem três dias e três noites no seio da terra.

Para um bom entendedor, 3 dias são 3 dias de sol, e 3 noites são 3 dias de escuridão; isto aponta para quase 72 horas.

Ou seja Jesus ressuscitou com todas as possibilidades no amanhecer da 2ª feira; se isto é verdade então para os pagãos que se convertiam ficava estranho abrir mão do Dia do Sol, então é preciso AJUSTAR este dia.

A referida passagem de Jonas é MITOLOGICA foi LITERAL ou é SIMB퀜LICA?

Se descobrimos que o Dia 1º da semana é uma invenção CATOLICA, como ficam as versões biblicas, eles perdem seu valor, deixam de ser TOTALMENTE inspiradas?

Porque as discussões teologicas estão quase 100% centralizadas no Novo Testamento?
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MensagemAssunto: Re: As cisternas rotas da Patrística   As cisternas rotas da Patrística Empty19/4/2008, 5:59 pm

A CONSPIRAÇÃO DE INÁCIO: A ORIGEM DO CRISTIANISMO

Por James S. Trimm


Muitos se enganam em pensar que Constantino foi o principal responsável pela corrupção e gentilização do Cristianismo. Apesar de Constantino ter certamente acrescentado e consolidado a apostasia do Cristianismo primitivo, ele não foi o primeiro. Foi na realidade Inácio de Antioquia que se rebelou contra o Concílio de Jerusalém, usurpou sua autoridade, segregou-se do Judaismo, declarou que a Torá havia sido abolida, substituiu o Shabat do sétimo dia pela adoração no domingo e fundou uma nova religião não-judaica, a qual ele chamou de “Cristianismo.

” O ALERTA DE PAULO ACERCA DOS BISPOS

Paulo disse aos efésios em sua última visita a eles: ” Cuidai pois de suas almas e de todo o rebanho sobre o qual a Ruach HaKodesh vos constituiu supervisores, para apascentardes a Kehilá de Elohim, que Ele adquiriu com seu próprio sangue. Eu sei que depois da minha partida entrarão no meio de vós lobos cruéis que não terão pena do rebanho, e que dentre vós mesmos se levantarão homens, falando coisas perversas para desviar os talmidim, para que os sigam. “ (Atos 20:28-30) Paulo parece indicar que após sua morte, líderes começariam a se levantar dentre os supervisores [bispos] em seu lugar, e levariam pessoas a os seguirem e a se afastarem da Torá. Na realidade, Paulo morreu em 66 DC e o primeiro supervisor (bispo) de Antioquia a tomar o cargo após a sua morte foi Inácio, em 98 DC. Inácio cumpriu com precisão as palavras de Paulo. Depois de tomar o cargo de bispo sobre Antioquia, Inácio enviou uma série de epístolas a outras congregações. Suas cartas aos efésios, magnésios, trálios, romanos, filadelfenos, e esmirneus, bem como sua carta pessoal a Policarpo, todas sobrevivem até hoje.

HEGÉSIPO RECONTA A APOSTASIA


O historiador e comentador nazareno antigo Hegésipo (cerca de 180DC) escreve acerca do tempo imediatamente após a morte de Shimon (Simão), o qual havia sucedido a Ya’akov HaTsadik (Tiago, o Justo) como Nassi ( “ Presidente “ ) do Sanhedrin Nazareno, e que morreu em 98 DC: ”Até aquele período (98 DC), a Assembléia havia permanecido como uma virgem pura e incorrompida: pois, se havia quaisquer pessoas dispostas a alterar a regra completa da proclamação da salvação, elas ainda vagavam em um lugar obscuro oculto ou outro. Mas, quando o bando sagrado de Emissários havia de várias formas findado suas vidas, e a geração dos homens havia sido confiado ouvir à Sabedoria inspirada com seus próprios ouvidos passou, então a confederação do erro da iniquidade tomou ascenção através da infidelidade dos falsos mestres que, vendo que nenhum dos emissários ainda sobrevivia, levantaram suas cabeças para se opor à proclamação da verdade, proclamando algo falsamente chamado de conhecimento.” (Hegésipo, o Nazareno; c. 98 DC; citado por Eusébio em Hist. Ecl. 3:32) Hegésipo indica que a apostasia começou no mesmo ano que Inácio se tornou bispo de Antioquia!

INÁCIO SEPARA -SE DO CONCÍLIO DE JERUSALÉM


Até o tempo de Inácio, qualquer disputa que surgisse em Antioquia por fim era levada ao Concílio de Jerusalém (tal como em Atos 14:26-15:2). Inácio usurpou a autoridade do Concílio de Jerusalém, declarando a si mesmo, o bispo local, como sendo a autoridade final sobre a assembléia que o havia feito bispo, e semelhantemente declarando isto ser verdade acerca de todos os outros bispos e suas assembléias locais. Inácio escreve:
“...sujeitando-se ao seu bispo... .
..andem juntos conforme a vontade de D-us.
Jesus... é enviado pela vontade do Pai; Assim como os bispos... são [enviados] pela vontade de Jesus Cristo.”] (Carta de Inácio aos Ef. 1:9,11)
“...seu bispo... penso que felizes são vocês que se unem a ele, assim como a igreja o é a Jesus Cristo e Jesus Cristo o é ao Pai... Vamos portanto cuidar para que não nos coloquemos contra o bispo, para que nos sujeitemos a D-us. Devemos olhar para o bispo tal como olharíamos para o próprio S-nhor.” (Carta de Inácio aos Ef. 2:1-4)

“...obedeça ao seu bispo...” (Carta de Inácio aos Mag. 1:7) “Seu bispo está presidindo no lugar de D-us... .
..unam-se ao seu bispo...” (Carta de Inácio aos Mag. 2:5,7)

“...aquele...que faz qualquer coisa sem o bispo... não é puro em sua consciência...” (Carta de Inácio aos Tral. 2:5) “...Não faça nada sem o bispo.” (Carta de Inácio aos Fil. 2:14) “Cuidem para que vocês sigam o seu bispo, Assim como Jesus Cristo ao Pai...” (Carta de Inácio aos Esm. 3:1) Ao exaltar o poder do ofício do bispo (supervisor) e exigir a absoluta autoridade do bispo sobre a assembléia, Inácio estava na realidade fazendo uma jogada para obter o poder, tomando a autoridade absoluta sobre a assembléia de Antioquia e encorajando outros supervisores não-judeus a fazerem o mesmo.

INÁCIO DECLARA QUE A TORÁ FOI ABOLIDA

Além disso, Inácio afastou os homens da Torá e declarou que a Torá havia sido abolida, não somente em Antioquia, mas em todas as assembléias de não-judeus para as quais escreveu: “Não sejam enganados por doutrinas estranhas; nem por fábulas antigas sem valor. Pois se continuarmos a viver conforme a Lei Judaica, estamos confessando que não recebemos a graça...”

(Carta de Inácio aos Mag. 3:1) “Mas se alguém pregar a Lei Judaica a vocês, não lhe dêem ouvidos...” (Carta de Inácio aos Fil. 2:6)

INÁCIO SUBSTITUI O SHABAT PELA ADORAÇÃO DOMINICAL

Foi Inácio quem primeiro substituiu o Shabat do sétimo dia pela adoração dominical, escrevendo: “...não mais observem os Shabatot, mas observem o dia do Senhor, no qual também a nossa vida floresce nEle, através da Sua morte...” (Carta de Inácio aos Mag. 3:3)

INÁCIO DÁ UM NOME À SUA NOVA RELIGIÃO

Tendo usurpado a autoridade de Jerusalém, declarado a Torá abolida, e substituído o Shabat pelo domingo, Inácio criou uma nova religião. Inácio então cunha um novo termo, nunca antes utilizado, para essa nova religião que ele chama de “Cristianismo”, a qual ele mesmo deixa claro que é distinta do Judaismo. Ele escreve: “vamos portanto aprender a viver conforme as regras do Cristianismo, pois quem quer que seja chamado por qualquer outro nome além desse, esse não é de D-us... “É absurdo nomear Jesus Cristo e Judaizar. Pois a religião cristã não abraçou a judaica. Mas a judaica [abraçou] a cristã...” (Carta de Inácio aos Mag. 3:8,11)

CONCLUSÃO


Ao final do primeiro século, Inácio de Antioquia havia cumprido o alerta de Paulo. Ele abandonou o Judaismo e fundou uma nova religião a qual chamou de “Cristianismo.” Uma religião que rejeitou a Torá, e substituiu o Shabat do sétimo dia pela adoração dominical.
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